‘Volte para sua casa’ diz prefeito de Manaus a vice dos EUA
Visita de Mike Pence a instituições na capital amazonense foi criticada por autoridades locais.
No último dia de sua passagem pelo Brasil, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, visitou um abrigo em Manaus que acolhe imigrantes venezuelanos.
O local, que foi adaptado para receber famílias inteiras e, assim, não forçar a separação de pais e filhos, está entre os que podem ser beneficiados pela doação de mais de US$ 1 milhão (R$ 3,8 milhões) prometida por Pence para iniciativas de acolhida a refugiados venezuelanos no Brasil – o vice não fixou prazos para a liberação da verba, entretanto.
Nem o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto (PSDB), nem o governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PDT), participaram do evento. O primeiro reclamou das exigências do protocolo de segurança, e o segundo se reuniu com ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, que está dando consultoria para um plano de segurança pública.
Em rede social, Virgílio manifestou preocupação com a presença do grande aparato militar que acompanha a comitiva americana e destacou ainda o trabalho humanitário com os imigrantes venezuelanos feito pela cidade, em comparação ao feito pelo governo dos EUA com os imigrantes mexicanos.
“Não aceito a intervenção militar, nem por brincadeira. Por favor, volte para sua casa”, escreveu. “Não tente me ensinar a ser solidário. Os mexicanos podem falar sobre o tratamento que o seu país dá a eles.”
Para o padre Orlando Barbosa, coordenador da Cáritas Arquidiocesana de Manaus (que administra o abrigo Santa Catarina de Sena, local que recebeu Pence), a visita não atendeu as expectativas.
“Ele trouxe um discurso político imperialista e usou a fala dos próprios imigrantes para criticar o governo venezuelano. Não é só uma visita humanitária, e é isso que nos deixa atônitos”, afirmou ele.
A ida de Pence ao abrigo em Manaus também gerou uma nota pública de entidades católicas que acolhem refugiados no Brasil.
O Serviço Pastoral do Migrante Nacional, o Serviço Pastoral do Migrante da Arquidiocese de Manaus e a Congregação Scalabriniana afirmaram que o vice americano representa um governo que constrói muros e separa crianças de seus pais.
“Esse gesto do governo Trump está longe de ser humanitário e de [denotar] preocupação com os direitos humanos. Remete-nos a uma política de controle e colonialismo constante dos EUA com a América Latina.”
A visita ao abrigo Santa Catarina de Sena acontece em meio à repercussão negativa da política de tolerância zero do governo Trump contra a imigração ilegal, que resultou na separação de mais de 2.000 crianças dos pais (todos imigrantes ilegais), entre elas pelo menos 51 brasileiras.
Esse foi um dos assuntos discutidos por Pence e Temer na terça-feira (26), em Brasília. Na ocasião, o pronunciamento do vice americano provocou desconforto no governo brasileiro ao cobrar publicamente uma atuação mais enérgica do Brasil visando isolar o ditador Nicolás Maduro na Venezuela e colaborar na resolução da crise migratória no continente.