Lula adota ‘estratégia Chicó’ para explicar BNDES
Durante a live mais recente do Conversa com o Presidente, Lula voltou a defender ações controversas dos mandatos anteriores e resolveu destacar o papel do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Ao lado do atual presidente do banco, Aloizio Mercadante, que só está lá graças a liminar do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski, Lula disse que o “cidadão que governava o país, passou quatro anos levantando suspeita contra o BNDES” sem encontrar nada — o que significa, de acordo com o petista, que não há nada contra as políticas do banco levadas à cabo no início dos anos 2000.
O presidente confia na falta de memória da população brasileira para tentar reconstruir a realidade à revelia dos fatos. Afinal, não seria um indício de equívoco da política do banco À época os calotes de Cuba, Venezuela e Moçambique? Ora, dívidas inadimplentes de regimes amigos que ultrapassam 1 bilhão de dólares não apontariam uma leve inadequação da estratégia?
O governo Lula parece acreditar que não, e busca novamente autorização para investimento em obras em terras estrangeiras via BNDES. Na terça-feira passada, 28 de novembro, enviou ao Congresso Nacional o PL (Projeto de Lei) PL 5.719/2023, que permite que o banco volte a financiar atividades produtivas de empresas brasileiras no exterior e possa constituir subsidiárias integrais ou controladas “nos moldes das melhores práticas internacionais”, diz o texto.
Mais uma tentativa de voltar no tempo, à era dos campeões nacionais. Quando em nome do fomento e apoio às empresas brasileiras, a instituição financeira passou a financiar companhias como a Oi — atualmente no segundo processo de recuperação judicial, e a OGX — empresa de Eike Batista que também enfrentou recuperação judicial, mudou de nome e acabou absorvida por outra petroleira neste ano.
Se o auxílio à incompetência corporativa não fosse suficiente, boa parte das empresas “selecionadas” para a concessão de crédito subsidiado pelo BNDES se envolveu em atos de corrupção, como restou comprovado pela Operação Lava Jato. Odebrecht, J&F, Andrade Gutierrez, EBX (holding que controlava a OGX), Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, OAS, Camargo Corrêa e outras foram investigadas e, posteriormente, condenadas.
Hão de dizer que não há problema, pois potenciais prejuízos são ressarcidos com dinheiro do FPE (Fundo de Garantia à Exportação), gerido pelo BNDES desde 2003. Argumento tão bom quanto o “quem paga o imposto é a empresa”.
Efeitos da inadequação dessa visão de mundo afundam neste momento em Maceió, onde as principais acionistas da Braskem – Petrobras (a estatal que luta para afrouxar a governança desde o início do ano e permitir mais ingerência política) e Novonor (ex-Odebrecht) — são cobradas a ressarcir a sociedade por danos causados ao meio ambiente e às famílias da região.
Como explicar que após resultados tão notadamente ruins, o governo se empenhe em repetir os erros do passado fazendo parecer que não aconteceram? Como diria Chicó, personagem de O Auto da Compadecida, “não sei, só sei que foi assim”.