Os quatro clubes mais ricos do Brasil já anunciaram cortes de salários. De onde pode vir o dinheiro novo?
O Flamengo começou a anunciar cortes de despesas e de funcionários ontem e deve demitir 62 pessoas nos próximos dias. O clube do Rio de Janeiro teve a maior receita do futebol brasileiro em 2019 (R$ 970 milhões. Em segundo lugar, o Palmeiras, que também anunciou o corte de 25% dos salários dos jogadores. A terceira maior arrecadação entre os clubes do Brasil é a do Corinthians (R$ 466 milhões), que já anunciou o corte de 70% dos funcionários e 25% dos salários dos jogadores. O quarto time mais rico do país é o São Paulo, o primeiro a cortar 50% dos salários de jogadores, comissão técnica e dirigentes.
Enquanto os quatro gigantes financeiros do país precisam fazer cortes, discute-se no Congresso o projeto de lei do deputado federal Arthur Maia (DEM-BA) para interromper o parcelamento das parcelas do Profut. Pode ser uma alternativa, mas o advogado e coordenador do programa em Gestão do Esporte da FGV/FIFA/CIES, Pedro Trengrouse, entende que se gasta energia demais para um projeto que não colocará dinheiro novo no mercado.
“O problema imediato é de liquidez e isto não vai colocar dinheiro no mercado. Não seria mais inteligente buscar meios para honrar compromissos em vez de um esforço para não pagar?”, questiona Trengrouse. Na sua visão, os clubes desperdiçam oportunidades, principalmente porque nem sequer fizeram as contas necessárias para entender quanto estão perdendo e quanto dinheiro precisarão para a retomada.
Esta oportunidade pode existir pelo estudo feito pela Caixa Econômica Federal. Aparentemente, há pouco a se arrecadar do dinheiro das loterias, como a Caixa estuda. Mas Trengrouse se lembra que as loterias deram para os clubes R$ 427 milhões nos últimos cinco anos.
Pedro Trengrouse durante a Soccerex — Foto: Divulgação Soccerex
“Como se pode ter crédito sem dar garantias? No caso das loterias, o risco é da própria Caixa, que já é responsável por toda operação e nunca vimos clubes tentando dinamizá-las”, afirma. Quer dizer, que a Caixa poderia antecipar os recursos que os clubes receberiam pelos próximos cinco anos, tendo como referência o que receberam nos últimos cinco. Além das garantias financeiras, poderia exigir que os clubes promovessem a Loteca e a Timemania, aumentando o potencial de arrecadação.
Outra possibilidade é dar como garantia os planos de sócios torcedores, que cresceram 40% nos últimos cinco anos e atualmente somam R$ 400 milhões por ano nos clubes da Série A. Nos últimos cinco anos, foram R$ 200 milhões de todos os clubes. Ou seja, a securitização de metade deste valor por um período de cinco anos poderia gerar crédito de até R$ 1 bilhão.
“Mais do que nunca, o Estado precisa arrecadar para gastos com saúde e para impulsionar a economia. Neste momento, o foco é garantir a sobrevivência da atividade econômica e qualquer proposta de renúncia de receita pública precisa estar muito bem embasada, o que inclui a demonstração clara de seus impactos socioeconômicos, tanto no futebol, quanto no Estado. Se os clubes deixarem de pagar o Profut, isto garantirá que paguem funcionários e fornecedores? Faz sentido discutir sem fazer contas”, pergunta Trengrouse
A próxima reunião da Caixa Econômica Federal com os clubes deve acontecer na próxima segunda-feira. A direção da Caixa faz o estudo, mas, de fato, os dirigentes têm se mostrado mais preocupados com a aprovação do projeto de lei para congelar as parcelas do Profut.
Não se deve discutir perdão de dívidas. A questão é saber como é possível ter crédito. As verbas de loterias e dos planos de sócios torcedores podem ajudar a viabilizar isto, é o que pensa Pedro Trengrouse.
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