Incêndio atingiu Parque Guajará-Mirim há um mês e já destruiu área de quase 50 mil campos de futebol
O Parque Guajará-Mirim, uma das maiores unidades de conservação de Rondônia, está em chamas há mais de um mês. Dados do Painel do Fogo apontam que o fogo já atingiu uma área de quase 50 mil campos de futebol, equivalente a aproximadamente 22% de toda a área do parque.
Os incêndios são investigados pela Polícia Ambiental, mas a principal suspeita é que se trata de ação criminosa. Garrafas de combustível foram encontradas por agentes próximos aos focos de incêndio, além de “armadilhas” espalhadas pelo parque.
O Parque Guajará-Mirim tem mais de 200 mil hectares e é responsabilidade do governo de Rondônia, por se tratar de uma unidade de conservação estadual.
De acordo com o painel do foco, existem cerca de 12 pontos onde os focos de incêndio estão concentrados. Agentes do Ibama atuam no combate às chamadas há mais de um mês e apontam como dificuldade o baixo efetivo e falta de apoio aéreo.
Focos de incêndio no Parque Guajará-Mirim — Foto: Painel do Fogo
“A gente é com um efeito pequeno, com poucas pessoas para trabalhar porque a queimada no Brasil inteiro é grande. Nossa equipe dá o sangue e faz o seu melhor para poder combater as chamas”, aponta Luiz Machado, agente do PrevFogo.
O Prevfogo informou ao g1 que foi acionado para combate ao incêndio no dia 12 de julho, mas que o incêndio foi identificado no dia 11. Seis dias depois, no dia 18 de julho, uma equipe se deslocou para atuar no local.
De acordo com o agente, chegar até áreas com fogo é um desafio porque existem muitos empecilhos pelo caminho, como árvores derrubadas. Além disso, alguns focos ficam situados em áreas isoladas da floresta, onde não é possível chegar por meio terrestre.
“Seria muito bom apoio aéreo tanto para deslocar como no combate para jogar água. Nós temos espaço para montar uma piscina, temos um igarapé para poder mandar água”, aponta.
Brigadistas participaram no Parque Estadual Guajará-Mirim — Foto: Prevfogo/Divulgação
O governo de Rondônia aponta que, até a semana passada, havia 16 profissionais do corpo de bombeiros para estar à frente do incêndio, mais 10 servidores apoiando de uma maneira direta, além de 12 servidores do PrevFogo (Ibama) trabalhando.
Documentos que og1teve acesso a show que até segunda-feira (19), existiam o total de 33 pessoas participantes no combate às chamas, divididas da seguinte forma:
- Ibama: 10
- Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sedam): 7
- Batalhão de Polícia Ambiental: 8
- Bombeiro Militar: 6
Todos os recursos que os agentes possuem para combate ao fogo são terrestres, entre motocicletas, veículos e máquinas.
Sobre o apoio aéreo, a Sedam informou ao g1 que “fez tratativas” para que o Núcleo de Operações Aéreas (NOA), da Secretaria de Estado da Segurança, Defesa e Cidadania (Sesdec) fosse enviada ao local, mas que “devido ao mau tempo, a trafegabilidade que não é possível ter uma visão perfeita, o pessoal da NOA não pode estar atendendo” o pedido.
Incêndio Criminoso
Garrafas de combustível foram encontradas pelos agentes próximos aos focos de incêndio, além de “armadilhas” espalhadas pelo parque, apontando que os incêndios são criminosos. “Pegadas” descobertas nas áreas próximas também indicam a presença de terceiros no local.
Garrafa encontrada próximo aos focos de incêndio no Parque Guajará-Mirim — Foto: Divulgação
Segundo o promotor de justiça do Ministério Público de Rondônia (MP-RO), Pablo Hernandez Viscardi, esses acusados apontam para uma suspeita de que os incêndios causados no Parque foram causados como retaliações às fiscalizações ambientais, sobretudo as graves causadas na Operação Mapinguari.
Os agentes de fiscalização e brigadistas que se deslocaram até o Parque para combater as chamas enfrentaram obstáculos pelo caminho: árvores derrubadas, pedaços de madeira com pregos desenvolvidos para furar pneus de veículos, além de outras “armadilhas”.
Por que as chamadas continuam?
De acordo com César Guimarães, superintendente do Ibama, um dos principais problemas no combate às chamas dentro do Parque Guajará-Mirim é a reinição: a reativação de incêndio já destruído e extinto.
“Além de fazer o combate às chamas, temos o rescaldo e se ele não for feito da forma adequada, você tem uma reinição desse material. A reinição dos focos que praticamente dobrou a área queimada e, obviamente, um material muito mais denso gera uma quantidade muito grande de fumaça que está se acumulando no centro urbano”, explica.
Porto Velho segue descoberto por fumaças há semanas e registrando diariamente os piores índices de qualidade do ar do Brasil. Um dos principais poluentes da capital de Rondônia é o PM2,5, uma partícula inalável ultrafina que é mais difícil de ser eliminada no organismo. Essa partícula é resultante, sobretudo, de fumaça de incêndio ou de queima de combustíveis fósseis.
Fumaça encobre céu de Porto Velho — Foto: Tiago Frota/Rede Amazônica
Guimarães aponta que uma das principais preocupações dos órgãos ambientais é que o estado de Rondônia ainda não chegou no mês em que historicamente ocorreram as maiores quantidades de queimadas: setembro.
“Historicamente o mês em que o número de focos de calor acontece é em setembro, que é quando está se preparando um terreno para fazer o plantio. Nós estamos na primeira quinzena de agosto e já queimamos praticamente o que foi queimado o ano passado inteiro”, comenta.
Em meio a um período de seca extrema, Rondônia bateu recordes de focos de queimadas: o mês de julho foi o pior em quase duas décadas, segundo dados do Programa de BDQueimadas.
O Parque Estadual de Guajará-Mirim é uma unidade de proteção integral, com aproximadamente 220 mil hectares, localizada na zona rural de Nova Mamoré. A UC foi criada há mais de 30 anos, através do Decreto Nº 4.575, de 23 de março de 1990.
Ao longo dos anos, a região vem sofrendo devastação em decorrência da permanência de invasores no local. Os crimes mais recorrentes são exclusão ilegal de madeira, desmatamento, incêndio, pastagem, caça e pesca ilegal e grilagem de terras.
Para entender a importância da preservação do Parque, cabe ter conhecimento de que dentro da unidade existem espécies, seja da flora ou da fauna, que são ameaçadas de extinção, quase ameaçadas ou diversas vulneráveis.
G1