Opinião Jogo Aberto – 26 de Outubro de 2018
Da campanha, restou o perigo das antirrosas atômicas do rancor.
Daqui a algumas horas, o destino do Brasil começará a ser traçado. Conforme indicam as pesquisas, a disputa foi simbolizada por uma mão cerrada, com os dedos polegar e indicador fazendo um ângulo de 90°. A mão de Haddad, com o polegar na horizontal e o indicador na vertical, esbraveja por “Lula livre”, em afronta às decisões do Judiciário e à opinião majoritária dos brasileiros; a mão de Bolsonaro, em posição inversa, como uma arma de fogo, intimida as instituições democráticas. São os candidatos que lideram ambas as intenções de votos e de rejeição.
O ódio, a mentira, a farsa e a desídia que prevaleceram nesses últimos meses tenderão a se intensificar nas horas finais. Guardamos nosso otimismo na geladeira, para quando a primavera voltar. O tempo agora está sombrio.
Na campanha, foram destruídas as evidências de corrupção, cujo combate levaria ao renascer de um novo país, mais ético, e de políticos comprometidos com o bem-estar da população e com a responsabilidade que o voto popular lhes confere.
Na campanha foram abandonados os compromissos com a reforma da economia para retomar o crescimento e oferecer oportunidades aos milhares de brasileiros, hoje excluídos do acesso a alguma atividade que lhes permita sonhar com um futuro rosa.
Na campanha não vingaram ideias, propostas ou ações que poderiam fertilizar os sonhos de um futuro de concórdia, prosperidade e paz. Prevaleceu a violência.
O objetivo primeiro de Haddad é resgatar a liberdade de Lula, o verdadeiro candidato oculto, para retomar o poder perdido no impeachment de Dilma e, assim, derrotar o que chamam de “golpe”. Não será uma simples vitória eleitoral, mas o retorno triunfal do PT ao comando do país e suas consequências. A eleição é apenas mais uma tentativa para conseguir a impunidade dos políticos cujos meios justificam seus fins.
A arma principal de Bolsonaro está apontada para o extermínio da era vermelha. Encarnou o antilulismo. A cisão na sociedade é uma oportunidade para fazer prosperar o voluntarismo de uma candidatura populista, construída sobre os pilares do medo, da insegurança e de valores conservadores.
O futuro do Brasil está sendo decidido nesse vil confronto do “nós contra eles”, alimentado pelo ódio e pela intolerância.
A campanha, até agora exitosa, do PT comandada por Lula de dentro da prisão. Fato nunca antes visto na história deste país. A oposição ao prisioneiro cresceu nas mãos de um militar reformado que promete a ordem por meio do uso amplo e irrestrito das armas; que não admite a diversidade e contesta as instituições. Triste Brasil que sofre inerte o desenrolar de estratégias eleitorais idealizadas, de um lado, em um cárcere e, de outro, na experiência dos quartéis.
Nos céus de um país triste, perplexo e atônito, que assiste à guerra ensandecida e sem perspectivas de final feliz, nuvens negras se formam ameaçando, após a apuração dos votos, uma tempestade que despejará sobre seu solo as rosas atômicas do rancor.
A todos nos eleitores uma sugestão, que, antes de votarmos, pensemos no poema de Vinicius de Moraes, escrito em 1954. “Pensem nas crianças/ Mudas telepáticas/ Pensem nas meninas cegas inexatas/ Pensem nas mulheres rotas alteradas/ Pensem nas feridas como rosas cálidas/ Mas oh não se esqueçam da rosa da rosa/ Da rosa de Hiroxima/ A rosa hereditária/ A rosa radioativa, estúpida e inválida, a rosa com cirrose/ A antirrosa atômica/ Sem cor sem perfume/ Sem rosa sem nada”.
Só nós, eleitores, poderemos evitar que as antirrosas cultivadas pelo ódio político caiam sobre o Brasil.
Por Marco Aurelio