Integrantes da tríplice da PGR falam sobre Lava Jato e temas polêmicos
Escolhidos entre os membros do Ministério Público Federal para compor a lista tríplice para a PGR (Procuradoria-Geral da República), os procuradores Mario Bonsaglia, Luiza Frischeisen e Blal Dalloul falaram à reportagem sobre suas prioridades para o órgão, como vão lidar com a Lava Jato e com temas de potencial conflito com o governo, como índios e meio ambiente.
Bonsaglia teve 478 votos na eleição interna realizada nesta terça (18), seguido por Frischeisen, com 423, e Dalloul, com 422.
O primeiro colocado é considerado experiente na área criminal e figura na lista tríplice pela terceira vez.Frischeisen coordena a câmara criminal do MPF e tem a simpatia de integrantes da Lava Jato nos estados. Dalloul foi secretário-geral, cargo importante no MPF, na gestão de Rodrigo Janot.A lista tríplice será enviada ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), a quem cabe escolher um nome para suceder a Raquel Dodge na PGR. O mandato dela termina em 17 de setembro. Bolsonaro disse que pode indicar tanto alguém da lista como de fora dela.
Pergunta – Qual será sua prioridade no cargo?
Bonsaglia – Renovar as práticas políticas internas e buscar a união e o fortalecimento da carreira. Modernizar a gestão administrativa, enxugando-se gastos atuais, para investir em tecnologia da informação e em estruturas de investigação e periciais, com vistas a tornar mais eficiente o combate à macrocriminalidade (corrupção, sonegação fiscal etc) e a proteção dos direitos difusos e coletivos.
Frischeisen – As prioridades são ligadas à afirmação do sistema acusatório no STF, o papel do MPF na cooperação internacional e também a nossa participação no Supremo na afirmação das políticas públicas dos direitos sociais e dos grupos vulneráveis.
Dalloul – Manter nosso trabalho nas duas esferas: combate ao crime organizado, isso inclui o combate à corrupção, e questões da segurança pública que preocupam o Ministério Público e que acho que temos que voltar a ter certo protagonismo. Moro no Rio de Janeiro e vejo isso de perto, o Rio é vítima de uma política de fronteira. Temos que controlar tráfico de entorpecentes, de armas.
Pergunta – Como vai lidar com a Lava Jato?
Bonsaglia – Se escolhido procurador-geral, conduzirei os feitos de forma firme e serena, com a experiência de 28 anos na área criminal, como procurador da República, procurador-regional da República e subprocurador-geral da República. Sempre com respeito às instituições e à Constituição.
Frischeisen – Não temos uma Lava Jato, temos várias: Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo, aqui no gabinete da PGR, uma parte no Rio Grande do Norte, outra parte descendo para a Procuradora no Distrito Federal. O que é importante é a maneira das investigações e das colaborações e o apoio aos colegas com [a disponibilização de] servidores.
Dalloul – É um trabalho geral de combate à corrupção. Enquanto tiver demanda, temos que seguir trabalhando, o MPF não pode dizer ‘vamos parar agora’. Tivemos essas questões agora [conversas entre procuradores e o ex-juiz Sergio Moro], eu vejo isso tranquilamente, confio muito no trabalho dos colegas, é um trabalho intenso e sério. A Lava Jato ainda tem muito a contribuir. Pretendo inclusive aprimorar, ter mais unidade no grupo de trabalho que a PGR tem.
Pergunta – Como vai lidar com temas como direitos indígenas e meio ambiente?
Bonsaglia – Zelar pelo cumprimento da legislação, dialogando sempre em busca de uma solução que respeite as escolhas legítimas dos cidadãos, empresas e administradores públicos.
Frischeisen – A nossa atuação se dá na forma da Constituição, das leis e dos tratados. Quando estamos no STF, vamos oficiar nas ações diretas de inconstitucionalidade, nos recursos extraordinários, e esses processos já têm toda uma construção sobre os temas nas nossas câmaras de coordenação. Vou atuar como sempre atuei, de forma técnica, coerente e orgânica junto com os colegas das diversas instâncias.
Dalloul – Eu vejo como diálogo. Sabemos que talvez o MPF tenha algumas posições que podem ir de encontro a algumas medidas que estão sendo adotadas. Tudo se resolve com diálogo. Em Mato Grosso do Sul temos experiência forte com a questão indígena e procurávamos dialogar com o governo do estado. Temos que trabalhar conforme a Constituição determina. Tenho esperança de que todos tenhamos o mesmo propósito, um mundo melhor. Se tivermos colisão de direitos, temos que mensurar e cada um faz o seu papel.
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