Jornal Nacional: Queiroga toma posse no Ministério da Saúde em cerimônia a portas fechadas

Jornal Nacional: Queiroga toma posse no Ministério da Saúde em cerimônia a portas fechadas

A pressão política para acabar com a indefinição à frente do ministério foi tanta que o presidente Bolsonaro fez uma cerimônia às pressas. O governo reduziu, de novo, a previsão de doses de vacina contra Covid

Pela sexta vez, os brasileiros receberam a notícia oficial do governo de que terão menos vacinas disponíveis do que previa o cronograma anterior. Quase dez milhões de doses a menos, em abril. E, depois de oito dias desde o anúncio de que seria o novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga tomou posse, numa cerimônia fora da agenda e longe da imprensa.

A pressão política para acabar com a indefinição à frente do ministério foi tamanha que o presidente Jair Bolsonaro fez uma cerimônia às pressas. Foi um ato a portas fechadas, nem apareceu na agenda do presidente, e só foi oficializado horas depois, quando saiu a nomeação em edição extra do Diário Oficial.

Os estados estão pedindo socorro. Ao saudar o novo ministro, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde reforçou que o combate à pandemia tem que ser amparado na ciência e lembrou que tem “alertado reiteradas vezes sobre os perigos da ausência de uma condução unificada e coerente de combate à pandemia. As consequências são sentidas nos hospitais lotados, nas filas de atendimento, no luto de um número crescente de famílias”.

Em nota ao presidente Bolsonaro, a Confederação Nacional dos Municípios também chamou a atenção para a necessidade de enfrentamento da pandemia com base na ciência e fez um apelo para que “o presidente da República assuma, de forma inadiável, seu dever de coordenar a nação, respeitando a população, a ciência e a comunidade internacional com a humanidade e a empatia exigidas de um chefe de Estado”.

Prefeitos e governadores reforçam a necessidade de vacinas. Mas, pela sexta vez, o ministério mudou a previsão total de doses que serão entregues. O cronograma oficial na plataforma Localiza SUS prevê ainda para março, que termina semana que vem, oito milhões da vacina Covaxin, que ainda não tem autorização da Anvisa, e para abril, reduz em quase dez milhões a expectativa de doses – saíram da planilha um milhão de doses da Pfizer e outros 8,8 milhões da Oxford produzidas pela Fiocruz.

Sem vacinas, os hospitais estão cada vez mais lotados. O ministério se reuniu com o grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República que monitora a crise na saúde e apresentou um mapa sobre os estoques de oxigênio no país. Segundo o ministério: sete estados estão em alerta e em outros seis a situação é crítica – Acre, Rondônia, Mato Grosso, Amapá, Ceará e Rio Grande do Norte.

Além da falta de oxigênio, estados e municípios vêm alertando para falta de medicamentos para intubação.

Na semana passada, o governo anunciou uma requisição administrativa de todos os estoques dos laboratórios. O assunto foi tema de uma reunião, nesta terça na Anvisa com representantes da indústria, dos hospitais e secretários de Saúde.

As farmacêuticas disseram que a requisição impacta no planejamento de produção e distribuição e que pode faltar remédios na rede privada. A mesma reclamação foi repetida na Câmara, em uma audiência com deputados.

“A partir do momento que há uma requisição administrativa sem olhar o todo do Brasil, vamos ter problemas seríssimos, porque vai vestir um santo e despir vários outros. Então nós temos que tomar muito cuidado em relação a isso. Nós precisamos ter o Ministério da Saúde muito consciente. Não adianta o Ministério da Saúde ficar fazendo requisições administrativas dentro das empresas. Ele vai retirar produtos das empresas e as empresas não vão conseguir fornecer a outros entes, quer dos estados e municípios, quer do setor privado”, comentou Nelson Mussolini, presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma).

Secretários de Saúde estaduais e municipais reforçaram que, sem a requisição, os hospitais públicos não terão como atender os pacientes.

“As medidas de requisição administrativa não são as que nós queremos que ocorram, mas são as que, de forma imediata, colocam medicamento na ponta, em respeitados os contratos dos entes, quer públicos, quer privados. Estão sendo respeitados. É importante que se diga isso, não está limpando tudo o que tem em detrimento dos contratos existentes, públicos ou privados”, disse Mauro Junqueira, diretor do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

O Ministério da Saúde, que é responsável por mediar o abastecimento de forma global, também foi convidado para participar da audiência, mas não mandou representante.

Ao mesmo tempo que faltam vacinas, oxigênio hospitalar, medicamentos essenciais para o enfrentamento da pandemia, sobra estoque de remédios sem comprovação científica, indicados e distribuídos pelo governo. A Associação Médica Brasileira, que em julho de 2020 chegou a defender “autonomia do médico” ao receitar esses medicamentos, agora adotou uma posição mais firme.

Num boletim, divulgado nesta terça (23), condenou o uso de remédios sem eficácia comprovada contra a Covid: “Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da Covid-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”.

O boletim diz ainda: “Faltam medicamentos para intubação de pacientes acometidos pela Covid-19, não existe um calendário consistente de vacinação, não há leitos em unidades de terapia intensiva. Fake news desorientam pacientes. Médicos e profissionais de saúde, exaustos, já são em número insuficiente em diversas regiões do país”.

Por fim, a AMB cita 13 pontos para enfrentamento da pandemia, entre eles, ações para solucionar a falta de medicamentos, isolamento social, uso de máscaras e a necessidade de acelerar a vacinação.

Sobre a queda no número de vacinas previstas para abril, o Ministério da Saúde declarou que não é o responsável pela redução e que monta o cronograma com base no quantitativo previsto e enviado pelos fabricantes.

E o cronograma de vacinas para abril deve sofrer ainda uma nova redução. Na noite desta terça, a Fiocruz informou que não vai entregar todos os 21 milhões de doses que estavam previstos. A redução deve ser de dois milhões de doses, segundo a fundação, por causa da complexidade da produção.


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