Análise: superioridade do Atlético expõe escolhas e pobreza de ideias do Corinthians de Sylvinho

As vitórias “na marra” conquistadas pelo Corinthians nos dois jogos anteriores ao confronto contra o Atlético-MG de certa forma mascararam problemas da comissão técnica comandada por Sylvinho, como a pobreza de ideias e soluções e a insistência questionável em algumas escolhas.
Não foi a primeira vez na temporada, mas talvez tenha sido a mais contundente: o Corinthians foi dominado do começo ao fim por um rival muito superior técnica e taticamente na noite desta quarta-feira. Vitória incontestável por 3 a 0 do líder do campeonato e derrota de uma equipe cuja comissão ainda não se encontrou.
Diante do futebol jogado pelo líder, a derrota poderia ser encarada até com certa naturalidade. Mas a maneira como o Timão se comportou em Belo Horizonte anula tal possibilidade. De sete finalizações tentadas contra a meta de Éverson, nenhuma foi no gol.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2021/l/R/O80ADNQj65fFSbBiOKew/agenciacorinthians-foto-187068.jpg)
Time do Corinthians antes de jogo contra o Atlético-MG — Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians
Pivôs de problemas
Com mudanças sutis, como a troca de Gabriel Pereira por Gustavo Mosquito, as escalações do Corinthians vêm sendo muito parecidas nos últimos jogos. E, mais precisamente há três partidas, uma escolha vem fritando Sylvinho com a torcida: a insistência em Renato Augusto como camisa 9.
Na visão do técnico e de sua comissão, e aparentemente apenas deles, o meia, tido como o mais inteligente dentro de campo no elenco, tem gastado sua energia (ao menos em um tempo completo dos jogos) atuando como centroavante. De costas para o gol, sofrendo com pancadas dos zagueiros.
Contra o Galo não foi diferente. Bastaram alguns minutos de jogo para o próprio camisa 8 já se irritar com o rodízio de faltas e até preocupar a Fiel ao sofrer uma pancada no tornozelo esquerdo e ficar caído. Perde-se em criatividade quando o cérebro do time é obrigado a fazer movimentos não naturais.
Outro que simboliza escolhas ruins pelos contextos dos jogos recentes é Gabriel, com um jogo de certa forma já manjado pelos rivais e com pouca capacidade para quebrar as linhas vindo de trás. Aliás, função que parece encaixar melhor com João Victor, zagueiro inconformado quando não acha um bom passe para frente ao sair com a bola.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_bc8228b6673f488aa253bbcb03c80ec5/internal_photos/bs/2021/8/v/deLtx4TBAOM0rdFxCvPQ/agenciacorinthians-foto-187079.jpg)
Renato Augusto em Atlético-MG x Corinthians — Foto: Rodrigo Coca/Ag. Corinthians
As consequências…
Um time formado a partir de decisões ruins naturalmente vai mal. Com Mosquito preso também à ações defensivas pela direita e Róger travado na esquerda, o ataque corintiano não funcionou. Aliás, a bola mal chegou à frente, já que o Atlético pressionou com maestria desde seu campo de ataque.
Com um meio-campo um tanto quanto confuso, a defensa também sofre. Diego Costa, Keno e Hulk acharam espaços impensáveis em um Corinthians que até então era o segundo time menos vazado do campeonato. Méritos para uma movimentação ofensiva organizada e coordenada do Galo.
Tentativa frustrada
A partir do intervalo, Sylvinho tentou corrigir a rota, mas não conseguiu. Até o final do jogo, entraram Gabriel Pereira, Vitinho e Jô, saindo Du Queiroz, Mosquito e Guedes. De início de etapa final, GP fez a ponta para Guedes ser deslocado para o meio do ataque. Depois, Jô ocupou seu posto.
De início, a etapa final teve o centroavante deslocado de volta ao meio (Renato), o ponta-direita para a ponta esquerda (Mosquito), o ponta-esquerda para centroavante (Guedes). Só não foi mais confuso do que Giuliano retornando com a camisa 19 nas costas, e não a 11.
O segundo gol marcado pelo Atlético logo no início do segundo tempo já praticamente esgotou as forças de um Corinthians nocauteado. Porém, se no primeiro tempo houve apenas uma finalização, no segundo foram seis. Todas para fora, nenhuma no gol.
Reflexões…
A curto, médio e longo prazo, Sylvinho tem reflexões a fazer.
A curto, precisa repensar sua escalação e escolhas para não anular o que seus atletas têm de melhor. É preciso potencializá-los, e não sacrificá-los.
A médio, planejar, calcular e executar ações para não colocar em risco uma boa posição na tabela do Brasileirão e a classificação direta à fase de grupos da Libertadores.
A longo, precisa entender como fará esse elenco ser competitivo em 2022, quais novidades táticas poderá entregar com esse grupo, que deverá sofrer poucas alterações, para encarar uma maratona de campeonatos desde o primeiro mês do ano.