Loucura ou esperança? Tricolor vai uniformizado para Flamengo x Vasco e mostra que rivais podem viver em harmonia
Com a camisa do Fluminense, Ivan chama atenção na arquibancada no duelo entre Flamengo e Vasco. Jogo parou em Manaus por falta de segurança no Rio de Janeiro para organizar a partida com as duas torcidas
Em um momento em que os órgãos públicos do Rio de Janeiro não conseguem organizar uma simples partida de basquete com torcidas de Vasco e Flamengo por motivos de segurança, uma imagem chamou a atenção em Manaus. Ivan Cardoso, 55 anos, ex-jogador de basquete em clubes de Manaus, é tricolor doente. Com saudade dos velhos tempos, não teve dúvidas: colocou a camisa do Fluminense e, sem medo, partiu para o ginásio. Ele assistiu ao clássico bem perto da quadra, junto com torcedores do Flamengo. Uma cena que deveria ser normal, mas que pode parecer estranha e arriscada em tempos em que torcedores rivais parecem não conviver em harmonia.
– Não piso numa quadra tem quase 30 anos, sinto falta. Vim com a camisa do Fluminense porque queria que fosse o Fluminense jogando. Lamento que meu time não esteja nesse nível no NBB. Acho que meu time tinha condições de estar aqui, até pela torcida que tem – comenta o fã incondicional, que só queria assistir a uma boa partida de basquete.
O Fluminense acabou de ganhar a Taça Guanabara contra o Flamengo e poderia parecer provocação. Será? Julgar Ivan é ter a convicção de que no Brasil não se pode levar o esporte na esportiva em hipótese alguma. E, de um certo modo, dá mais um argumento para quem apoia um Flamengo x Vasco de portões fechados em uma arena olímpica, como no primeiro turno do NBB. Ou com torcida única como aconteceu nos quatro duelos no Campeonato Carioca. Ou a torcida única em estádios de futebol.
Cercado de torcedores do Flamengo e de costas para a do Vasco, durante o jogo Ivan só foi incomodado por câmeras. Pediu inclusive uma foto por email, já que estava sem celular. Um romântico de um tempo sem selfies e sem mortes em estádios.
– Aqui em Manaus é tranquilo, não tem isso de briga – sorriu ao entrar na arena.
Um equívoco. Logo depois da declaração, a torcida do Vasco entrou na arena com gritos de guerra. A organizada do Flamengo respondeu chamando para a briga. Ato contínuo, os dois lados correram para a batalha, que só não aconteceu por intervenção da polícia. E olha que o lado vascaíno estava isolado. Familiares com camisas dos dois clubes eram obrigados a se separar logo na entrada. Uma cena triste, mas que está mais perto da realidade atual nos estádios e ginásios brasileiros.
Mesmo assim, Ivan defende a cultura de torcidas rivais presentes nos jogos. Desde que o Vasco retornou para a elite do basquete nacional, só houve jogo com torcedores rubro-negros e cruz-maltinos fora do Rio de Janeiro (além de Manaus, Fortaleza recebeu um torneio amistoso). O Rio de Janeiro segue sem ter um clássico entre os dois clubes com ambas as torcidas. Foram quatro oportunidades no Campeonato Carioca. E duas agora no NBB.
– Esporte é um caminho de integração. Quem precisa ser punido são os que brigam. Não se pode punir o jogo – resume Ivan, que também é advogado. Defensor do direito básico de ver um clássico.