Opinião Jogo Aberto – 20 de Junho de 2019
Sergio Moro e os senadores.
Os senadores da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado submeteram o ministro da Justiça, Sergio Moro, a uma maratona de cerca de nove horas, em que o ex-juiz federal foi questionado pelos senadores a respeito das supostas conversas publicadas pelo site The Intercept Brasil, que vem divulgando textos atribuídos a trocas de mensagens entre Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol.
Como em um debate eleitoral, havia até mesmo réplica e tréplica, e o ministro saiu-se bem, mantendo a tranquilidade e defendendo seu trabalho durante os anos que passou à frente da Operação Lava Jato.
Houve, evidentemente, momentos de elevação da temperatura, especialmente da parte dos parlamentares petistas, interessados em desmoralizar Moro e guiados por uma lógica muito peculiar, segundo a qual uma hipotética falha de conduta da parte do então juiz e do procurador levaria à conclusão de que o ex-presidente e hoje presidiário Lula não cometeu nenhum dos crimes pelos quais ele já foi condenado em três instâncias da Justiça. Humberto Costa (PT-PE) chegou a exigir que Moro renunciasse ao cargo e “pedisse desculpas ao povo brasileiro” por ter lhe tirado o direito de votar em Lula – o disparate foi tamanho que Moro optou por se recusar a responder.
Outro petista, o sergipano Rogério Carvalho, foi além e chegou a insinuar que Moro havia pago R$ 170 mil a uma empresa de media training, com o objetivo de prepará-lo para a ida à CCJ, merecendo resposta dura do ministro – praticamente o único momento em que Moro agiu de forma mais enfática. E não faltaram, sempre vindas da oposição, as comparações entre as denúncias do Intercept e a divulgação das interceptações telefônicas de Lula, em 2016, ignorando as óbvias diferenças entre uma ação criminosa de um hacker e um grampo autorizado pela Justiça e cujo conteúdo foi divulgado por ordem judicial.
Moro soube escapar dos truques da oposição e defender sua atuação Quando as perguntas tiveram por objetivo realmente buscar esclarecimentos a respeito das supostas conversas, em vez de simplesmente tirar Moro do sério, o ministro respondeu sempre guiado por algumas linhas principais. Uma delas foi o respeito à decisão do Intercept de publicar as conversas, em consonância com a liberdade de imprensa. Mas Moro também fez questão de criticar a maneira como o site vem tratando o caso, seja por não ter oferecido até agora qualquer evidência de que as conversas são verdadeiras, seja pelo que o ministro chamou de “sensacionalismo”, em que as conclusões tiradas pelo Intercept não derivam do texto exato das conversas – o caso mais recente é o dos supostos diálogos sobre uma investigação contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, assunto que não estava nas mãos nem de Moro, nem de Dallagnol, mas que foi divulgado como indício de uma combinação para preservar o tucano.
O ministro fez questão de defender a lisura de seu trabalho diante da Lava Jato e, sem admitir a veracidade das mensagens, ressaltou que as práticas que aparecem nos supostos diálogos não têm nada de ilegal ou que possa causar prejuízo aos julgamentos em andamento ou concluídos. “Eu recebi advogados em minha sala. Conversávamos informalmente. Não é adiantamento de decisão, não é conselho, mas uma interlocução normal em qualquer fórum de Justiça. O dado objetivo é que não há nenhuma espécie de conluio”, disse, lembrando que não conversava apenas com os procuradores. “Não tem nenhum aconselhamento, apenas uma interlocução”, acrescentou, lembrando que o diálogo com partes envolvidas nos processos são prática corrente e legal, como aliás já afirmaram diversos juristas. É evidente que, para os detratores da Lava Jato e defensores do “Lula livre”, nada do que Moro tivesse dito na CCJ os levaria a mudar de opinião. Mesmo antes que o Intercept publicasse os supostos diálogos, já estava consolidada, para essas pessoas, a narrativa que faz da Lava Jato uma enorme conspiração para colocar um inocente Lula na cadeia e prejudicar o PT. Moro soube escapar dos truques da oposição e defender sua atuação, enquanto ressaltou dúvidas pertinentes a respeito das supostas conversas e sua divulgação.”
Por Marco Aurélio