Carreira Médica no exterior: Desafios e motivações
As motivações que convocam médicos brasileiros a investirem suas carreiras no exterior podem ser inúmeras. Certificação e reconhecimento internacional, condições de trabalho com remunerações mais atrativas, a busca por uma melhor qualidade de vida e, em alguns casos, a escolha até pode ocorrer sem planejamento prévio, quando não envolve necessariamente a medicina como ponto de partida.
Para pensar na construção de uma carreira estrangeira, mais do que considerar aspectos como validação e equiparação do diploma, vínculos empregatícios, proficiência no idioma – nos casos em que a língua oficial não seja o português –, condições de entrada e permanência no país e requerimento de visto, é fundamental avaliar a própria cultura e os costumes de um determinado país ou região, além de contar com o fator interpessoal do desprendimento, já que a distância de familiares e amigos também está implicada na decisão.
As experiências na prática
No entanto, nem sempre as carreiras médicas são construídas de modo linear e planejado, como é o caso de Paula Trovão, médica formada pela Universidade Federal Fluminense, com residência em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina de Marília pós-graduação em Psiquiatria Forense, pelo lpq-USP, que decidiu apostar na carreira em Bruxelas, na Bélgica, sem necessariamente estabelecer um planejamento prévio.
A psiquiatra, que fazia um período “sabático” na França, quando eclodiu a pandemia da covid-19, não hesitou em ficar na Europa quando foi estabelecido o isolamento social, visto que mantinha um relacionamento com uma pessoa do país vizinho – fato que não possibilitou que ela analisasse com antecedência as condições de um médico imigrante no país. “Quando cheguei na Bélgica, não sabia qual era o processo de validação do diploma. Só depois vi que precisaria prestar um vestibular, voltar para a universidade e cursar os dois últimos anos de medicina”, conta. A psiquiatra adquiriu, então, o diploma em Medicina pela Université Libre de Bruxelas (ULB), onde atualmente é residente em Psiquiatria Infantil.
Os desafios de um médico brasileiro, na condição de imigrante, também exigem um grau elevado de persistência, como foi para a médica Camila Bedeschi Rego De Mattos, formada pela Universidade Federal Fluminense. Ainda no internato, Camila decidiu que validaria o diploma nos Estados Unidos, onde fez um “subinternato”, no final da graduação. Após a residência em Ortopedia pelo Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), retornou para os Estados Unidos, onde realizou três Fellowship em Ortopedia Pediátrica e Oncológica. Mesmo com o objetivo de trilhar uma carreira no país, enfrentou barreiras na busca por oportunidade de trabalho. “Além da Ortopedia ser uma das especialidades mais bem remuneradas, o que aumenta a disputa pela posição, a condição de estrangeiro faz com que essas barreiras sejam ainda maiores, nos Estados Unidos”, explica.
Mesmo com os impedimentos para trilhar a carreira no país, a ortopedista, que chegou a atuar em clínica particular ao retornar para o Brasil, ainda assim não desistiu da carreira no exterior. “Soube de uma colega que estava morando na Suécia e atuando como cirurgiã, para quem escrevi um e-mail e ela me orientou no entendimento do processo de validação do diploma”, conta.
Apesar de conseguir a equiparação do diploma na Suécia, por meio de envio de documentação, que comprovava sua formação acadêmica, especializações e vínculos empregatícios, Camila teve o desafio de estudar sueco, ainda do Brasil, já que era um idioma que ainda não dominava. Também passou a visitar o país, tanto para desenvolver o idioma, mas sobretudo demonstrar seu interesse em trabalhar no país. “Foi uma época bem estressante. Porque além de ter sido reprovada na primeira prova de proficiência, não sabia se ficava com visto de turista para aprimorar a língua, mesmo sem ter a oportunidade de trabalho, já que o chefe do hospital que eu havia aplicado, me disse que haveria possibilidade de contrato de um ano, inicialmente. Você larga toda uma vida, sem a certeza de que vai dar certo. É um estresse muito grande”, desabafa, a ortopedista, que atualmente integra o Lund University Hospital, como Cirurgiã Ortopédica do Departamento de Oncologia Ortopédica de um dos três centros suecos, além de fazer parte do Corpo Docente da Ortopedia no Programa de Residência, sendo responsável pelo ensino de Oncologia Ortopédica.
Uma das queixas mais recorrentes a respeito dos trâmites burocráticos para validação do diploma no exterior, além da burocracia, é a falta de clareza na informação dispostas em regulamentos e editais. A ortopedista recomenda que quem deseja trilhar uma carreira no exterior não apenas procure pessoas que já passaram por esse processo, mas que também seja a pessoa que compartilha suas experiências e desafios na carreira, que será extremamente útil para quem pretende seguir caminhos semelhantes.
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