CNH Digital não empolga brasileiros e só 6% optam pela versão virtual
A praticidade da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) Digital parece não ter animado os brasileiros a deixarem de lado a versão física, tradicional. Disponível a todos os motoristas que tiraram o documento a partir de maio de 2017, ela só se tornou virtual a pouco mais de 6,8% dessas pessoas.
Dos 37 milhões de motoristas que retiraram a carteira desde o início de 2017 a maio de 2019 (37.712.271, para ser exato), só 2,57 milhões emitiram o documento eletrônico. Os números, divulgados pelo Ministério da Infraestrutura a pedido do R7, são anuais e não permitem, dessa forma, a exclusão dos habilitados entre janeiro e abril de 2017, que não têm direito à CNH Digital.
Além da CNH Digital, o aplicativo também emite, mas neste caso não para todos os estados, o Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) virtual. No esforço de modernizar seus serviços o órgão lançou neste ano o novo Portal de Serviços de Trânsito.
Com o site, o cidadão pode ter acesso a informações sobre as habilitações e veículos em uma única plataforma, como dados dos automóveis registrados no CPF do condutor e das infrações. Não é possível, no entanto, emitir multas pelo endereço.
O estado da federação que teve a maior busca por CNHs Digitais foi São Paulo, com 558.998 documentos. Se o número parece alto, representa, no entanto, apenas 4,9% das carteiras físicas retiradas desde 2017 (11.376.976). Roraima tem o menor registro de habilitações virtuais: 4.770, ou 6,2% das 76.322 carteiras emitidas no período.
O CEO da empresa de segurança digital UPX Technologies, Bruno Prado, que também é vice-presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética (Absec), acredita que falhas técnicas do aplicativo podem ter contribuído para a baixa adesão. “No início do ano, ouvi relatos de inúmeras pessoas reclamando da lentidão para receber a confirmação do cadastro, que deveria ir no mesmo instante”, afirmou.
Esse problema, aparentemente, foi resolvido. A reportagem do R7 testou o aplicativo e, após um cadastro com dados básicos do usuário, recebeu em segundos, por email, o link para ativar a conta no portal de serviços do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Bruno Prado vê problemas ainda em relação à segurança dos dados de quem opta pela CNH Digital. “Há uma única senha de acesso, não há sequer a dupla autenticação, via sms ou token. Isso deixa as informações facilmente acessíveis por um estranho”, explicou.
Outra reclamação recorrente dos brasileiros era a de que o documento eletrônico não era aceito pelas companhias aéreas nos check-ins dos voos domésticos. Mais uma questão contornada recentemente: o site das companhias Gol, Azul e Latam trazem a informação de que a CNH Digital já pode ser usada para identificar os passageiros en qualquer aeroporto do país.
O CEO da UBX Technologies, para finalizar, alerta para outro ponto contrário à versão moderna da carteira de motorista. “É um documento que o cidadão apresenta em seu celular e que dificilmente pode ser checado em detalhes, para saber se é autêntico”, explica Bruno Prado.
“Se você pensar num sujeito com a CNH vencida, basta ele alterar a data da imagem que vai apresentar a um guarda de trânsito.” Ele lembra que as carteiras virtuais têm um QR Code, que serve para atestar a veracidade das informações mostradas. “Mas eu nunca vi policial com leitor de QR Code, você já viu?”, questionou.
R7