OPINIÃO JOGO ABERTO – Sexta-Feira (25/01)
Corrupção e mercado Desconhecemos estudos técnicos capazes de mensurar com precisão os efeitos da corrupção sobre a persistência da pobreza em um país. Sabemos apenas que a corrupção se faz acompanhar, entre outras mazelas, da negligência, da má administração dos recursos, da elevação dos custos de obras e serviços, do rombo nas contas públicas, da desmoralização das instituições e da falência dos serviços prestados às populações carentes.
Podemos ler, no entanto, uma publicação que, embora não quantificando o impacto da corrupção na perpetuação da pobreza, distingue três fases nas quais as nações são submetidas a maior ou menor grau de corrupção. Trata-se de uma resenha de capítulo do livro “The Prosperity Paradox”, de Clayton Christensen. Segundo este autor, “pergunte aos investidores por que eles decidem não investir em determinadas regiões ou aos cidadãos dessas regiões por que seus países não estão se desenvolvendo, e a corrupção estará quase sempre no topo da lista”.
O autor argumenta que países prósperos já foram tão corruptos quanto muitos países pobres e menciona como exemplo os Estados Unidos, que se encontram na 16ª posição em termos de transparência, enquanto a China amarga um 77ª lugar. Ao se indagar o que teria propiciado tal mudança, Christensen argumenta que, embora necessárias, as leis contra a corrupção não são suficientes para estancá-la. A corrupção constitui o menor caminho, um atalho, em sociedades que oferecem poucas oportunidades de progresso individual. A partir disso, o autor distingue três fases de corrupção vividas pelas sociedades.
A primeira seria a fase de corrupção “escancarada e imprevisível”, na qual se encontram muitos países pobres, onde os seguidos escândalos de corrupção, a imprevisibilidade e a opacidade acabam por afugentar eventuais investidores. A transição da primeira para a segunda fase, a da corrupção “encoberta e previsível”, costuma ser dispendiosa econômica e politicamente, exigindo a criação de novos mercados, e não leis. Segundo o autor, a China seria o melhor exemplo de país que se encontra nessa fase, e ele se pergunta por que os investidores despejaram trilhões de dólares naquele país sabendo que ali a corrupção era generalizada.
A resposta é de que a corrupção na China é encoberta, embora previsível, o que facilita sua inclusão no cálculo do custo de fazer negócios naquele país. “Para que a prosperidade se torne sustentável no longo prazo, um país deve transitar para a terceira fase”, a da “transparência”. É nesta fase que se encontrariam os Estados Unidos, onde, na medida em que os cidadãos amealharam cada vez mais riqueza e melhores meios de sobrevivência, passaram a manifestar sua insatisfação com a corrupção, com frequência denunciada, processada e punida. Alguém tem dúvida de que o Brasil ainda se encontre na lastimável primeira fase, a da corrupção escancarada e imprevisível?