Análise: São Paulo perde com falhas individuais e descompasso coletivo
Na estreia do Paulistão, time de Rogério Ceni não consegue matar Audax na saída de bola, vê setores se afastarem e dá campo ao adversário na derrota por 4 a 2
Três elementos principais levaram o São Paulo a sucumbir diante do Audax em sua estreia no Campeonato Paulista: a sucessão de falhas individuais, a precocidade no desenvolvimento coletivo do time e a fatalidade de enfrentar um adversário mais mecanizado neste momento da temporada. A derrota de 4 a 2 em Barueri foi preocupante, claro, mas não é motivo para pânico: os defeitos tendem a ser amenizados com o decorrer do trabalho.
O problema mais evidente foi o montante de falhas técnicas. Foram muitas – sobretudo no primeiro tempo, e especialmente defensivas. O primeiro gol do Audax foi uma trapalhada do sistema de proteção a Sidão. Maicon fez corte parcial, e depois Buffarini e Douglas se atropelaram ao tentar tirar a bola do campo defensivo. Acabaram surpreendidos.
Mas não foi só isso. O time também demorou a ter imposição técnica do meio para a frente. Errou passes e foi tímido em triangulações e aproximações. Com isso, foi controlado com facilidade até idos do primeiro tempo – e ser controlado pelo Audax é fatal: significa permitir que o adversário tenha uma bola com a qual ele sabe muito bem o que fazer.
O segundo gol escancarou o preparo do adversário: bola de pé em pé, incluindo dois toques de calcanhar, até a conclusão de Pedro Carmona, que passeou livremente em meio à defesa do São Paulo – inerte diante da capacidade de envolvimento do oponente.
Foi um lance também ilustrativo do estágio tático das duas equipes. Enquanto o Audax fez movimentos automatizados, o São Paulo tentou se proteger com botes aleatórios – sempre com atraso. Rodrigo Caio, que no começo da jogada estava de frente para o condutor da bola, terminou correndo atrás do lance até sua conclusão, quando tentou, em um último recurso, um carrinho na área.
A superioridade numérica naquele setor do campo se mostrou inútil. Havia uma linha de cinco são-paulinos protegendo Sidão quando a bola partiu da intermediária – que depois viraram quatro e em seguida três, conforme surgia a necessidade de alguém sair para tentar impedir o avanço.
O Audax conseguiu vencer essa primeira linha de pressão – que tinha Wellington Nem e Luiz Araújo quase ao lado de Chavez. E, ao vencê-la, encontrou um campo mais aberto para avançar em bloco, pegando o São Paulo mais aberto do que o normal.
Rogério Ceni, na sexta-feira anterior ao jogo, disse que o São Paulo precisaria fazer o adversário se adaptar a seu sistema – em vez de cair na armadilha contrária. Ao fim do jogo, admitiu que faltou compactação – o ponto de partida para um time que pretende ser intenso, agressivo, propositor de jogo.
Pois faltou compactação justamente porque a ideia de fazer o oponente se adaptar não funcionou. O São Paulo ainda está tentando se encontrar taticamente; o Audax já se encontrou. Contra um adversário menos encaixado, mesmo que munido de mais talento, o São Paulo não teria sofrido tanto.
O poder de reação do São Paulo foi um alento em uma tarde tão ruim. O time conseguiu se ordenar em campo quando o torcedor mais pessimista já temia uma goleada. Os setores se aproximaram (Wellington Nem, lesionado, deu lugar a Cícero, que ficou com a posição mais central, fazendo Luiz Araújo migrar para a direita e Cueva cair mais pela esquerda).
E, assim, alcançou dois gols em jogadas que sugerem trabalho coletivo – com jogadores de meio (primeiro Cueva, depois Rodrigo Caio) antevendo a movimentação de Chavez entre os defensores. O argentino fez os dois gols.
Rogério Ceni tem missões para os próximos dias: amenizar a separação entre os setores e fazer com que o time melhore seus movimentos coordenados – os jogadores da frente estiveram muito estáticos. Isso é a tal da compactação. E time compactado faz com que falhas individuais também se tornem mais raras.
Fonte: globoesporte