Opinião jogo aberto – 07 de Setembro de 2018
Atentado à democracia .
Esqueça a briga travada no grupo da família no WhatsApp, acalme os amigos à direita e à esquerda, não repita as piadas de mau gosto. Independentemente da posição política, um atentado à vida de um candidato à Presidência de qualquer país é inadmissível, inaceitável e triste. Triste porque fala mais sobre o povo e sobre o criminoso do que sobre o candidato Jair Bolsonaro.
Triste porque fala mais sobre o povo e sobre o criminoso do que sobre o candidato Jair Bolsonaro. Nós nos revelamos uma sociedade em que a democracia é tão frágil, tão volátil, que um crime hediondo cometido à luz do dia divide a nação entre os defensores da vítima e a turma do “bem feito”, “merecido”.
A reação deveria ser uma só: não poderia ter acontecido. Os candidatos rivais foram a público imediatamente, como você vê nesta edição, prestar solidariedade a Bolsonaro e cobrar punições não porque querem aparecer ou pegar carona no drama, mas porque, quaisquer que sejam seus partidos ou ideologias, sabem que a democracia levou uma facada junto com Bolsonaro. Não podemos abrigar em nosso seio, enquanto nação, tolerância para com o crime. E já deveríamos ter aprendido com a história. João Pessoa foi candidato à Vice-Presidência da República com Getúlio Vargas, em 1930. Perderam para a chapa governista de Júlio Prestes. João Pessoa era contrário à tomada de poder. Teria dito: “Prefiro dez Júlio Prestes (candidato adversário) a uma revolução”. Em julho daquele ano, foi morto a tiros. Seu assassinato foi o estopim para a chamada “Revolução de 30”, que depôs o presidente eleito e levou Getúlio Vargas ao poder. Hoje, o Brasil pode olhar para trás e se perguntar qual teria sido sua história, não fosse um tiro.
Bolsonaro, primeiro colocado na pesquisa de intenções de voto à Presidência divulgada pelo Ibope nesta semana, já vinha demonstrando sua capacidade de arrastar multidões. O crime do qual foi vítima, uma lástima para a democracia, dará argumentos a sua já farta oratória sobre o direito de o cidadão andar armado para se defender, e pode ser o que faltava para impulsioná-lo do favoritismo ao fenômeno eleitoral.
Por Marco Aurélio