Opinião Jogo Aberto – 05 de Maio de 2020
Dias piores e melhores virão.
Maio chegou trazendo a promessa de dias difíceis. De um lado, ferramentas criadas por universidades de todo o país começam a apontar a velocidade de evolução da pandemia nos estados e municípios, garantindo parâmetros concretos para a avaliação segura de uma possível flexibilização. Da mesma maneira, essas ferramentas poderão apontar os momentos em que, em vez de afrouxar, seja a hora de restringir ainda mais a circulação para conter o coronavírus.
O desenvolvimento de ferramentas de medição, além de apontar caminhos, salva a sociedade de “achismos” que, em sendo equivocados, colocam em risco vidas humanas. Além disso, elas devem comunicar de forma clara ao cidadão qual é a situação real dos bairros, ruas e cidades por que pretende circular, baseada nos dados médicos e em modelos matemáticos dinâmicos.
Por outro lado, maio e junho foram definidos, ainda pelo então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, como “os meses mais duros”, e a evolução recente dos números comprova a tese. Uma das ferramentas desenvolvidas para medir a velocidade da pandemia no Brasil, inclusive, já aponta que, em maio, a maioria dos estados deve atingir a lotação máxima dos leitos de UTI da rede pública de saúde, com o colapso também do sistema privado previsto para junho na maioria do país.
Como a média de internação dos pacientes graves é alta, a falta de leitos de UTI pode ser longa, o que agrava ainda mais a situação do sistema e, caso não haja redução na velocidade de contágio, pode elevar exponencialmente o número de mortos pela doença. Com a evolução já percebida na média diária de óbitos pelo novo coronavírus, não é difícil prever que os próximos 60 dias sejam especialmente difíceis para todos no país.
Paralelamente a uma crise de saúde sem precedentes, o Brasil tenta cada vez mais evitar uma crise política que poderia tornar ainda mais dramática a situação. Com dimensões continentais e uma infinidade de particularidades regionais, o país precisa superar velhas e novas polarizações e exercitar diariamente o foco no inimigo comum: a Covid-19.
A pandemia do novo coronavírus é um sistema complexo, com muitas variáveis. Os desafios impostos a empresas e trabalhadores são duros. As incertezas provocadas pela crise política embaçam ainda mais a possível visão do horizonte. Mas a agonia maior dos próximos dias irá se abrigar nos hospitais, onde a figura do inimigo real se mostra da forma mais cruel.
É no cotidiano de quem luta pela vida que precisamos nos concentrar para aprender, de uma vez por todas, quem é o vilão a ser combatido e como um gesto individual – como ficar em casa – pode ser a arma mais eficaz para chegarmos em maior número ao fim deste pesadelo. Vai passar, mas a ajuda de todos é imprescindível.
Por Marco Aurélio