Empresários de alto rendimento: ex-atletas falam das lições que trouxeram do esporte para também vencer nos negócios
SÃO PAULO – Cedo ou tarde, todo atleta precisa decidir o que fazer depois do fim da carreira. Afinal, o mundo das competições de alto nível tem prazo de validade. Mas aí vem a dúvida: continuar no esporte em outras funções? Buscar uma nova profissão? Empreender?
Alguns optam pelos negócios. E, para ter sucesso, aplicar conhecimentos testados e seguir nos campos, quadras, pistas e piscinas.
O ex-nadador Gustavo Borges é um exemplo. Um dos mais vitoriosos atletas de sua modalidade no Brasil, com duas medalhas de prata e duas de bronze em Olimpíadas, ele começou a planejar a vida depois do esporte antes de parar de competir, em 2004.
Em 1996, Borges deu início a uma bem definida carreira de palestrante. De 2000 a 2004, entre as Olimpíadas de Sidney e Atenas, o atleta passou por um período de transição, quando investiu na área de bares e restaurantes. “Esporte tem muito a ver com autoconhecimento e planejamento”, afirma.
Depois, ele decidiu partir para o ramo de academias, investindo em duas. Em 2005, ampliou o negócio com o lançamento da Metodologia Gustavo Borges, uma plataforma de gestão para escolas de natação com apoio na administração, treinamento de professores, marketing e área comercial.
“Nossas dores eram as mesmas de outros donos de academias”, diz Borges. “Há muitas piscinas no Brasil, então criamos soluções para clientes. O licenciamento requer investimento mais baixo do que começa uma academia do zero ”, afirma.
A metodologia tem mais de 300 licenciados no Brasil, com clientes até no Chile. Borges ainda é dono de três academias próprias, promove cursos online para empreendedores, tem um programa de mentoria para promoção e transição de carreiras e dá treinamentos em empresas.
O ex-nadador resume em três palavras as lições que trouxe do esporte para os negócios: “Constância”, para fazer algo com começo meio e fim; “Persistência” na busca de objetivos; e “Excelência” no sentido de fazer bem feito. “Dá resultados”, destacou.
Seringueiras
O ex-zagueiro Ronaldo Rodrigues de Jesus, o Ronaldão, campeão mundial com o São Paulo em 1992 e 1993 e com a Seleção Brasileira em 1994, começou a planejar seus negócios também antes de encerrar a carreira, em 2003. “Já tinha o negócio preparado”, diz ele sobre uma propriedade agrícola que adquiriu no interior de São Paulo, dez anos antes de deixar o futebol.
Ronaldão produzia laranjas na área de quase 50 hectares, mas o preço do produto estava baixo naquela época. “Não estava valendo a pena”, afirma. Ele decidiu então plantar seringueiras para extrair látex: “Quando eu parei de jogar já estava produzindo”.
O ex-jogador produz cerca de 200 toneladas por safra. “Está compensando muito, neste ano especialmente, pois o preço está muito bom”, afirma. O látex é matéria-prima da borracha, utilizado principalmente na indústria de pneus.
Ronaldão investiu também na compra e construção de imóveis. Ele tem mais de 20, a maioria administrada pela Rosan Imóveis, imobiliária da família. “O futebol proporcionou todos os meus negócios. São investimentos sólidos que eu fiz pensando no futuro, ainda durante minha carreira ”, contou.
O ex-zagueiro também investe no mercado de capitais. Sua preferência é por ações que paguem bons dividendos, fundos imobiliários e BDRs.
O tetracampeão cita três lições que levou do esporte para os negócios . “Disciplina: invisto sem fazer loucuras, com equilíbrio. Tática: tenho os pés no chão para não errar, para que o patrimônio cresça e se mantenha. Cuidado: é preciso cuidar do patrimônio como o atleta precisa se cuidar. Vários fundamentos do futebol podem ser informados aos negócios ”, afirma.
Sol na barriga
A ex-nadadora Fabiola Molina transformou necessidade pessoal em negócio. Representante do Brasil nas Olimpíadas de 2000, em Sidney, 2008, em Pequim, e 2012, em Londres, especialista em nado de costas treinava em uma piscina descoberta em São José dos Campos (SP), sua cidade natal. Ela costumava usar um maiô inteiro e não pegava sol na barriga, que ficava branca e a incomodava quando ela vestia biquínis.
Com o auxílio de uma costureira, ela desenvolvida um “sunquíni”, um tipo de biquíni mais robusto e seguro para uso em treinos. “Minhas amigas distribuem a se interessar, conceber a pedir. Eu levava uns vinte nas competições e vendia ”, diz Fabiola. Em 2004, o pequeno empreendimento se transformou em marca quando ela e a mãe, Kelce Molina, fundaram a grife de natação e moda praia Fabiola Molina.
O negócio cresceu paralelamente à carreira do atleta. “Em 2005, temos necessidade de exportar e criamos um e-commerce”, diz Fabiola. “A empresa teve um crescimento contínuo, mesmo em momentos de crise”.
Um dos grandes momentos da marca foi nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Fabiola já havia parado de competir, mas ganhou uma concorrência para produzir uma linha de moda praia oficial dos Jogos Olímpicos. “Foi um momento de muito crescimento e amadurecimento da empresa, elevou o negócio a outro patamar”, afirma.
Para Fabiola, o esporte ensina algo fundamental para os negócios: ter iniciativa. “Ninguém podia treinar por mim, eu tinha que correr atrás. Na carreira de atleta, as coisas não caem do céu e nos negócios é a mesma coisa. Não adianta achar que o produto vai se vender sozinho ”, diz.
Aprender e não ter medo de tentar coisas novas é importante também nas duas áreas, assim como não ter receio de tomar decisões, acreditar no que faz e buscar parcerias, diz a ex-atleta. “É importante agregar pessoas boas, que compartilham de nossos valores”, afirma.