PF mira grupo que cobrava cerca de R$ 50 mil para 'atravessar' migrantes ilegalmente para os Estados Unidos
A Polícia Federal (PF) fez uma operação nesta quinta-feira (31) contra um grupo suspeito de “aliciar” migrantes da Ásia para entrar ilegalmente nos Estados Unidos. As vítimas pagaram cerca de R$ 50 mil pela “ajuda” na travessia que inclui uma passagem terrestre pelo deserto.
O esquema funcionou na seguinte forma: o grupo “facilitava” a entrada dos migrantes no Brasil pelo Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, e posteriormente os conduzia para o Norte do país. Cidades como Assis Brasil (AC) e Guajará-Mirim (RO) foram utilizadas para acessar países de fronteira, como Peru e Bolívia, por onde as vítimas seguiram até a fronteira do México com os EUA.
Foram mobilizados 104 policiais federais para cumprir 35 mandados de busca e apreensão e 7 de prisão preventiva em Porto Velho (RO), Guajará-Mirim (RO), São Paulo (SP), Jardinópolis (SP), Sumaré (SP), Montes Claros (MG), Boa Vista (RR), Assis Brasil (AC) e Manaus (AM). Os mandados foram expedidos pela 7ª Vara Federal de Porto Velho.
O grupo criminoso aliciava migrantes, principalmente de Bangladesh e Nepal, oferecendo-lhes rotas clandestinas e perigosas até os EUA. As vítimas pagaram aproximadamente dez mil dólares (cerca de R$ 50 mil) pelo serviço, sem saber dos riscos envolvidos no trajeto.
A PF ainda assinou acordos para que os suspeitos gerenciassem pagamentos, produzissem documentos falsos e coordenassem o transporte de migrantes. As investigações apontam para a participação de agentes de viagens, taxistas, hoteleiros e “coiotes” que atuavam no apoio financeiro e logístico do esquema.
A operação foi desencadeada após uma série de prisões em flagrante de “coiotes” ao longo de 2023 na fronteira com a Bolívia. Em 2024, foram realizadas seis prisões em flagrante, além do resgate de 22 migrantes do Nepal e da Índia em Guajará-Mirim, que estavam em condições de vulnerabilidade.
Uma abandonada pelos amigos e roubada e violentada
As operações da PF contra o esquema de contrabando de migrantes começaram após dois casos que tiveram repercussão internacional:
Lenilda dos Santos morreu quatro meses antes de realizar o sonho de ser avó de uma menina. — Foto: Redes Sociais/Reprodução
Lenilda veio de Vale do Paraíso (RO), em agosto de 2021, para cruzar a fronteira entre México e EUA. Ela e o grupo ficaram aproximadamente um mês em uma residência, esperando “o melhor momento” para fazer a travessia.
O grupo começou a atravessar o deserto dia 6 de setembro. Porém, no dia seguinte, Lenilda já estava muito debilitada por conta de cansaço, sede, calor e fome. A filha dela conto aog1que ela chegou a desmaiar de mal estar.
Segundo suas últimas conversas com a família, Lenilda foi abandonada por amigos de infância com quem viajava e o coiote que deveria ajudar na sua travessia. Ela comentou que o grupo decidiu seguir a viagem, mas prometeu que voltaria para buscá-la.
Em dezembro de 2021, os familiares de uma jovem de 24 anos usaram as redes sociais para denunciar que ela tinha sido sequestrada, atacada e abandonada por coiotes durante a travessia do México para os EUA.
Eles pediram ajuda para arrecadar dinheiro e pagar o tratamento da vítima que chegou a ficar em coma em um hospital do México. Segundo a Polícia Federal, ela foi roubada e estuprada por “coiotes”.
Na época, a descrição da vaquinha relatava que um jovem “caiu em mãos erradas, foi violentada de todas as formas” e foi encontrado em estado grave, amarrado, próximo a uma fazenda.
A trajetória que o jovem traçou tinha a mesma estratégia de Lenilda: ir até o México através de uma empresa de viagem e depois tentar concluir o caminho a pé.