Bolsonaro foi convencido a não desafiar o STF com Ramagem
Jair Bolsonaro foi convencido no último minuto a não desafiar o STF (Supremo Tribunal Federal) nesta segunda-feira (4). A intenção do presidente era a de tentar renomear o delegado Alexandre Ramagem para a Polícia Federal.
A nomeação do atual diretor da Abin, agência de inteligência do governo, fora sustada por uma decisão provisória do ministro Alexandre de Moraes na semana passada.
Isso enfureceu Bolsonaro, que vê em Moraes um elemento contrário a seu governo no STF. O atacou diretamente. Apesar de alguns ministros terem visto excesso na decisão, considerada uma interferência indevida em atos de outro Poder, a corte se fechou em apoio ao colega.
Ao longo do fim de semana, o presidente disse a interlocutores que iria insistir no nome de Ramagem. O imbróglio institucional estaria garantido, além da confusão jurídica.
No domingo, Bolsonaro participou novamente de um ato contrário ao Supremo e ao Congresso. Segundo relatos de aliados, ele ficou entusiasmado com a aglomeração de apoiadores na praça dos Três Poderes, e teria reforçado sua convicção de nomear Ramagem.
Isso levou a uma romaria de aliados, mas não só eles, ao telefone e ao Palácio da Alvorada para tentar demover o presidente. Participaram da operação, que entrou a madrugada, ministros militares, o governador Ronaldo Caiado (DEM-GO) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
A percepção de que a agudização da crise seria intolerável, mesmo para os padrões do governo Bolsonaro, levaram por fim o presidente a escolher o plano B, o delegado Rolando Souza, que era subordinado a Ramagem na Abin.
Souza chegou fazendo exatamente o que Sergio Moro acusou Bolsonaro de querer: mudar a superintendência da PF no Rio de Janeiro, terra onde são investigadas as relações de seu clã com milícias e esquemas ilegais.
Além disso, bolsonaristas diziam nesta segunda (4) que o presidente não desistiu de indicar Ramagem, mas que ganharia tempo agora com Souza.
Situação semelhante ocorre no caso do Exército. Bolsonaro cogitou no fim de semana a troca do comandante da Força, Edson Pujol, a quem os filhos do presidente consideram distante da frequência do pai na condução da crise do coronavírus.
Um eventual substituto, Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), se mobilizou para dizer que não havia nada disso no ar quando a Folha de S.Paulo noticiou a possibilidade -que era aventada talvez para o ano que vem, na reunião que ministros e comandantes militares tiveram com Bolsonaro no sábado.
Nesta segunda, Ramos voltou a negar a hipótese, ligou para Pujol e distribuiu uma mensagem chamando a reportagem de falsa. “Sem mencionar que seria desonroso para mim e total quebra dos valores que todos nós cultuamos , como antiguidade e merecimento”, disse.
A desconfiança entre setores da ativa, que não veem com tão bons olhos a associação entre as Forças e o governo, foi reforçada no episódio.
Coube então ao ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, divulgar nota em que todos os lados da questão foram admoestados.
O problema, como notou um político próximo da área militar, é que é a segunda vez em menos de um mês em que Azevedo se vê obrigado a dizer que as Forças Armadas não querem saber de golpe. É um preço, avalia, que os fardados pagam por sua simbiose com o governo de Bolsonaro e seus arroubos autoritários.
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