Folha de S.Paulo: Para tirar país da crise, Queiroga deve resgatar coordenação nacional e ter autonomia, dizem gestores

Folha de S.Paulo: Para tirar país da crise, Queiroga deve resgatar coordenação nacional e ter autonomia, dizem gestores

Especialistas são unânimes sobre necessidade de ação federal coordenada e de quadros técnicos no Ministério da Saúde

Clique aqui para ler a matéria na íntegra publicada nesta terça-feira (23) pela Folha de S.Paulo

Após tomar posse em cerimônia fechada e fora da agenda oficial, o médico cardiologista Marcelo Queiroga assume o comando do Ministério da Saúde em meio ao pior momento da epidemia da Covid-19, com situações de colapso na rede de saúde em diferentes estados, lista de espera para obter vagas em UTIs e crise na oferta de medicamentos essenciais a pacientes graves.

Além desses problemas, o novo ministro deve ter como missão acelerar o plano de vacinação contra a Covid e lidar com o impacto já presente no sistema de saúde por atendimentos represados.

Gestores públicos e privados, médicos e outros profissionais da saúde ouvidos pela Folha são unânimes: só com coordenação nacional, autonomia para tomar decisões técnicas, união da sociedade civil e ajuda internacional haverá alguma chance de enfrentar a crise, que deve continuar nos próximos meses.

Um ponto crucial levantado por todos é a necessidade de o Ministério da Saúde voltar a ter técnicos experientes em seus principais quadros.

“Essa militarização baixou dramaticamente a qualidade e a capacidade de intervenção. O ministério está ocupado por gente que nunca trabalhou com política pública de saúde, não sabe o que é SUS”, diz José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde, médico sanitarista e pesquisador da Fiocruz.

Para ele, se a pasta tivesse uma equipe técnica competente com bons gestores, muitas das crises, como falta de oxigênio e de drogas para intubação, já estariam sanadas.

Francisco Balestrin, presidente do SindHosp (sindicato paulista dos hospitais privados, clínicas e laboratórios), vai na mesma linha. “É preciso que retornem a competência técnica operacional do ministério. Sem isso, teremos um novo ‘vice ministro da Saúde’ sem ação, sem equipe e sem resultados.”

A ausência de coordenação nacional das ações de enfrentamento da epidemia é apontada por secretários municipais e estaduais de Saúde como um dos principais problemas enfrentados nos últimos meses.

Sem apoio e diretriz federal, estados e municípios tiveram que tomar boa parte das decisões por conta própria.

Financiamento

Também há pendências ainda no financiamento de leitos em vários estados. “Eu, por exemplo, abri 400 leitos novos de UTI e não tenho garantia ainda de que o ministério vai honrar o pagamento de todos esses leitos.”

Mauro Junqueira, secretário-executivo do Conasems, que reúne gestores municipais de saúde, também se queixa de ainda não haver um orçamento da União aprovado.

“No ano passado tivemos recursos [extraordinários] a mais e neste ano não há previsão. Não dá para fazer planejamento.”

Além de não ter aumento nenhum, foram retirados recursos da atenção básica na previsão do orçamento, e não há possibilidade alguma de expansão da saúde da família.

Outras doenças além de Covid

E há ainda toda a demanda de diagnósticos e tratamentos que não sejam de Covid-19 represados. “O número de diagnósticos caiu muito. Temos estimativa de 1,1 milhão de atendimentos represados. Assim que passar a pandemia, vamos ter um passivo para correr atrás muito grande.”


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