Neymar se prepara para receber chamada de retorno do Paris Saint-Germain. Objetivo, Champions League
Revelado na base do São Paulo em 2005, Hernanes é um dos jogadores do atual elenco que mais conhece o clube. Bicampeão brasileiro em 2007 e 2008, o meia está em sua terceira passagem pelo Tricolor, em um momento bem diferente do vivido na década passada.
Sem um título desde 2012, quando conquistou a Copa Sul-Americana, o São Paulo vive uma seca e deixou de ser uma referência no quesito gestão. Em entrevista ao Podcast GE São Paulo (ouça no player acima), Hernanes, aos 34 anos, opinou sobre isso e falou como o clube vem se reestruturando.
– Primeiro porque tinha uma constante, tinha pilar, base, alicerce… Eu cheguei no São Paulo em 2001. Minha primeira passagem foi até 2010. A organização que o São Paulo tinha estava sempre acima e na frente dos demais clubes, tanto de CT, quanto de estádio e organização. O São Paulo mostrava uma organização muito sólida. Tanto é que em 2002 comecei a receber ajuda de custo. Só para dar um exemplo: nunca nesse período o São Paulo atrasou um pagamento sequer. Era pontual. Parecia um computador. Ou seja, mas não é só por isso. Esse fato demonstra algo maior que está por trás – afirmou Hernanes.
– Todo mundo queria jogar no São Paulo, porque era um clube organizado, um clube que tem estrutura. Aí quando vai se perdendo aqui, aí os jogadores que vêm já não são os melhores. E depois que se vem, até poderiam ser os melhores, mas não fica muito tempo, porque foi um período que mudou muito os jogadores. Não tinha constância. É uma equação simples de entender, mas complexa de fazer. Pra você criar essa estrutura sólida não é como um passe de mágica. Requer tempo. Pelo menos desde 2018 já começou a melhorar um pouco, 2019 melhorou ainda mais e agora vemos uma constância maior de jogadores. A diretoria tentando se arrumar e se organizar. Fica muito simples: começa com a organização e a estrutura, depois os jogadores, e com a permanência dos jogadores e jogadores de qualidade. Então, acho que não está longe disso, não – completou.
Hernanes, meia do São Paulo — Foto: ADRIANA SPACA/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
Hernanes ainda abriu o jogo sobre a sua condição de reserva no time de Fernando Diniz, falou até quando pretende atuar em alto nível no futebol profissional e citou a melhora na sua condição física em relação a 2019.
Leia a entrevista:
GloboEsporte.com: Alemanha retomando futebol, e aqui cada estado com suas restrições. Você é favor ou ainda não da volta aos treinos?
Hernanes: – A vontade é imensa de voltar a treinar e em estar no ambiente social, com os companheiros no dia a dia. A vontade e a ansiedade, porque já foi tempo demais. Acho que nunca fiquei tanto tempo assim sem jogar futebol. Tenho treinado e jogado em casa, mas não é a mesma coisa. A vontade e ansiedade são grandes. A torcida também para que tudo volte ao normal… Não normal, porque esse é o ponto. Acho que as coisas não voltarão ao normal tão cedo, mas como foi citado aqui, a Alemanha já está voltando. Tem de ver como está indo lá, porque se não estiver dando certo lá é difícil que dê certo aqui, porque lá a organização é muito maior. Acho que tem de monitorar a cada dia e a cada semana, para não perder tempo, mas também não ser imprudente. Tem de ter varias mentes avaliando e lidando com a situação, porque precisamos voltar. Não é que queremos, precisamos voltar para o bem da sociedade e tudo. Mas, enfim, enquanto não for decidido, enquanto não tiver uma data precisa, vamos ficar nessa expectativa e ansiedade para poder voltar.
Em 2010, você disse numa entrevista que o que vimos era apenas a ponta do iceberg, porque tinha muito mais a aparecer. Como está lidando com seu corpo no período de parada e ainda não sabemos quando vai durar? Ainda tem algo de novo a tirar do seu corpo para ter um bom pedaço de iceberg pela frente?
– São legais as memórias (risos). As coisas que eu falei sempre com muito otimismo, porque minha vontade e determinação são maiores do que tudo. A vontade de realizar coisas grandes sempre foi muito grande, e a dedicação e preparação para fazer isso. Como tu falaste, sempre procurei extrair o máximo do meu corpo, no limite mesmo, mas ano passado foi o primeiro momento que tive um pouco de decepção com meu corpo. Talvez o excesso de confiança não só no meu corpo, mas na preparação, nos treinos e trabalhos que eu aprendi ao longo da minha carreira, me fizeram um pouco trascurar algumas coisas básicas e elementares. Então, ano passado sofri bastante, foi bem complicado.
– Esse ano eu vinha numa recuperação legal, fisicamente, me senti bem de novo com meu corpo. Foi legal. Começou legal, acho que não fiquei fora por dores de nenhum treino, então estava bem legal, recuperei meu bem-estar com meu corpo. Mas ainda tinha algumas dorzinhas, que é normal jogador conviver com ela. Agora nesse período de inatividade, assim inatividade intensa como futebol. Realmente agora estou me sentindo zero bala mesmo. Está sendo legal porque não estou exagerando nos treinos, porque não sei quando vamos voltar, então não pode dar a vida. Então estou treinando acho que na medida certa para o momento que estamos vivendo, pra quando voltar estar zerado. Fazer alguns dias de pré-temporada. Estou levando esse cuidado, não é nem preparação, em não exceder e nem fazer pouco, sempre monitorando essa quantidade de minutos pra me manter num nível aceitável de condicionamento. Está legal. Estou me sentindo bem e zerado.
O que tem feito para exercitar a cabeça? É um momento que necessita de uma sanidade mental grande. O que tem feito na quarentena?
– A primeira coisa é me abster um pouco das muitas informações, porque muita informação é maléfica. Assim como a ausência de informação. Os dois extremos são maléficos. Então primeira coisa é ver só o necessário, algumas notícias aqui e ali para monitorar, porque até então não sabemos o que é verdade e o que é invenção. Todo mundo sabe tudo. Então me abster um pouco. Saber só o necessário. Como tu falaste: para manter a sanidade nesse momento é importante fazer isso. Comecei lendo bastante. Depois acabei até escrevendo muita coisa, não só recebendo o conhecimento, mas também produzindo alguns conhecimentos. Sou muito teórico. Gosto de teorizar. Nos últimos tempos passei boa parte teorizando. Claro, tudo isso veio naturalmente pela quantidade de coisas que estava lendo. Também cuidando dos vinhos, fazendo um site novo, porque não era o que queria para os vinhos. Mas agora o mercado está mudando e tem de ter uma atenção maior com isso. Mentalmente estou nessa pegada: lendo, produzindo conhecimento, cuidando das coisas.
Hernanes treina em casa durante pandemia do coronavírus — Foto: Reprodução
Qual foi a mudança no dia a dia de atividades dos jogadores das férias para agora?
– Mesmo nas férias o departamento físico nos enviava os vídeos dos treinos, então devo dizer que continuam fazendo a mesma coisa. Teve só uma parada quando foram decretadas as férias, mas eu como continuava… Eu não me dei férias. Mantive essa pegada de treinos. Estava treinando três, quatro ou cinco vezes na semana. Não forte, mas procurei manter e ser constante. Não me dei férias. Para mim não mudou nada. A única coisa é que teria de estar vestindo a camisa do São Paulo, mas acabei esquecendo (risos).
Como você viu o corte de 50% dos salários dos jogadores e como foi recebido pelos atletas?
– Vou falar por mim. Eles nos informaram que não tinham condições de realizar o pagamento completo do meu salário, falo por mim, do meu salário. Enfim, entendendo a situação e também a minha postura diante de todo esse quadro de pandemia global. Eu desde o começo me abstive de me preocupar em fazer cálculos com as minhas perdas. Tenho comércios, restaurantes e tal. Tive de pagar salário da galera e tal, enfim, o governo da Itália está ajudando também. Então, entendendo tudo isso estou pensando mais em ajudar a quem eu posso do que ficar preocupado com quanto vou perder. Depois se der recupera, se não tenta conquistar tudo de novo. Essa é a postura com que tenho procurado enfrentar essa situação. O São Paulo está fazendo o que pode no que diz respeito a mim.
Você pensou, na vida e no futebol, quais mudanças podem ser definitivas em razão do que estamos vivendo? O que acha que vai mudar e será irremediável?
– Cara, é difícil saber o que vai mudar, porque os interesses, às vezes as pessoas que estão lá em cima, não são conhecidos. Eu vi uma notícia na Holanda, por exemplo, os clubes não pagariam o valor completo dos salários dos jogadores, iam pagar uma parte e deixar uma parte como uma previdência, uma poupança, uma proteção para uma situação como essa. Eu acho que isso era o que eu achava que teria de ser feito, não só para os jogadores, mas para a sociedade como um tudo. Principalmente aqui no Brasil, teria de ter outra, teria mudar muitas coisas, porque vemos como uma pandemia como essa pegou todo mundo de calças curtas. Gente passando fome, restaurantes e empresas fechando. Ou seja, nosso sistema político, econômico e de saúde. Claro, é algo incomum.
– Mas, enfim, não estávamos preparados de nenhuma maneira para enfrentar uma situação como essa. Realmente eu não sei o que vai mudar. Sei que a tecnologia que estava sendo um ponto… Estávamos entrando em uma nova era da humanidade, essa era tecnológica. Acho que agora vai ser implantada de vez, porque os comércios e as coisas vão ser muito mais online, tecnológicos através da internet. A mudança é que a tecnologia vai vir com força máxima. Todo mundo tem de se adaptar a essa nova realidade de mercado, de vida. Quem não conseguia comprar coisas pela internet vai ter de passar a comprar e confiar. Acho que a tecnologia vai fazer ainda mais parte da nossa vida do que está fazendo.
Você acha que essa pandemia pode deixar um sinal de alerta e é quase uma obrigação ter um aprendizado pro clube se organizar? Estamos falando de um clube gigante como o São Paulo, que está tendo muita dificuldade em função do passado recente, das administrações recentes e que agora numa pandemia escancara para todos.
– Falar assim é fogo. É complicado. O Brasil é o país do “jeitinho”. A nossa cultura… Você falar que temos de organizar e estruturar. Eu concordo. Mas aí vai voltando e no começo, na essência de tudo. Educação, mudar cultura. Não é um problema dos clubes de futebol. É um problema de tudo. Por exemplo: querem dar o feriado em São Paulo agora. Você dá o feriado, se não colocar o Exército na rua, como fez na Itália, vai dar o feriado e as pessoas vão para a praia, vão fazer não sei o quê. Então não tem como querer fazer algo, organizar as coisas sem mudar a cultura ou usar a força. Não tem saída, entende? Mas que tem de organizar, teria, claro que tem. Não só o futebol. A política, educação. É complicado querer dizer agora que tem de organizar. Sim, claro que tem. Mas o buraco é mais embaixo. O Brasil não estava preparado para isso, os clubes, as empresas, o cidadão comum. No geral. É complexo demais.
Hernanes finaliza em jogo do São Paulo — Foto: Rubens Chiri / saopaulofc.net
Por que aquele São Paulo da sua época que era referência, de 2005 a 2008, virou o clube grande brasileiro há mais tempo na fila?
– É… (pensativo), primeiro porque tinha uma constante, tinha pilar, base, alicerce de… Eu cheguei no São Paulo em 2001. Minha primeira passagem foi até 2010. A organização que o São Paulo tinha estava sempre acima e na frente dos demais clubes, tanto de CT, quanto de estádio e organização. O São Paulo mostrava uma organização muito sólida. Tanto é que em 2002 comecei a receber ajuda de custo. Só para dar um exemplo: nunca nesse período o São Paulo atrasou um pagamento sequer. Era pontual. Parecia um computador. Ou seja, mas não é só por isso. Esse fato demonstra algo maior que está por trás. Justamente isso: essa organização sólida, estrutura que funciona. E estou falando da base, porque passei cinco anos na base. Recebia ajuda de custo. Mas mesmo assim era algo pontual. Então, esse é um fator que representa toda essa organização. Depois, aí consequentemente, os melhores jogadores. Todo mundo queria jogar no São Paulo, porque era um clube organizado, um clube que tem estrutura.
– Aí quando vai se perdendo aqui, aí os jogadores que vêm já não são os melhores. E depois que se vem, até poderiam ser os melhores, mas não fica muito tempo, porque foi um período que mudou muito os jogadores. Não tinha constância. É uma equação simples de entender, mas complexa de fazer. Pra você criar essa estrutura sólida não é como um passe de mágica. Requer tempo. Pelo menos desde 2018 já começou a melhorar um pouco, 2019 melhorou ainda mais e agora vemos uma constância maior de jogadores. A diretoria tentando se arrumar e se organizar. Fica muito simples: começa com a organização e a estrutura, depois os jogadores, e com a permanência dos jogadores e jogadores de qualidade. Então, acho que não está longe disso, não.
Qual foi o maior choque que você teve daquela época para quando voltou (2017) ao São Paulo que assustou pelo lado negativo, que pensava que poderia ter evoluído e não melhorou?
– Acho que justamente de chegar e o São Paulo ser o clube modelo, mas não só modelo de como falei tudo isso, de organização e estrutura, mas de comportamento. Estava tudo bem estabelecido e definido o papel de cada um, as lideranças, os respeitos, disciplinas e comportamentos. Quando cheguei não era mais daquele jeito e talvez, claro, as coisas vão evoluindo e mudando. Imaginei que fosse devido a uma evolução natural das coisas. Uma coisa simples, por exemplo: se chegássemos um minuto atrasado… O treino era às 9h, 9h no campo. Se chegasse 9h01 já tinha uma multa para pagar. Ou seja, o São Paulo era um exemplo de comportamento. Sempre foi assim.
– Depois foi se perdendo. Assim, é um exemplo besta, bobo, mas eu falo: nas pequenas coisas você mostra o grande que está por trás. Se não funciona no pequeno, no grande não vai funcionar. Essa decadência no modelo do comportamento de um jogador do São Paulo foi o maior contraste. Eu estava acostumado, eu vivi praticamente durante oito anos no São Paulo, tinha aquela coisa de correção, de ser correto, e aí vi que não estava tão assim.
O que acha que foi a chave de mudança de 2019 para 2020 no São Paulo?
– Justamente isso. A chave da mudança foi essa, a diretoria realmente bancar e permitir que o Fernando Diniz desse sequência ao trabalho, porque uma mudança requer tempo de ajuste e adaptação. O Diniz teve esse tempo. Até pros jogadores confiarem mais, aplicar e entender melhor. Tudo passa por aí. Esse tempo de aprender, de perder essas reservas, porque algo novo você confia mas ao mesmo tempo com reservas. Depois que perde essas reservas, confia de verdade, acredita de verdade, o negócio começa a girar.
É difícil para um jogador tentar extrair de um corpo de 35 anos aquilo que ele pode dar? E não mais o que um corpo de 25 anos dava? Encontrar essa medida ou aceitar adaptações talvez tenha sido a chave recente para ficar satisfeito esse ano?
– Falo somente do meu corpo, não sei dos outros. Veja só que engraçado. Me lembro quando tinha 20 anos e eu jogava com um jogador que tinha 33 ou 34 anos. O cara falava assim. A gente dava uma ou duas voltas para aquecer, e o cara falava assim: “Caramba, depois dos 33 anos é duro, até essa máquina aquecer”. Eu tinha 20 e na minha cabeça não fazia sentido o que ele estava falando. Aí pensei: “Poxa, quero ver quando chegar aos 33 como vai ser”. Por incrível que pareça, aos 33 eu estava me sentindo melhor que aos 20. Essa foi a grande pegadinha do meu corpo. Em 2018, quando acabei a temporada na China, estava numa forma física impressionante, estava me sentindo muito bem, como nunca antes, de força e capacidade física, porque tinha encontrado a medida. Que tipo de treino fazer, o que comer, como dormir. Tudo perfeito. Encontrei aquela fórmula. Falei: “Pô, estou feito”. Encontrei o ponto que sempre quis.
– E aí veio 2019. Qual foi meu erro? Foi justamente isso. Acabei a temporada com uma lesão, e aí não me cuidei. Passei dois meses de férias. Quando voltei, não esperava que a negociação com o São Paulo fosse dar certo, então tinha programado mais dois meses de preparação. Eu ia me recuperar da lesão, me condicionar para a temporada. Deu certo, só que para mim eu tive essa prepotência de achar o que eu já tinha que fazer. “Eu não estou recuperado ainda, mas durante os campeonatos e os jogos aqui eu consigo dar um jeito”. Eu fui muito prepotente. Achei que estava no controle demais da situação, e meu corpo me pregou uma peça. Mas aprendi a lição. Até aquele momento eu não tinha problema nem de tornozelo, nem de joelho, nem de nada. Muscular, nada. Eu estava zerado. E teve esse momento que fraturei algumas coisas e me fez mal, mas como eu falei aprendi a lição.
Hernanes durante entrevista recente no São Paulo — Foto: Felipe Ruiz
Você é um jogador que quando não está bem, não joga. Quando você não conseguir atingir esse nível que você fala, de força física e de tudo que você sempre entregou, você vai ter que se reinventar dentro de campo ou você para?
– Eu acho que paro. Porque não é nem dentro de campo. Como eu falei, eu sei que sou um cara que dependo muito do meu corpo. Se eu estou bem treinado eu posso fazer coisas importantes dentro de campo. Então para eu fazer coisas importantes dentro de campo eu preciso estar bem treinado, se eu estou bem treinado eu sei os treinos que preciso fazer. Então quando eu não conseguir mais fazer esses treinos que vão me condicionar a fazer essas coisas importantes que eu pretendo fazer ainda, então eu não vejo mais sentido jogar futebol. Porque eu jogo futebol para realizar coisas. É simplesmente por isso. Quando eu ver que não posso mais realizar aí é a hora de parar.
Nesse ano você não teve lesão. A questão de estar no banco é mais técnica, opção do treinador? Como você vê essa perda de espaço no time titular?
– Eu não me vejo na reserva. Eu aceito todas as situações e entendo também. É até uma coisa hilária, porque todos os jogos que eu joguei eu consegui fazer aquilo que eu mais sei, que é finalizar. Eu finalizei de todas as formas, passou perto e fiz só um gol. Então eu estava legal, mas não foi suficiente para fazer as coisa girarem, e os resultados não vieram. No ano passado o treinador tinha ali todo o time, e quando o negócio apertava ele teve o time que deu suporte para ele, que trouxe solução para ele. Neste ano a mesma coisa: quando apertava ele escalava o mesmo time. Eu respeito isso, porque o futebol funciona assim. Time que está ganhando não se mexe, então eu respeito tudo, respeito o momento e não me vejo na reserva. Não estou satisfeito na reserva e, como falei, não vim para o São Paulo para jogar na reserva. Então não faz sentido para mim, mas como eu vejo que tenho condições de brigar pelo time titular, estou treinando e trabalhando e aguardando o meu momento para, quando eu entrar, eu fazer isso.
A temporada de 2017 ficou marcada pelo torcedor pelas suas boas atuações. Você acha que podemos ver o Hernanes de 2017 em 2020? O que é preciso fazer pra isso acontecer?
– Baseado em uma das teorias que eu escrevi aqui esses dias, a teoria do movimento, cada movimento que acontece no Universo, no mundo, é único. Ele não pode se repetir. Então baseado nessa teoria, o que aconteceu em 2017 foi único e realmente foi algo mágico. Em 2010, por exemplo, nos primeiros seis meses que eu joguei eu tinha feito dez gols e dado não sei quantas assistências, foram os melhores momentos meus. Mas a gente não ganhou nada, não fez nada e então não apareceu tanto. Perdemos na semifinal da Libertadores. Ou seja, não foi algo isolado. Na Lazio e na Inter, eu tive momentos parecidos com esse. Até mesmo no Santo André, quando eu estava na Série B.
– (Em 2008) Eu não fiz nada de extraordinário, mas foi mais pela constância de fazer coisas importantes em momentos importantes e que depois teve a conquista do título. Na somatória do geral faz com que tenha aquela sensação de “pô, o cara fez muito”. Mas numericamente não foi tão assim. Eu acredito que eu posso não repetir aquilo que fiz em 2017, mas realizar e chegar em números que já fiz antes.
Domenic Torrent (ex-auxiliar de Pep Guardiola) disse que analisando os treinadores brasileiros falta um pouco mais de ousadia em trocar esquema de jogo durante uma partida, ter variações. Você vê que o Diniz é diferente nesse ponto, em ousar nas substituições?
– É uma faca de dois gumes. Eu digo que o futebol é fogo porque o futebol aceita tudo, e isso é a coisa boa e ao mesmo tempo a coisa que estraga. Porque, por exemplo, o Simeone é um cara que não muda, ganhou vários títulos em um esquema que defendia, defendia, defendia… Então você vê que dá certo também. Aí vem um cara como o Diniz, eu me lembro de jogos, contra o Santos, tudo bem que foi expulso um cara, mas ele fez uma mudança que colocou o Antony de lateral-esquerdo, uma coisa assim. O Muricy eu acho um cara fantástico, foi fantástico trabalhar com ele, porque ele faz o simples mas que funciona, e eu gosto muito disso também.
– Para mim, acho que o cara tem que definir o que ele quer: se quer ser um cara como Simeone, que tem um sistema defensivo definido. Se quer ser como o Muricy, que não é ofensivo e nem defensivo, mas é um cara que vai no simples e é objetivo e eficaz. Um cara como o Diniz… O cara tem que se conhecer e saber o que ele pode produzir. Em casa ideia de jogo o cara tem que ter uma mentalidade diferente para ler aquela coisa do jogo. Porque não adianta o cara aplicar o estilo do jogo do Simeone e pensar como Guardiola. Não vai dar certo, vai misturar as coisas. Então eu acho que o futebol aceita todo tipo de coisa. Aceita o Guardiola, aceita o Diniz, mas o cara tem que ser bom e saber ler o seu jogo, os sinais dentro da sua estratégia de jogo escolhida, porque o futebol aceita tudo.
Já abriu as portas pro Miranda voltar?
– Eu com o Miranda não falo mais (risos). Miranda é meu amigo, joga demais, dos maiores zagueiros que joguei no futebol mundial e contente pela carreira dele e tudo que realizou. Engraçado que ele estava no Atlético de Madrid e eu na Inter, aí ele me ligou e falou que tinha a possibilidade de ir para a Inter, e eu:”Vem, vem, vai ser muito legal aqui”. Aí ele foi, e eu acabei um mês depois indo para a Juventus. Até hoje ele fala “que traíra, pediu para eu ir para lá, me chamou e vazou”. Agora não quero mais papo, não, não vou mais influenciar (risos).
Miranda e Hernanes conversam no CT do São Paulo — Foto: Divugação/São Paulo
Até quando pretende jogar e onde pensa em se aposentar?
– Eu penso que eu posso jogar até os 40 anos. Agora, onde eu vou me aposentar eu não pensei. O São Paulo é uma das possibilidades. Se eu me sentir bem, né, porque se eu não estou sendo útil eu não quero estar em um lugar que eu não estou sendo útil. Mas se eu tiver sendo útil e me quiserem, seria perfeito. Outra possibilidade seria voltar para a Itália, em outra situação que porventura acontecer. Então vejo no princípio assim. Se estiver no São Paulo sendo útil, continuarei aqui. Senão encontrarei outro lugar.
Que informação de vestiário que você tem para o torcedor que esse ano vai ser diferente?
– Até antes da parada… Agora temos que ver como vai estar depois da parada, todo mundo separado. Acho que a sinergia do grupo estava muito boa, o ambiente era muito bom e o ambiente de trabalho e profissionalismo é um bom sinal. E o elenco é bom.
Você não acha que o São Paulo é um clube que se fechou demais ao longo do tempo? Você que jogou em diversos países e não acha que falta o São Paulo se abrir um pouco mais para as mudanças que aconteceram, ter novas ideias, novas mentes, novas pessoas? Você falou de mudanças que vêm acontecendo no clube desde 2018, coincidentemente quando o Raí passou a ser o diretor. Ele cometeu uma série de erros, acertos também, não estamos induzindo a falar bem dele, mas diferente daquelas que o clube tinha desde 2001, quando você chegou. O que você espera do São Paulo para o futuro e já para o ano que vem, após a eleição?
– Eu sou um cara por natureza tradicionalista. Como falei aqui, time que está ganhando não se mexe, time que está ganhando se mexe, se melhora, se procura e eu acho que é difícil eu dizer algo agora. Você citou o Raí, citou o nome, então eu tenho gostado muito de trabalhar como Raí, que é uma pessoa correta, uma pessoa que é o perfil do São Paulo, fala uma coisa e pode confiar que ele vai… Futebol ainda aqui no Brasil é muito mais paixão, mais jogo de bola do que um trabalho técnico mesmo. Mas é muita paixão, e quando estamos falando nesse contexto o mais importante é a confiança.
– Quando o jogador confia no seu dirigente, confia na coisa, acho que a coisa tem mais chance de dar certo. Acho que pode ser aberto ou fechado, mas desde que entenda essa interação como jogador, o respeito e que entenda que faça parte desse barco, então além da capacidade técnica, porque eu não sei o que esses caras fizeram para dirigir um clube como o São Paulo, eu sei que os caras que estão agora tem uma ligação muito forte, tanto o Raí, como o Pássaro, como o Lugano, o Chapecó. Esses caras estão fechados com a gente. Se permanecer ou vier outros tem que manter essa interação de confiança. Acho que é o mais importante.
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