Hillary x Trump: compare as ideias e propostas dos candidatos
Democrata e republicano já têm delegados suficientes para nomeação.
Convenções em julho devem consagrá-los; veja o que defendem.
Após a realização da última “Super Terça” das prévias presidenciais americanas, Hillary Clinton e Donald Trump se consolidaram como os presumíveis candidatos na eleição de novembro — ambos têm delegados suficientes para vencer as convenções nacionais de seus partidos, o Democrata e o Republicano, respectivamente, que ocorrem na segunda semana de julho, quando devem consagrar oficialmente como candidatos.
Veja abaixo as principais ideias e propostas de cada um em áreas estratégicas:
Trump
Donald Trump tem 69 anos e nasceu em Nova York, filho de um milionário. Casou-se pela primeira vez em 1977, com a modelo tcheca Ivana Zelníčková, com quem tem três filhos, e pela segunda vez em 1993, com a atriz Marla Maples, com quem tem uma filha. Em 2011, se casou com sua atual mulher, a ex-modelo eslovena Melania Knauss, com quem tem um filho de 9 anos. Tem sete netos.
Trump gosta de dizer que começou seus negócios modestamente, com “um pequeno empréstimo de US$ 1 milhão” de seu pai. Dono de hotéis, cassinos e campos de golfe, detém os direitos dos concursos Miss USA e Miss Universo. Ficou ainda mais conhecido após apresentar o reality show “The Apprentice”.
Apesar de afirmar ter US$ 10 bilhões, sua fortuna foi estimada em US$ 4,5 bilhões pela Forbes. Decretou falência de quatro empresas entre 1991 e 2009. Nunca ocupou um cargo público, mas o sonho da presidência é antigo: cogitou concorrer em 1988, 2004 e 2012. Em 2014, o Partido Republicano sugeriu que concorresse ao governo de Nova York, mas Trump disse que o cargo não lhe interessava.
Hillary
Hillary Clinton tem 68 anos e nasceu em Chicago. Casada com o ex-presidente dos EUA Bill Clinton desde 1975, tem uma filha, Chelsea, de 35 anos, e uma neta, Charlotte, de 16 meses. Seu segundo neto nasce este ano, antes da eleição presidencial.
Após oito anos como primeira-dama (1993 a 2001), Hillary pode voltar à Casa Branca como primeira mulher presidente dos EUA. Foi senadora pelo estado de Nova York (2001 a 2009) e secretária de Estado do governo Barack Obama (2009 a 2013).
Sua primeira tentativa de chegar à presidência aconteceu há oito anos, quando foi derrotada nas primárias por Obama. Já foi uma das advogadas mais influentes dos EUA e tem histórico de defesa dos direitos das mulheres e crianças, tendo atuado na Clinton Foundation por dois anos.
Trump
Em um longo discurso sobre o assunto, Trump deixou claro que os EUA estarão sempre em primeiro lugar, mesmo que para isso precise sacrificar os interesses de seus aliados mais próximos. Ele reclamou que os “amigos” estão dependentes demais dos EUA e que os rivais não mais respeitam ou se sentem ameaçados pelo país.
O candidato disse que pretende modernizar o arsenal nuclear e ampliar o poder militar americano, e prometeu buscar uma convivência pacífica com países como China e Rússia, mas garantiu que irá traçar um limite e responder duramente quando alguém o ultrapassar. Prometeu ainda impedir o avanço do islamismo radical trabalhando de perto com aliados no mundo muçulmano, mas cobrando respeito e gratidão dos países que forem ajudados pelos EUA. Reforçando a prioridade dos interesses americanos, Trump encerrou o discurso afirmando que não irá mais ceder o “país ou seu povo à falsa cantiga da globalização”.
Hillary
Hillary Clinton também afirma que quer restaurar a liderança mundial dos EUA e promete que “defender os valores americanos e manter o país seguro” serão prioridades absolutas. Para isso ela promete ter um corpo militar de ponta, fortalecer alianças, cultivar novas parcerias, enfrentar agressores, derrotar o Estado Islâmico e fazer cumprir o acordo nuclear com o Irã. Mas Hillary afirma que é possível ser forte e inteligente sem apelar para a tortura ou intolerância e diz que o medo não irá ditar sua política externa. Ela também assegura que manterá as boas relações com Israel, mas que é imperativo continuar a busca por uma solução na questão palestina. Hillary diz ainda que, se for presidente, irá reconhecer o genocídio armênio, algo que Obama evitou fazer em seus dois mandatos.
Trump
A base econômica de Trump é a promessa de aumento de empregos, um de seus temas mais frequentes. Ele diz que os EUA deixarão de perder indústrias e empregos para a China e o México, e nesse sentido ameaça penalizar empresas que queiram deixar o país. Trump afirma que pretende aumentar impostos para quem o fizer ou para quem não empregar preferencialmente americanos e chegou a afirmar que quer “obrigar” a Apple a fabricar seus produtos nos Estados Unidos.
Em relação a impostos, seu plano ainda não foi totalmente explicado, e ele já prometeu aumentar a taxação dos ricos para diminuir a dos pobres, voltando atrás depois. Ele agora diz que pretende simplificar e reduzir impostos para todos os americanos e que também quer que empresas paguem menos. Trump promete ainda cortar muitos gastos do governo e sugeriu em entrevista à MSNBC que uma de suas primeiras ações para que isso seja alcançado poderia ser cortar o Departamento de Educação.
Hillary
Hillary apresenta um plano de curto e médio prazo para aumentar os ganhos das famílias americanas e melhorar a economia do país. Entre os itens desse projeto estão benefícios fiscais para famílias endividadas e a conquista de melhores salários através de investimentos em infraestrutura, energia limpa e pesquisas científicas e médicas. Ela também pretende reduzir a burocracia para pequenos negócios, incentivar a distribuição de lucros entre funcionários, aumentar o salário mínimo, garantir salários iguais para homens e mulheres e instituir licenças médicas remuneradas. O plano prevê ainda fortalecer sindicatos e oferecer benefícios a empresas que invistam na educação e formação técnica e profissional de seus funcionários.
Trump
Donald Trump promete revogar o Obamacare, a lei pela qual todo americano deve ter plano de saúde, em seu primeiro dia de mandato. Ele sinaliza em seu site que pretende seguir os princípios do livre mercado e diz que “o melhor programa social sempre será um emprego”. Por isso, acredita que a criação de mais empregos e a melhora da economia possibilitará que a grande maioria dos americanos pague por suas despesas de saúde sem depender do governo.
O Medicaid seria centrado em cada estado, sem interferência do governo federal. Ele diz que a compra de seguros de saúde não deve ser obrigatória, mas que estes deverão ser oferecidos em todos os estados, sem restrições. Além dos seguros, que seriam dedutíveis do imposto de renda, Trump sugere a criação de Health Savings Acounts (HSAs), uma espécie de poupança específica para gastos com saúde e que pode beneficiar qualquer membro da família do titular, inclusive sendo herdada em caso de morte. O republicano também defende transparência nos valores cobrados por médicos, hospitais e instituições e a livre competição entre eles. As regras de livre mercado seriam aplicadas ainda aos fabricantes de medicamentos. Em sua declaração oficial sobre saúde, Donald Trump diz ainda que suas propostas para imigração ajudarão a desonerar o sistema, já que “providenciar atendimento médico a imigrantes ilegais nos custa cerca de US$ 11 bilhões por ano”.
Hillary
A plataforma de Hillary para a saúde é praticamente oposta à de Donald Trump, e indica que o lucro financeiro não deve ser prioridade. Ela promete mais controle e fiscalização sobre seguros de saúde privados e diz que irá manter o Obamacare e estender programas públicos para a população mais pobre.
Hillary promete ainda reprimir o aumento dos preços de medicamentos controlados e obrigar a indústria farmacêutica a investir mais em pesquisas, além de reforçar programas de tratamento para o vício em substâncias lícitas e ilícitas. Seu projeto prevê também acesso de mulheres a saúde reprodutiva, incluindo métodos de contracepção e abortos seguros e legalizados. Seu projeto para saúde inclui ainda itens específicos para portadores de necessidades especiais, portadores de HIV e Aids, idosos e pessoas que dependam de cuidados específicos e um investimento de US$ 2 bilhões em pesquisas sobre Alzheimer e distúrbios relacionados.
Trump
Trump defende que o governo federal não interfira e a educação fique a cargo de cada estado. Ele diz também que o governo não deve lucrar com empréstimos estudantis, mas ainda não apresentou nenhum projeto sobre o assunto, dizendo apenas que irá “fazer algo muito inteligente em relação ao financiamento”. Trump também quer que escolas deixem de ser “zonas livres de armas”, e que pessoas possam portar armas dentro e ao redor delas. Segundo o candidato, escolas sem armas são “iscas” para ataques de pessoas com problemas mentais.
Hillary
Hillary defende uma educação de qualidade a moradores “de qualquer endereço” do país e quer garantir que dentro de dez anos todas as crianças com quatro anos de idade estejam em pré-escolas. Ela diz que pretende incentivar programas de educação de base, garantir treinamento e melhoras na qualidade de trabalho de professores, garantir bolsas de estudo e cuidados para os filhos de pais que ainda são estudantes e acesso igualitário à educação para meninas em todos os estágios escolares.
A questão que aborda com mais frequência, porém, é a dos financiamentos para universitários. Em um longo plano de investimento de US$ 350 bilhões, ela prevê a distribuição de metade desse valor em dez anos a estados que não reduzam seus gastos com educação superior. Dos estudantes e suas famílias viria uma contribuição “realista e simplificada” e uma carga horária de dez horas semanais de trabalho para pagar pelos estudos.
Trump
Donald Trump quer ampliar o poder militar dos EUA, afirmando que o país sob seu governo se tornaria tão poderoso e ameaçador que não sofreria ameaças de absolutamente ninguém. O candidato defende a adoção de táticas de tortura e diz que poderia aprovar técnicas ainda mais duras do que o “waterboarding”, um tipo de afogamento proibido atualmente. Ele diz ainda que os EUA precisam ser “imprevisíveis” e se diz aberto ao uso de armas nucleares, inclusive como reação a ataques terroristas como os ocorridos em Bruxelas, na Bélgica, no início de 2016. Trump também defende que o país se volte a sua própria defesa e que aliados como Japão e países europeus precisam investir mais em sua própria segurança e parar de depender da ajuda dos EUA.
Hillary
Hillary diz que usar força militar deve ser sempre o último recurso, mas promete combater e derrotar grupos terroristas que ameacem os EUA ou seus aliados. Além de modernizar as forças, ela sugere endurecer protocolos de segurança em aeroportos e outros pontos considerados frágeis e manter um monitoramento tecnológico mais efetivo para evitar o crescimento de grupos como o Estado Islâmico na internet, criando uma comissão nacional de criptografia. Ela também afirma que deve priorizar soluções diplomáticas, mas diz que não se intimidará com Putin, além de se manter a China “sob controle” e que jamais irá permitir que o Irã quebre o acordo e adquira armas nucleares.
Trump
Um dos pontos mais conhecidos do programa de Trump é a promessa de construir um muro na fronteira com o México, obrigando este país a pagar pela obra com ameaças de sanções, cobranças de dívidas e cortes de acordos comerciais. Ele afirma que “uma nação sem fronteiras não é uma nação” e promete ainda expulsar todos os imigrantes ilegais que já estão nos EUA, cerca de 11 milhões de pessoas, afirmando que aqueles que comprovarem ser “boas pessoas” serão aceitos de volta de forma legal. Trump também considera aumentar os custos de taxas de entrada no país e de vistos temporários e diz que irá acabar com o H-1B, um visto para não imigrantes que permite que empregados especializados sejam contratados temporariamente para determinados cargos por empresas americanas.
O candidato diz que irá obrigar as empresas a empregar primeiro cidadãos americanos em qualquer situação, sem exceção. Em relação aos refugiados, Donald Trump acredita que os EUA não devem receber sírios, iraquianos e outros que venham de países de maioria muçulmana. Ele propôs, inclusive, uma proibição da entrada de qualquer muçulmano no país até que “se descubra o que está acontecendo”.
Hillary
Hillary Clinton pretende estabelecer uma “abrangente reforma imigratória” que, afirma, irá criar meios para cidadania e manter famílias unidas. Ela defende programas que promovam integração e naturalização de imigrantes, quer regularizar ilegais que trabalhem e contribuam para a economia do país e fechar centros privados de detenção de imigrantes ilegais. Hillary quer ainda encerrar as detenções familiares e a separação de pais e filhos promovidas atualmente por algumas leis de migração.
Trump
Donald Trump já mudou de ideia mais de uma vez em relação ao aborto, com o qual concordava há alguns anos. Ele diz ter revisto sua posição e agora afirma que aceita o procedimento apenas em casos de risco de vida para a mãe, incesto ou estupro. Mas Trump acredita que a organização Planned Parenthood deve parar de realizar abortos e que destinar recursos públicos para a realização do procedimento é “um insulto às pessoas de consciência, no mínimo, e uma afronta a um bom governo”. Recentemente ele causou polêmica ao defender em entrevista à CNN “algum tipo de punição” para mulheres que abortassem caso o procedimento se tornasse ilegal. Horas mais tarde ele voltou atrás e disse que os médicos é que deveriam ser punidos, jamais as mulheres.
Hillary
Hillary promete proteger os direitos reprodutivos e de saúde das mulheres, afirmando que as decisões pessoais de saúde de cada uma deveriam ser tomadas pela própria mulher, por sua família e sua fé, com o aconselhamento de seu médico. Ela diz que irá enfrentar os congressistas republicanos que querem reduzir ou cortar os investimentos do governo no Planned Parenthood, que restringiriam o acesso não apenas a abortos, mas também a métodos de contracepção e tratamento de câncer.
Trump
Donald Trump é contra novas restrições ao porte de armas. Ele afirma que é preciso endurecer as leis para lidar com criminosos violentos e expandir tratamentos de saúde mental, embora não especifique como faria isso. Mas diz que os donos de armas que querem se defender devem ter seus poderes ampliados porque a polícia não consegue estar em todos os lugares o tempo todo. Trump defende ainda que não existam restrições ao tipo de armas que um cidadão pode comprar e diz que o sistema nacional de checagem de antecedentes falha ao não incluir registros criminais e de saúde mental em muitos estados. Mas ele diz que a maioria dos criminosos usa armas de outras pessoas e não passa por essas checagens e que por isso não é necessário “expandir um sistema quebrado”. Trump defende ainda que as licenças para porte de arma sejam válidas nacionalmente e faz uma comparação com carteiras de motorista, válidas nos 50 estados. “Se podemos fazer isso por dirigir – que é um privilégio e não um direito – então certamente podemos fazer pelo porte de armas, que é um direito e não um privilégio”.
Hillary
Considerada uma inimiga da NRA (Associação Nacional de Rifles, principal lobby pró-armas dos EUA), Hillary defende mais controle sobre a venda, porte e uso de armas. Ela pretende reforçar as checagens de antecedentes, responsabilizar fabricantes e vendedores em casos de tiroteios em massa e outras tragédias e defende leis que dificultem ainda mais o acesso a armas a pessoas com histórico de abusos domésticos, perseguições, crimes violentos e distúrbios mentais. Ela também quer criminalizar federalmente pessoas sem ficha criminal que comprem armas com a intenção de cedê-las àqueles que seriam barrados em uma eventual checagem de antecedentes. Além disso, quer manter fora das ruas armas de uso militar.
Trump
Trump se diz “muito a favor” da energia nuclear e diz que irá trazer de volta a indústria do carvão “100%”. Ele afirma ainda que políticas de energia limpa e para reduzir as emissões de carbono iriam colocar em perigo empregos e as classes média e baixa. Em seu livro mais recente, “Crippled America”, ele escreveu que fontes de energia verde são “na verdade uma forma cara de fazer os abraçadores de árvores se sentirem bem com eles mesmos”. Trump também afirmou este ano que as alterações climáticas não são um dos maiores problemas mundiais. Há alguns anos o empresário chegou a questionar sua existência, citando em janeiro de 2014 a neve e o frio como provas de que o assunto era supostamente um farsa inventada pelos chineses.
Hillary
Também neste item as plataformas de Hillary e Trump são opostas. A democrata diz que pretende criar empregos bem remunerados ao transformar os EUA na “superpotência de energia limpa do século 21”. Ela estabelece como meta a instalação de 500 milhões de painéis de energia solar e a redução do consumo de petróleo em um terço.
Além disso, pretende reduzir as emissões de gases a 30% do que elas eram em 2005 na próxima década. Seu plano de governo inclui ainda a proteção a animais selvagens, incluindo o combate ao tráfico internacional de animais e produtos derivados e a animais domésticos, com criadores, zoológicos e instituições de pesquisa sendo obrigados a criar planos de proteção para os animais durante desastres. Hillary fala ainda em endurecer a fiscalização a criadores que lucram com reprodução e venda de filhotes e a fazendas e criadouros de animais para o consumo, eliminando maus-tratos e o uso excessivo de antibióticos, além de proibir o abate de cavalos para o consumo humano de sua carne.
Trump
É criticado pela maneira agressiva como se refere a mexicanos, muçulmanos e mulheres e pela forma com que ataca seus adversários – como na ocasião em ridicularizou um jornalista com uma doença congênita. Trump também já causou polêmica ao declarar que o aquecimento global é “uma mentira inventada pelos chineses” e ao sugerir que vacinas podem causar autismo. Veja nove propostas polêmicas de Trump.
Hillary
Seu adversário Bernie Sanders a acusa de ser “amiga” de grandes investidores, embora defenda a regulamentação de Wall Street. Como secretária de Estado, usou um servidor privado de e-mails e uma investigação, na qual milhares de suas mensagens foram divulgadas publicamente, avalia se ela colocou em risco a segurança do país.