Adebayor faz Olimpia dobrar sócios, e paraguaios desafiam brasileiros e argentinos na Libertadores
Vice-campeão da Libertadores de 2013, quando perdeu a final para o Atlético-MG de Ronaldinho e Cuca, o Olimpia ganhou os holofotes dentro e fora da América do Sul nesta terça-feira com a contratação de Emmanuel Adebayor. O togolês de 35 anos, que atuou por 10 anos no futebol inglês, com passagens por Arsenal, Manchester City, Tottenham e Crystal Palace, não é a única estrela do “Decano”.
O clube paraguaio experimenta aumento de receitas nos últimos anos e tem no elenco o veterano Roque Santa Cruz, além de outro jogadores valorizados no mercado sul-americano.
Site do Olimpia destaca a contratação do jogador togolês — Foto: Reprodução
O jovem presidente do Olimpia, Marco Trovato, um empresário de 40 anos, não vê muita distância na capacidade de investimento dos paraguaios para os grandes clubes brasileiros. Com português fluente, de quem morou e estudou em São Paulo e tem negócios no Brasil (a família tem representação comercial da multinacional americana Mondelez e outros empreendimentos em diversos ramos), ele evita rivalizar com brasileiros e argentinos, que dominam a Libertadores nos últimos anos, mas avisa:
– Hoje temos equipe muito competitiva – diz o presidente do Olimpia.
Os paraguaios estão no grupo do Santos, do Delfín, do Equador, e do Defensa y Justicia, da Argentina.
Confira a entrevista com o presidente do Olimpia:
GloboEsporte.com: Como surgiu a contratação de Emmanuel Adebayor?
– Faz seis meses que estamos tratando com o jogador, desde que ele estava na Turquia. Falamos com representante dele e ele disse que teria essa oportunidade de sair, falamos da nossa oferta de jogar no Paraguai. Fomos levando a negociação, fechando números e ele foi avaliando como seria morar no Paraguai, fez avaliação do clube.
Presidente do Olimpia tem 40 anos. Ele assumiu o clube em 2011 — Foto: Olimpia / Site Oficial
– Nós somos tetracampeões do Paraguai, temos uma equipe muito boa e a Libertadores era uma Copa que chamou muito a atenção dele. Em dezembro já estávamos perto de fechar, mas surgiu uma proposta da Europa.
– Ele estava analisando os números da Europa, mas há uma semana voltamos a falar com ele. E então fechamos. Ele falou antes com o Roque Santa Cruz, que foi companheiro dele no Manchester City. O Roque falou que tínhamos grande time. E ele (Roque) passa por momento muito bom aqui no Paraguai também. Fez 17 gols em 10 partidas. Está muito bem fisicamente. O Emmanuel (Adebayor) falou que estava a fim, que queria jogar no Olimpia e fechamos. Depois fizemos a campanha de marketing para atrair o torcedor e quase duplicamos a quantidade de sócios que tínhamos.
Estão com quantos sócios?
– Estamos com 33 mil sócios. Nós tínhamos plano de conquistar mais 20 mil novos sócios. Chegamos a mais de 15 mil novos até agora. Tínhamos 16, 17 mil. Esse número de 33 mil é recorde, não tem precedentes no Paraguai. Quando assumi como presidente, em 2014, tínhamos 1.100 sócios. Agora, somente com sócios nós arrecadamos quase US$ 8, 9 milhões por ano. É muito dinheiro.
Cum Suárez ao fundo, Diego Polenta, com passagem pela seleção uruguaia (na foto ao lado de Arévalo), deixou o LA Galaxy e também reforça o Olimpia — Foto: Reprodução Instagram
Imagino que o Olimpia pague valores bem mais altos para esses nomes internacionais como Adebayor e Roque Santa Cruz. Está no nível dos mais altos salários do futebol brasileiro?
– Os números que vi dos jogadores brasileiros… a gente está perto deles. Quando tentamos contratar o Borja, do Palmeiras, íamos pagar o que ele ganhava no Palmeiras também. Temos uma vantagem muito grande porque o Paraguai não tem imposto em cima do salário do jogador. O jogador que no Brasil ganha salário de, sei lá, US$ 2,5 milhões por ano, ele fica com US$ 1,8 ou 1,9 milhões. E isso no Olimpia a gente fica perto de atingir. Não é tão longe do que o Olimpia paga aos nossos jogadores. Estamos próximos do que se paga no Brasil.
Un nuevo mensaje de @E_Adebayor para todos los hinchas de #Olimpia.
¡Estamos listos, Adeba! #SeamosLeyenda
Você diz em relação a esses grandes nomes?
– Temos Richard Ortíz, que é muito bom, Rodrigo Rojas, que também tem salário muito importante, Antolín Alcaraz, que é mais velho, mas jogou na Premier League, um zagueiro que também tem salário importante. Contratamos Nestor Camacho, do Guaraní, a maior transferência do nosso futebol, o Diego Polenta, uruguaio que estava no Los Angeles Galaxy. Nicolas Domingo, que estava no Independiente Avellaneda… Diria que a folha salarial do Olimpia está bastante equilibrada. Trouxemos recentemente também dois meninos jovens do Libertad, o Alan Benítez, que encerrou contrato com o Libertad também. Mas, hoje, não temos tantas distâncias salariais, exceto, claro, jogadores juvenis.
Roque Santa Cruz Olimpia Sporting Cristal Libertadores — Foto: Stringer/EFE
Você pode falar qual valor dessa folha salarial?
Gastamos cerca de US$ 25 milhões por ano. São US$ 15 milhões em salários, mais US$ 10 milhões entre chegadas de novas contratações, compras de jogadores e administração do clube. Mais ou menos uns US$ 2 milhões por mês. O que dá US$ 1,25 milhões em salários por mês (mais de R$ 5 milhões).
É um time para conquistar a Libertadores, para concorrer com os brasileiros e argentinos, para bater de frente com Flamengo, River, Boca, Palmeiras? O Santos, que está no mesmo grupo…
– Hoje temos equipe muito competitiva. Mas é difícil falar isso. Você sabe que isso aqui é futebol, né? A gente pode ter uma super equipe e perder para uma equipe pequena. Você viu o que aconteceu com o Flamengo há dois anos, quando perdeu a Sul-Americana para o Independiente de Avellaneda. Acho que tem que ter equipe equilibrada em todas as linhas para conseguir coisas importantes. Temos um corpo técnico, um treinador (Daniel Garnero) que está quase dois anos e meio com a gente. Ele ganhou os quatro torneios que jogou. Isso se soma às nossas possibilidades de lutar por título, mas depois se a bola pega na trave e entra… você sabe como é.
Aqui no Brasil temos grandes clubes com enormes dívidas e dificuldades de pagar salários, com algumas exceções. Qual a condição financeira hoje do Olimpia?
– Nós pegamos o clube em 2014 com quase US$ 36 milhões em dívidas. O clube arrecadava US$ 2 milhões ao ano. Então o principal foi levantar o clube do ponto de vista administrativo e comercial. Hoje o clube arrecada quase US$ 30 milhões por ano.
De US$ 2 milhões para US$ 30 milhões?
– Isso mesmo. O clube estava quebrado. Recebíamos US$ 200 mil pelo material esportivo. Hoje nos pagam US$ 3 milhões. Não tínhamos quase nada de sócios e hoje arrecadamos quase US$ 8, 9 milhões por ano. Temos TV, patrocinadores, material esportivo. Vendemos quase 150 mil camisas ao ano, o que para o Paraguai é muita coisa. Nós fizemos equilíbrio entre pagar dívidas, levantar o nível de receitas do clube para conseguir e melhorar o time para ser campeão. Num time grande você não pode só pagar dívidas e nada mais. O povo não espera só isso. Nós fizemos grande trabalho de formação nas categorias de base. Temos a maior quantidade de jogadores convocados para as categorias de base. Temos jogadores meninos que nem joga no profissional e já estamos vendendo. Isso gera muita receita para o clube.
O Martin Silva foi vice-campeão da Libertadores com o Olimpia em 2013 e hoje joga num rival, no Libertad. Como é ver um ídolo em outro clube?
– Quando ele estava para sair do Vasco nós tínhamos contratado o goleiro da seleção paraguaia, que era o Alfredo Aguilar. Então a gente preferiu um menino mais jovem e um paraguaio, que não ocupa vaga de estrangeiro na equipe. E hoje o Alfredo é o melhor goleiro do futebol paraguaio para a gente. Ele ganhou tudo que jogou.
Adebayor e Roque Santa Cruz concorrem entre os melhores ataques da América do Sul?
– Isso (a escalação) eu acredito que depende do Mister. Aí a gente vai saber o que ele vai buscar, o que vai procurar. O Adebayor pode jogar com o Roque, mas o Derlis também pode jogar lá em cima com o Roque, como é na seleção paraguaia. Então a gente vai ter que ver como vai armar a equipe, como vai ser a partida, se é local, se é visitante. O Adebayor também pode jogar de meia-atacante, jogar pelo lado. São jogadores muito dinâmicos, não são jogadores que podemos falar são somente jogadores de área. Vamos ver como vai armar a equipe.
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