Igarapé seco e causa morte de bolsas de peixes durante estiagem severa em Rondônia
Com a seca severa a estimativa que afeta a Amazônia, um Igarapé localizado na comunidade ribeirinha Maravilha seca, causando a morte de ofertas de peixes e dificultando o acesso à água para os moradores da região.
“[O igarapé] Secou pra gente que é humana, para os peixes e pros bichos. Pássaro, capivara, macaco: tudo vai beber água no igarapé e aí como está seco eles estão sofrendo do mesmo jeito que a gente está sofrendo”, relata Conceição, que mora próximo ao Igarapé.
O mesmo local que Conceição e a família usavam para atividades diárias e momentos de diversão, como banhos, se tornou em um cenário devastador: um cemitério de peixes.
Peixes morrem em igarapé seco em Porto Velho — Foto: Edson Gabriel/Rede Amazônica
“A minha ocorrência foi de tristeza, de muita tristeza, de ver eles morrendo e eu não tenho o que fazer pra salvá-los”, relembra.
Segundo a Defesa Civil Municipal, situações como essa ocorrem na região de Maravilha e em diversas outras comunidades ribeirinhas, lagos e igarapés de Rondônia. A tendência é que a situação seja piore, já que os meses historicamente mais secos ainda não chegaram.
“O que está acontecendo? Falta de oxigênio na água, temperatura muito alta e eles não sobreviveram.Isso não é só aqui, em outras regiões e vai acontecer mais ainda porque o rio Madeira continua baixando”, revela Anderson Luiz, gerente de operações da Defesa Civil.
Isolados e sem água
Igarapé Maravilha antes e depois da seca — Foto: Arquivo Pessoal
Sem acesso à água encanada e sem poços amazônicos,moradores de Maravilha dependem da água do igarapé e de um lago para as atividades mais básicas:cozinhar, lavar roupa e louça e se banhar. Coisas simples que se tornam praticamente impossíveis de serem feitas.
“Eu moro aqui na beira desse lago há 45 anos e eu nunca tinha visto essa situação que nós estamos vivendo agora [de seca]. É muito complicado expressar o sentimento não só meu, como de toda a população ribeirinha que depende desse lago”, relata Cláudio Uchoa.
Cláudio Uchoa — Foto: Rede Amazônica
De acordo com os relatos dos moradores,o Igarapé secou totalmente em menos de um mês.O medo deles é que o lago, agora única fonte de água, seque também, causando a morte das espécies que nele vivem e desabastecendo as 400 famílias que vivem no local.
“Essa água a gente usa pra tudo. E como a gente vai ficar se não tiver essa água?”, questiona Cláudio.
Sem boas dicas
Porto Velhoestá há três meses sem chuvas sérias.A última edição com um volume específico foi em 25 de maio.
Em um período de estimativa extremo, todos os rios e afluentes de Rondônia são afetados. O rio Madeira bateu recordes de mínimos históricos: julho e julho foram os últimos meses em quase 60 anos. Na maior parte do ano o rio se manteve abaixo da zona de normalidade e por várias vezes ultrapassou os mínimos já observados historicamente.
Seca rio Madeira 2024 — Foto: Rede Amazônica
Em 2023, a estimativa também atingiu mínimos históricos para a Madeira. O rio desceu para níveis críticos, até chegar à cota de 1,09 metro: o menor nível da história. O registro aconteceu no dia 5 de novembro, às 4h.
Segundo o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), os níveis baixos são registrados por dois motivos: o período de cheia que ocorre regularmente foi muito abaixo da média, dificultando a manutenção das cotas dos rios quando chegou uma seca severa e antecipada.
“O que o Censipam tem alertado desde o ano passado é que essa estimativa se absteria pela Amazônia legal e o que a gente tem percebido em relação à hidrologia, ao fogo, tudo isso se antecipou em um mês. As correções são da manutenção desse quadro geral de estiagem severa”, revela Caê Moura, gerente do Censipam.
G1