Ser um cara justo é problema no futebol’, diz Rodrigo Caio
Rodrigo Caio chegou ao São Paulo com 13 anos. Subiu para o profissional, virou titular, mas a falta de títulos e algumas falhas o levaram a passar de referência a descartável no clube, para torcida e dirigentes. Assim, foi parar no Flamengo, onde espera escrever nova história.
A fama de “bonzinho” o persegue e faz com que seja desdenhado por rivais, mas ele garante não se incomodar. Ao Estado, o beque mostra personalidade, admite o preconceito por sua origem nada humilde e pela polêmica com Jô. Também conta os motivos de não ter ido para a Espanha e revela mágoa com o São Paulo.
Após 12 anos no mesmo clube, como é recomeçar?
A adaptação tem sido boa e o grupo me recebeu bem, o que facilitou. Fiquei 12 anos no São Paulo e o desafio da mudança era algo grande. Por enquanto, posso dizer que estou me sentindo em casa no Flamengo.
Qual é a principal diferença entre os clubes?
A torcida do Fla é fanática e uma coisa gigantesca, nação mesmo. É sempre casa cheia.
Concorda que Palmeiras e Flamengo largam na frente pela força de seus elencos?
São dois clubes com elencos fortes, realmente, mas não são os únicos. Cruzeiro e São Paulo se reforçaram também. O Inter merece atenção e o Grêmio tem um entrosamento bom. Acredito que são equipes que podem brigar por algo e não deixam que Palmeiras e Flamengo sejam tão superiores.
Quase dois anos após a polêmica com Jô (Rodrigo avisou ao árbitro que Jô não cometeu uma falta que resultaria em amarelo para o atacante, durante clássico entre Corinthians e São Paulo), você ficou marcado como um “jogador bonzinho” e ingênuo. Você se arrepende?
Não me arrependo e me orgulho, mas respeito quem não faça o que fiz. Tentaram rotular que o Rodrigo é bonzinho. Não dou bola. O futebol que a gente vive é complicado. O zagueiro tem de ser duro e muitas vezes dar pancada para ter respeito. Procuro ser justo dentro de campo e isso me faz ser marcado, pois é apontado como algo negativo. Muita pessoas tentaram inverter e me colocar como errado, já que o importante é ganhar, não importa como.
Em 2016, um dirigente do São Paulo te chamou de “jogador de condomínio”, torcedores o ironizam até hoje, falam que você é mimado. Você acha que existe preconceito por não ter vindo de uma família pobre?
As pessoas que me conhecem desde novinho sabem que não sou nada disso. Muita gente olha para a minha cara, vê que tenho um estilo um pouco diferente no futebol e já faz uma imagem de que minha vida é fácil. Mas passei por dificuldades. Eu abri mão de muita coisa, meus amigos e família sabem. Aprendi a respeitar, pois tudo isso me deixa mais forte.
Você era infeliz no São Paulo?
Eu tive uma lesão que me tirou a chance de brigar por uma vaga para a Copa do Mundo e depois teve tudo aquilo que já foi noticiado (desavenças com Diego Aguirre). Já foi e agora quero escrever outra história.
Você quase foi para a Europa várias vezes. É verdade que foi reprovado nos exames médicos de Valencia e Atlético de Madrid?
No caso do Valencia, decidi não ir para lá. Durante a negociação, aconteceram coisas que não foram do meu agrado e achei que era melhor desfazer o negócio. Essa questão de se reprovado nos exames médicos te garanto que é mentira. No Atlético foi uma questão financeira, não entramos em acordo. Só no Barcelona que realmente fiquei perto de sair. Acertamos tudo, mas na hora de assinar, o Barça preferiu o Murillo (zagueiro colombiano), que já jogava na Europa (Valencia) e estava mais adaptado.
O que dizer da tragédia no CT do Flamengo?
Nenhuma palavra pode descrever o nosso sentimento em relação à tragédia. São vidas e sonhos que se foram. Uma grande tristeza para todos nós, mais ainda para os familiares.
Jogador fala de política?
A gente conversa um pouco sim, mas política é igual religião, melhor não discutir para evitar briga. Eu espero um Brasil diferente. A gente vê tantas coisas erradas acontecendo e pouca coisa muda.
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