CBMI 2023: Causas, características e desfechos do NORSE em crianças
No último dia do XXVIII Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI) da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB), o Dr. Cristian Tonial foi o palestrante do tema NORSE. NORSE é a abreviação de new-onset refractory status epilepticus, isso é, estado de mal epiléptico refratário de início recente, referente a pacientes sem história prévia de convulsões e que apresentam estado de mal epiléptico refratário por, pelo menos, 72 horas, sem etiologia identificada. Infelizmente, apesar das graves sequelas neurológicas da NORSE, pouco se sabe sobre essa condição em pacientes pediátricos.
Leia também: CBMI 2023: Como utilizar a potência mecânica (“Mechanical Power”) na ventilação?
Palestra
Para ilustrar sua apresentação, o palestrante abordou um estudo realizado com sua equipe e publicado no BMJ Neurology Open. O objetivo foi descrever o perfil dos pacientes pediátricos com NORSE, o perfil das crises convulsivas, as possíveis causas atribuídas a essa condição, os tratamentos oferecidos aos pacientes e os desfechos à alta em Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP). Os pesquisadores conduziram um estudo retrospectivo, multicêntrico e descritivo (série de casos) em três UTIP de hospitais terciários. Foram revisados os prontuários de todos os pacientes de 0 a 16 anos de idade internados nas UTIP participantes entre dezembro de 2013 e dezembro de 2017 com estado de mal epiléptico refratário, sem história prévia de convulsões ou doença neurológica. Os resultados foram:
- 15 pacientes (2,4%) apresentaram NORSE;
- A idade mediana dos pacientes foi de 62,3 meses;
- Todos os pacientes apresentaram pródromos antes de progredirem para estado epiléptico refratário, sendo que 12 (80%) apresentaram febre até 24 horas antes das convulsões;
- O NORSE foi classificado como criptogênico em 66% dos pacientes;
- Doze pacientes foram tratados com terapias complementares, além de anticonvulsivantes, mas não houve padronização no tratamento. Todos os pacientes fizeram uso de midazolam, cetamina e tiopental. Oito (53,3%) receberam pulsoterapia com metilprednisolona por três dias. Sete pacientes (46,6%) continuaram com estado de mal epiléptico apesar da terapia com corticosteroides e receberam tratamento com imunoglobulina. Três pacientes (20%) receberam dieta cetogênica. Três pacientes (20%) receberam tratamento imunossupressor;
- A taxa de mortalidade geral foi de 20%.
Pontos relevantes do estudo:
- A prevalência foi 2,5 vezes maior que a relatada na literatura;
- A mortalidade foi elevada (20%);
- O líquor auxilia no diagnóstico de outras doenças;
- O eletroencefalograma (EEG) e a ressonância magnética (RNM) de crânio não apresentam alterações específicas;
- Houve atraso no início dos tratamentos, sem padronização no uso de anticonvulsivantes nem de terapias alternativas.
Saiba mais: CBMI 2023: A expansão inicial de fluidos deve ser restritiva ou liberal?
O NORSE, portanto, é uma condição de alta morbidade e mortalidade. Dessa forma, sugere-se que seu diagnóstico seja considerado dentro de 72 horas do estado de mal epiléptico refratário sem causa definida e que os tratamentos existentes sejam iniciados neste momento. Por fim, uma extensa investigação diagnóstica pode determinar uma influência autoimune na sua etiologia, levando a um tratamento específico.
Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros
Sucesso!
Sua avaliação foi registrada com sucesso.
Avaliar artigo
Dê sua nota para esse conteúdo.
Você avaliou esse artigo
Sua avaliação foi registrada com sucesso.
Autor
Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra
- Tonial CT. NORSE. In: Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI), XXVIII, 2023, Florianópolis/SC
- Tainski de Azevedo AL, et al. New-onset refractory status epilepticus (NORSE) in paediatric patients: causes, characteristics and outcomes. BMJ Neurol Open. 2022;4(2):e000314. DOI: 10.1136/bmjno-2022-000314