Atuação do Fla nos 6 a 1 contra o Goiás parece perfeita, mas não foi
A exibição pode ter parecido irretocável, mas não foi.
O Flamengo, é verdade, goleou o sétimo colocado do Brasileirão, o Goiás, pela décima rodada do campeonato, por 6 a 1, para delírio dos mais de 65 mil rubro-negros que lotaram o Maracanã, uma vez mais neste ano, na manhã deste domingo (14). A rigor, se fosse de oito ou nove não haveria exagero.
Arrascaeta deu show: três gols, dribles, duas assistências belíssimas e um toque magistral, por entre as pernas do adversário, em outro lance de gol. Provavelmente a melhor atuação de um jogador no Brasil no ano até agora. Diego e Rafinha também tiveram ótimas atuações.
Mais do que tudo isso, a equipe mostrou uma intensidade impressionante, sobretudo a partir do momento em que partia para o ataque. Um time bem distribuído em campo, com jogadores motivados, pilhados, trocando de posição com rapidez para confundir o adversário.
E sem tirar, em nenhum momento, o pé do acelerador e nem permitir a retomada de fôlego do adversário, mesmo nos minutos finais. A propósito, quase todos os gols perdidos pelo Flamengo foram registrados quando o placar acusava os 6 a 1.
Pela segunda vez, o técnico, o português Jorge Jesus, abriu mão de seu esquema preferido, o 4-1-3-2. Trocou-o por um 4-4-2, com William Arão de primeiro volante, Diego de segundo meio-campo e mais dois meias ofensivos: Éverton Ribeiro e Arrascaeta.
No ataque, Gabigol flutuando e Bruno Henrique mais dentro da área. Quando o Goiás tinha a bola na defesa, Éverton Ribeiro e Arrascaeta se aproximavam de Gabigol e Bruno Henrique para marcar forte e dificultar a saída do Goiás.
A proposta tática de JJ parece muito boa, sobretudo se continuar a ser executada pela equipe com a disciplina, dedicação e compromisso vistos nessa manhã.
Por preguiça e falta de compromisso tático dos jogadores, falta de exigência dos treinadores ou tudo isso junto, times brasileiros raramente combatem o adversário com intensidade no campo de defesa do rival. Não é o que se vê em times argentinos ou uruguaios nos torneios sul-americanos ou em seus campeonatos nacionais, apenas para citar dois exemplos próximos.
No caso do Flamengo, o problema é que, com a marcação forte na saída de bola adversária, aliada às linhas altas de jogadores, bem mais próximas umas das outras, ao contrário do que sempre se acostumou a ver no time da Gávea, será preciso treinar o sistema defensivo com precisão, sobretudo para os momentos em que o rival colocar a bola em jogo na defesa ou roubá-la em contra-ataques. Ou então haverá problema, em pouco tempo, com times técnicos ou mesmo esforçados em dias mais felizes.
Até agora, o Flamengo jogou três partidas sob o comando de JJ. Venceu o Madureira por 3 a 1 em jogo-treino, empatou em 1 a 1 com o Athletico Paranaense na Arena da Baixada, pela Copa do Brasil e neste domingo (14) goleou o Goiás. Para além dos resultados, o time deixou perceber, em vários momentos das três partidas, que o sistema defensivo ainda não está totalmente afiado para a nova realidade tática adotada.
No primeiro, não houve prejuízo porque a grande diferença técnica entre as equipes foi determinante escondeu imprecisões. Mas no segundo, contra a equipe paranaense, o rubro-negro sofreu muito para marcar os contra-ataques pelas laterais do campo. Levou grande pressão, com três gols do Athletico anulados por impedimento e uma bola defendida por Diego Alves com a mão fora a área, infração não marcada pelo árbitro, em mais um lance de falha de posicionamento e cobertura da zaga na última linha adiantada.
Neste domingo (14), no Maraca, os espaços deixados na defesa pelo Flamengo foram novamente percebidos com clareza pelo técnico adversário e permitiram ao Goiás criar quase todos os seus momentos de perigo na partida.
Em um deles, após um longo lançamento de um zagueiro goiano, Rodrigo Caio, quase no círculo do meio campo, espirrou o taco na tentativa de recuo para Diego Alves e acabou dando um passe precioso para o ex-rubro-negro Kayke partir para o gol sozinho e fuzilar, empatando a partida aos 11 minutos do primeiro tempo (Arrascaeta tinha feito 1 a 0 seis minutos antes).
Quatro minutos depois do empate, em outro chutão por cima da defesa rubro-negra em linha alta, dessa vez do goleiro do Goiás, Michael pegou a bola pela esquerda, partiu em diagonal e acertou a trave com um chute violento. Por pouco não virou a partida.
Depois disso, é fato, o Flamengo se impôs, acertou a cobertura e atropelou os goianos.
Mas, fosse um dos times mais técnicos da competição, ou mesmo o Goiás em um dia melhor (o time goiano iniciou a décima rodada do Brasileirão em sétimo, à frente de várias equipes de maior investimento), os gols rubro-negros poderiam ter demorado a sair, a chance do adversário aproveitar melhor os contra-ataques seria maior e, aí, as coisas poderiam ter sido bem diferentes.
A proposta de JJ é estimulante, mas precisa ter a parte defensiva do projeto melhor ajustada. Retranqueira atávica, a quase totalidade dos treinadores brasileiros percebeu que uma das formas de levar o time do Flamengo às falhas é mandar bola a rodo para os atacantes na velocidade, em chutões ou lançamentos longos, de preferência sobre todas as linhas de jogadores do rubro-negro.
Mesmo porque a última delas, a da defesa, estará avançada, alta, em grande parte do jogo, o que deixará muito espaço para a correria do atacante se acertarem o toque, o lançamento ou a bola rifada.
Vão fazer isso o tempo todo, à fartura, até cansar.
JJ e o Flamengo que se cuidem – e, mais do que isso, treinem melhor o sistema de recomposição da defesa.
Se acertarem bem esse ponto, o time passa a prometer.