Clássico entre Atlético-PR e Coritiba é cancelado na Arena da Baixada
Problemas com a Federação Paranaense de Futebol impedem realização do primeiro clássico entre os clubes. Times se recusam a jogar sem transmissão pela internet
O clássico entre Atlético-PR e Coritiba, que seria realizado na Arena da Baixada na tarde deste domingo pela quinta rodada do Paranaense, foi cancelado. A situação aconteceu depois que os clubes se negaram a dar continuidade na partida após a Federação Paranaense de Futebol (FPF) justificar que os profissionais contratados pelos clubes a fazer a transmissão do jogo via internet não estavam credenciados e não poderiam estar no campo.
Os jogadores das duas equipes chegaram a entrar em campo, mas o árbitro, obedecendo orientação da FPF, não apitou o começo do clássico. A discussão até que fosse decidido pelo cancelamento da partida durou cerca de 40 minutos e os dois times se retiraram de campo depois de se reunirem no meio do campo. A Arena da Baixada recebia um público de aproximadamente 20 mil pessoas. O Atlético-PR não divulgou os números oficiais.
Em entrevista por telefone ao blog Bastidores FC, o presidente da Federação Paranaense de Futebol, Helio Cury, explicou que o motivo de o árbitro não dar início ao clássico foi a quantidade de profissionais não cadastrados dentro de campo. O credenciamento deveria ser feito até 48 horas antes da partida.
– O árbitro avisou: “olha, tá cheio de gente sem credenciamento, eu não posso começar o jogo assim. Se não tirar essas pessoas, não posso começar o jogo”. Chamaram o policiamento. As pessoas se recusaram a sair. Não havia como fazer jogo com tanta gente em volta do gramado sem estar credenciada para tal – disse o dirigente ao blog (leia a entrevista completa aqui).
Enquanto dirigentes conversavam com árbitros e policiais, os jogadores de Atlético-PR e Coritiba intercalavam subidas ao gramado com momentos no vestiário, em uma situação que durou por volta de 40 minutos. Os clubes afirmaram que não jogariam sem a transmissão pela internet, enquanto a Federação mantinha a posição em relação ao credenciamento dos profissionais.
– Essa iniciativa pioneira e ousada vai servir para o resto da vida e dos tempos. Atlético-PR e Coritiba unidos começaram um processo silencioso de dizer não. Temos o direito de dizer não. Fica um alerta para os demais presidentes. Sigam o exemplo de Atlético e Coritiba. Vamos dizer não. Temos que romper com essas coisas – disse o presidente do Furacão, Luiz Sallim Emed.
O dirigente rubro-negro ainda criticou a forma como a arbitragem optou por não dar início ao jogo, mesmo com a Arena da Baixada cheia de torcedores.
– O juiz me explicou que ele obedeceu uma ordem superior. Algumas vezes algumas leis não são éticas. Como vamos lidar com a frustração desse público inteiro? Então… 99%… chego à conclusão que não vai ter jogo por uma medida intransigente e estreita – criticou Salim Emed.
Sem acordo, os jogadores subiram em uma fila intercalada ao gramado e, de mãos dadas no círculo central, agradeceram a presença da torcida. Na sequência, após aplausos aos jogadores, as arquibancadas da Baixada começaram a se esvaziar, sob gritos de protesto.
Após a saída dos jogadores, o técnico Paulo Autuori, do Atlético-PR, fez fortes críticas em entrevista coletiva, mas parabenizou os jogadores dos dois times pela coragem de optar pela não realização do clássico:
– Neste momento em que poderíamos ter um bom espetáculo, os clássicos, tanto dentro quanto fora de campo, não foi possível os profissionais trabalharem e os torcedores assistirem ao jogo em função de uma atitude arbitrária da Federação. Lembrando que a transmissão seria através da internet de forma gratuita. Não tem um mínimo de embasamento para a proibição que a Federação forçou para a não realização do jogo. Nós lamentamos. Essa é a realidade que toma conta do futebol, mas tenho que parabenizar, falta isso no futebol brasileiro, tomada de decisões corajosas – disse o treinador rubro-negro.
Presidente do Coritiba promete tomar providências
Em contato por telefone com o GloboEsporte.com, o presidente do Coritiba, Rogério Bacellar, criticou a postura da FPF. Segundo Bacellar, o problema foi a posição sem diálogo da federação.
– Isso foi uma vergonha. Foi arbitrariedade por parte da federação, em virtude de não termos assinado um contrato de transmissão de televisão. A federação tinha que ter mais espírito esportivo. Não concordamos – disse Bacellar.
O presidente afirma que o Coritiba vai tomar providências jurídicas contra a entidade. Ele diz que o departamento jurídico do clube vai atrás das medidas legais com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
– Passamos a posição para o departamento jurídico estudar e amanhã vamos fazer uma reclamação formal na CBF. Não sei qual é a postura que o Atlético vai tomar, porque ainda não falei com o Petraglia ou o Sallim. Só sei que a atitude do Coritiba é essa. Estou revoltado com a atitude da FPF.
Bacellar reforçou o discurso adotado pela federação de que o problema com a transmissão era o credenciamento dos profissionais. Para o presidente, contudo, a solução apresentada pelo Coxa era suficiente para permitir a realização do jogo.
– A alegação foi de que tinha gente estranha dentro do campo, quando ia iniciar a partida. Isso é besteira, porque nós, inclusive, passamos a posição de que poderíamos passar todo o material para fora do campo. Meu vice disse assim: nós poderíamos transmitir do lado de fora do gramado. Então, que credenciamento é esse? – questionou o presidente.
Coritiba e Atlético-PR se pronunciaram por meio de nota em seus respectivos sites oficiais. Os clubes reforçaram as críticas à FPF e pediram desculpas aos torcedores pelos transtornos.
Leia a nota oficial divulgada pelos clubes:
O Coritiba Foot Ball Club e o Clube Atlético Paranaense informam que o clássico deste domingo (19), no Estádio Atlético Paranaense, não foi realizado devido à decisão da Federação Paranaense de Futebol de não autorizar o início da partida com a transmissão dos clubes em seus canais oficiais, no Facebook e YouTube, contrariando os interesses de seus afiliados CAP e CFC.
Os clubes lembram que a ação pioneira foi realizada, pois as duas equipes não venderam os direitos de transmissão de seus jogos no Campeonato Paranaense, por não concordarem com os valores oferecidos.
Diante da posição arbitrária e sem qualquer razoabilidade da Federação Paranaense de Futebol, os clubes lamentam o prejuízo causado ao futebol paranaense, em especial aos seus torcedores.