JOGO ABERTO: 02/11/2017
O Brasil tem que mudar.
O Brasil é, realmente, um país muito diferente de qualquer outro. Não basta que Deus seja brasileiro, como já está provado que é. Vivemos em boa parte de nosso território, de dimensões continentais, com estações bem-definidas, clima ameno, e, quando não o é, como ocorre no extremo sul e no Nordeste, tais variações são previsíveis e toleráveis pelas populações de cada região. Riquezas minerais inestimáveis, ausência de fenômenos naturais que gerem grandes impactos, terras férteis, população falando a mesma língua, sem ocorrência de guerras religiosas. Um litoral extenso, aonde chega a água dos rios mais importantes do continente, depois de banharem longas extensões de terra.
Entretanto, nem tudo são flores; temos atuantes 36 partidos políticos, absolutamente iguais em seus programas (ou na falta deles), que brigam de mentirinha e convivem num Legislativo desmoralizado, insosso, monótono, formado por bandos que disputam as fatias a que foi reduzido o Orçamento público, os recursos do Tesouro Nacional e uma bem-azeitada fábrica de leis por encomenda. É o que assistimos nas delações premiadas da horda de bandidos presos pela operação Lava Jato, da JBS principalmente, e tantas outras com as quais a Polícia Federal desperta corruptos e corruptores nas primeiras horas da manhã de todas as semanas. Felizmente desperta, algema e leva. Mas não é o suficiente; parece que já não mais metem medo tais ações, ao vermos o desfile de malas e mochilas recheadas de dinheiro para comprar votos, pareceres, relatórios, apartamento da mamãe, sentenças, denúncias, pedidos de arquivamento de tudo que, fora dos arquivos, incomoda.
Somos um povo que trabalha, que paga impostos absurdos, que tenta produzir apesar de todos os desalentos e tropeços, que vive alarmado pela implacável violência do tráfico e de uma polícia que não dispõe de recursos materiais e de inteligência para reprimir crescente criminalidade. Temos um dos piores índices de avaliação da educação no mundo, uma precaríssima oferta de saneamento básico e de saúde pública, além do desemprego, que humilha e destrói cidadãos. Mas estamos, há meses, anos, décadas, mobilizados em sucessivos penduricalhos.
Há meses o Poder Judiciário tem-se ocupado da discussão sobre se é crime ou não o ex-presidente Lula usar um apartamento vizinho ao seu, cujo aluguel fora pago por sua falecida esposa com recibos falsos, ou se o sítio de Atibaia pertence ou não a amigos, ou se ele, Lula, e sua finada esposa visitaram um triplex, durante os meses em que estava sendo reformado porque eram seus donos ou apenas para verem, ambos, como se reforma um apê. Se é crime ou não fiéis amigos do presidente em exercício guardarem em um apartamento vazio de Salvador R$ 51 milhões em espécie, com impressões digitais e outras formas de provas irrefutáveis, sem que se esclareça a propriedade de tal fortuna, sua origem e que destino a aguardava. Se o senador Aécio Neves faltou com honestidade e decoro ao receber R$ 2 milhões em dinheiro do pródigo Joesley Batista, alegando tratar-se de um empréstimo sem documentos para custear o patrocínio de advogados contratados para sua defesa.
Estamos, no que é essencial, na mais completa mixórdia. Que se acelerem as ações da PF, do Judiciário, que se prendam os culpados, instalem-se as tornozeleiras, que o Legislativo trabalhe como deveria. A vida tem que andar.
Fonte: Por Marco Aurelio