Folha detalha supostas mentiras contadas na CPMI da Fake News
Em depoimento prestado na última terça-feira (11) à CPMI das Fake News, no Congresso, Hans River do Rio Nascimento, um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, mentiu à comissão e insultou a repórter do jornal Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello.
Em 2 de dezembro de 2018, reportagem da Folha de S.Paulo baseada em documentos da Justiça do Trabalho e em relatos de Hans mostrou que uma rede de empresas, entre elas a Yacows, recorreu ao uso fraudulento de nome e CPF de idosos para registrar chips de celular e assim conseguir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.
Entenda abaixo as principais informações falsas dadas pelo ex-funcionário da Yacows e veja uma cronologia dos eventos até a publicação da reportagem em 2018.
Hans River do Rio Nascimento: “Só um detalhe. Eu não encaminhei nada para a Folha. Eu entrei com a ação trabalhista e, de alguma maneira, a Folha de S.Paulo conseguiu o processo inteiro.”
Mentira. O processo é público, e Hans encaminhou para a repórter documentos, áudios e fotos sobre o processo de disparo de mensagens em massa na empresa em que trabalhou.
“Falei ‘pô, tô lançando um livro aí. Esse livro vai ser bacana’. De repente, essa jornalista entrou em contato comigo, falando a respeito do meu livro. Eu fiquei até assim, falei ‘bacana, vai me entrevistar, vai querer saber sobre meu conteúdo, né’. E ela vem até mim.”
Mentira. A reportagem procurou Hans pela primeira vez, por mensagem de WhatsApp, para falar sobre o processo trabalhista que ele movia contra a empresa Yacows.
“‘Ah, mas eu quero ver seu notebook.’ Aí ela falou: ‘eu tô com todo o seu processo na minha mão’. Eu falei: ‘mas como assim você está com todo o meu processo na sua mão e como você conseguiu meu telefone?’ E ela não informou. Até hoje eu não sei como ela pegou meu telefone e como ela teve acesso a todo o processo.”
Mentira. O processo trabalhista é público. A reportagem pediu para ver o notebook porque Hans afirmou ter muitas fotos e vídeos. Posteriormente, ele enviou esses arquivos à reportagem.
“O mais estranho é falar que eu cheguei na Folha de S.Paulo e entreguei um conteúdo que eu entreguei para o fórum trabalhista, entendeu?”
Mentira. Hans enviou à Folha de S.Paulo dezenas de fotos, vídeos e uma planilha com nomes e CPFs usados pela Yacows para registrar chips de celular e garantir o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos.
“Tanto que, quando bateu o dia seguinte, eu tava em casa e falei: ‘vou na Folha de S.Paulo para saber se ela realmente é jornalista e se ela trabalha lá’. Quando eu cheguei na Folha de S.Paulo, fui tratado de uma maneira assim, tipo: ‘mas ninguém te chamou aqui’. Mas eu falei: ‘estou procurando essa moça aqui’. E aí ela desceu, me recebeu e me levou para a Redação. Houve uma discussão na Redação. Quando eu virei as costas e fui embora, no dia seguinte, ela publicou tudo isso aí dizendo que eu cheguei na Folha de S.Paulo entregando a notícia para ela. E eu não entreguei nada para ela.”
Mentira. A primeira entrevista ocorreu no dia 20 de novembro em uma padaria em São Paulo. Hans foi até a Redação da Folha de S.Paulo para uma segunda entrevista com Campos Mello, desta vez acompanhada do repórter Artur Rodrigues. No dia 23 daquele mês, os dois jornalistas foram até a Yacows pedir um posicionamento da empresa.
Dois dias depois, Hans afirmou em troca de mensagens com a repórter que mudou de ideia e desiste de participar da reportagem. No dia 27, o advogado do ex-funcionário entra com petição de acordo trabalhista com a Yacows.
“Ela [repórter] tava perguntando se eu tinha feito a campanha jurídica do Bolsonaro e do Doria. E eu ainda falei para ela: ‘olha, você me desculpa, mas isso aqui é uma questão de trabalho, que eu trabalhei em uma empresa e tudo mais, só que o propósito de sua vinda aqui foi a respeito do meu livro, não foi a respeito do que eu trabalhei e do que deixei de trabalhar’. Então ela intercalava com essas perguntas. Então assim, eu não fiz campanha para os dois [Doria e Bolsonaro].”
Mentira. Hans afirmou à época que não sabia quais campanhas teriam usado esse tipo de disparo de mensagem. A reportagem publicada em nenhum momento diz que esses dois candidatos fizeram disparos como esses.
“Porque a própria jornalista acabou com o meu nome inteiro. Colocou no jornal falando coisa que eu não tinha nem falado. (…) Falando que eu estava fazendo campanha do Bolsonaro e eu não tinha feito, do Doria e eu não tinha feito.”
Mentira. A reportagem publicada não cita em nenhum momento que Hans trabalhou para esses dois candidatos.
“Eu vou deixar mais claro, mas muito mais claro, porque eu acho que eu não fui muito direto nessa situação da jornalista. Ela queria sair comigo e eu não dei interesse para ela. Ela parou na porta da minha casa e se insinuou para entrar na minha casa, com o propósito de pegar a matéria. Ela se insinuou para entrar, e eu ainda falei que não podia entrar na minha casa. Ela queria ver o meu computador, que inclusive eu trouxe para cá. Não está aqui, eu trouxe para o flat em que a gente está. E, quando eu cheguei na Folha de S.Paulo, quando ela escutou a negativa, o distrato que eu dei e deixei claro que não fazia parte do meu interesse, a pessoa querer um determinado tipo de matéria a troco de sexo, que não era a minha intenção, que a minha intenção era ser ouvido a respeito do meu livro, entendeu?”
Mentira. Nunca houve assédio da parte da repórter, que, desde o primeiro contato com ele, deixou claro que produzia uma reportagem sobre o processo trabalhista ligado à empresa de disparo de mensagens.
Conforme mostra reprodução da conversa pelo WhatsApp, é Hans quem convida a repórter, primeiramente para um encontro ao vivo e, depois, para um show, e cobra insistentemente dela uma resposta. A repórter não respondeu ao convite e não foi ao show.
“A jornalista apareceu justamente… tudo isso que eu tô citando aqui… vamos colocar a semana. Aconteceu a negociação do processo na segunda, terça-feira me apareceu a jornalista. Então foi feita a negociação num dia, no dia seguinte ela tava aparecendo.”
Mentira. A reportagem entrou em contato com Hans pela primeira vez no dia 19 de novembro de 2018. A primeira entrevista ocorreu no dia 20, em uma padaria em São Paulo.
Eduardo Bolsonaro: “Então, só para destacar esse ponto, eu fiquei aqui perplexo de ver, mas eu não duvido, que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, é o que a Dilma Rousseff falava: fazer o diabo pelo poder.”
Conforme destacado pela Folha, os encontros e conversas entre os dois foram registrados e a jornalista tem como provar que não se insinuou para Hans e que ele teria a chamado para sair. A profissional a todo momento deixou claro, para o então entrevista, o motivo da reportagem e que não citou nenhum político.
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