Renato projeta resto de Brasileiro do Grêmio, comenta futuro e responde até de aposentadoria
A relação especial de Renato com o Grêmio não é novidade para ninguém. E ganhará um acréscimo no domingo, quando completa dois anos do retorno ao clube em 2022. Justamente em um jogo especial pelo volta do Tricolor para a Arena contra o Atlético-MG. Na quarta passagem pelo clube, Renato explica o que o time ainda pode no Brasileirão deste ano, aponta o desgaste atual com torcida e sobre o futuro, inclusive com possibilidade de aposentadoria em entrevista exclusiva para os repórteres Eduardo Gabardo e Marco Souza, de GZH.
O ídolo gremista mantém a postura dos últimos anos de só discutir a renovação de contrato próximo do fim do ano. Renato comentou até sobre a possibilidade de aposentadoria para “aproveitar a vida”.
Confira trechos da entrevista
O que mais te marcou neste período de dois anos desde teu retorno?
Acredito que desde o primeiro dia da minha volta foi marcante, até porque voltamos à Série A, depois, ano passado, quando muita gente não acreditava na gente, além de ter ganhado o Campeonato Estadual, não conquistamos o Brasileirão por detalhe. Esse ano aqui é muito atípico, né? Muita coisa aconteceu no momento que chegou a enchente. Foi um ano realmente que a gente aprendeu bastante, principalmente em termos de sofrimento. Nesses dois anos tivemos alegrias, tristezas, e vamos ver o que o homem lá em cima nos proporciona, até porque faltam aí mais três meses de Brasileirão.
São tantas histórias em tão pouco tempo que parece que foi mais intenso do que só dois anos, né?
Concordo plenamente com você. Parece que tem quatro, cinco anos de tantas histórias que eu vivi nesses últimos dois anos. Coisas boas, coisas ruins, isso aí faz com que a gente muitas vezes pare até no tempo, mas sou profissional. A gente tem que saber lidar com tudo isso.
Você acha viável conseguir uma vaga para Libertadores agora que parece que o risco de rebaixamento ficou para trás?
Confio bastante no meu grupo. Sei onde esse grupo pode chegar. Sei que é uma coisa difícil a Libertadores. É difícil, mas não é impossível. Temos 16 jogos pela frente.
O que você leva em conta no momento de definir se você vai abrir uma negociação para renovar?
Não parei para pensar nisso. Tenho uma amizade muito grande com o (Alberto) Guerra, que é um grande presidente, diga-se de passagem. Tenho uma grande amizade com o Antonio Brum, que é o vice-presidente, o executivo, Luis Vagner (Vivian). A gente troca bastante ideias, mas nunca trocamos ideias sobre esse assunto, até porque eu nem gostaria. Meu foco é totalmente no meu grupo, no Brasileirão, para ver onde realmente o Grêmio pode chegar esse ano.
Além da questão de renovação ou não, você também pensa em eventualmente se aposentar?
Somente o tempo vai me falar a hora de parar. Costumo falar que caixão não tem gaveta. Tenho de aproveitar a minha vida também, mas no momento a minha cabeça está voltada totalmente para o meu grupo. Ano que vem, ou daqui a dois anos, sei lá, (quando) me sentir cansado ou sentir que eu tenho que aproveitar mais a minha vida.
Mas o que causa esse desgaste maior?
Procuro sempre ajudar os outros departamentos justamente para as coisas andarem. Se um departamento não andar, vai estourar dentro do campo. Sou um dos primeiros a chegar, um dos últimos a ir embora, justamente para controlar os departamentos. Eu ajudo as pessoas, mas ninguém me ajuda no meu trabalho. Então é desgastante, mas eu faço isso com o maior prazer. Troco ideias com as pessoas. Falo sempre para o próprio presidente, que tenho muitas funções aqui dentro do clube, que eu deveria ter 15, 20 salários já que eu faço o trabalho de muita gente. Aprendo com eles, eles aprendem comigo, enfim, é assim que a gente faz um time.
Você já recebeu várias propostas do Brasil e do Exterior. Você não aceita estas consultas por estar no Grêmio?
Sair do Brasil nunca foi um sonho meu, até porque, felizmente, não preciso. Esse que eu não iria conseguir me adaptar lá fora. Tive propostas recentemente de dois grandes clubes do futebol brasileiro, como eu obtive também a semana passada para o próximo ano. Não estou preocupado com isso. Minha única preocupação sempre foi com o Grêmio, e vai ser assim até o final do ano.
Nesta da semana passada, de clube aqui do Brasil mesmo ou de fora?
É que tem muita gente já tentando se organizar para o ano que vem. Mas é aquilo que eu falei, não converso, não troco ideias com ninguém. Mas o meu objetivo e minha cabeça está totalmente voltada aqui para o Grêmio.
As opiniões da imprensa e torcida não te influenciam?
Ninguém vai escalar o meu time. Não vou mudar a minha convicção, uma opinião minha, porque fulano acha que tem de botar ciclano. Se eu achar, vou mudar, não porque ele está falando, e sim porque eu vou pela minha cabeça. Não é possível que o cara que não vem nunca ao treino, nunca foi treinador, nunca jogou futebol, será que esse cara entende mais do que o treinador? Aí é brincadeira, né? É muito fácil, você não vê o jogador durante a semana, não sabe como foi o treinamento, enfim, ele quer opinar e acha que sabe tudo naqueles 90 minutos.
De onde surgiu a ideia daquela foto com Geromel e o Kannemann?
Foi minha ideia. Falei que levaria o Geromel e o Kannemann comigo, são dois jogadores respeitados dentro do clube. Seriam três ídolos que vão para uma foto dessa, porque era importante o torcedor olhar essa foto e acreditar. Se os ídolos do clube estão juntos, a gente tem que estar juntos porque naquele momento era difícil, por tudo que o clube vinha passando nas competições. Eu juntei as mãos justamente para mandar um recado para a nossa torcida, que nós estamos juntos com ela, que era muito importante esse torcedor estar junto com a gente também. E a partir daquela foto, o torcedor acreditou ainda mais na gente, que era um momento difícil, e a partir daquele momento pode ver que o Grêmio decolou.
O que dá para imaginar da Arena, do estádio e do gramado também?
Muitas pessoas ainda falam que o gramado não está bom, outras pessoas falam que está bom. Enfim, quem tem que ver é quem vai pisar no campo no domingo. É lógico que a gente torce sempre que a grama esteja boa, em perfeitas condições, mas eu acredito que vai ser difícil que isso aconteça. Eu sei que o pessoal trabalhou de todas as formas para que o gramado possa estar na melhor maneira possível, mas a gente sabe que infelizmente 100% vai estar difícil.
Como você quer ser lembrado pelo torcedor no futuro?
Um vencedor, porque eu me considero um vencedor. Como jogador e como treinador. Eu conquistei como jogador, cheguei como ninguém no Grêmio nos anos 80. Ajudei a conquistar os maiores títulos e depois, no meu retorno para o clube como treinador, ajudei a sair da fila depois de 15 anos, conquistando títulos importantes também. Nasci para vencer. Eu sou um vencedor. Os números não negam. Quero ser falado sempre pelas pessoas. Esse cara passou aqui e fez muito pelo clube, como jogador e como treinador. Sem dúvida alguma, será muito difícil de bater meus números juntando, obviamente, jogador com treinador. Quero ser lembrado por isso. Esse cara passou aqui, foi um vencedor e fez muito pelo clube.
Você acredita ter errado em algumas das decisões recentes?
É difícil de você agradar todo mundo. Claro que eu erro. Mas eu não vou entrar onde eu errei, onde não. A gente aprende com os erros. Mas se eu fosse o cara perfeito, ia ganhar tudo. Como eu não sou um cara perfeito, sou humano, vou errar também. Não é porque quando não vem quatro, cinco jogos, “ah, esse cara não presta mais, não é bom”. Seja ele quem for, seja jogador, seja treinador. Você tem de ver o currículo do cara, o que esse cara já fez, o que ele pode fazer, o que ele representa. Essas coisas todas.
Isso te incomoda mais agora ou te incomodava mais quando começou a sua carreira ou até as suas passagens pelo Grêmio?
Incomoda mais agora. Olha os números. Olha os resultados. Olha o que eu já fiz pelo clube. O cara tem direito de falar assim: “Acho que o Renato tem de ir embora”. Ok, tem. Mas do que ele tira isso? Ele tem que falar o porquê. “Ah, não, mas teve essa sequência de quatro, cinco jogos, foi eliminado da Copa do Brasil, da Libertadores”. Tá, mas o Renato foi o único culpado, então, de tudo isso? Então tá, daqui a pouco a gente chega numa vaga de Libertadores no Brasileirão e aí o Renato é o máximo?
O que você imagina para o seu futuro?
Eu posso jogar em todas essas áreas, viu? Tranquilamente. Mas eu, sinceramente, não parei para pensar nisso. O pensamento é agora. Talvez ali na frente, quando eu estiver cansado de trabalhar, que não vai muito longe. Quero também viver a minha vida, né? Posso repensar junto à minha família, pensar, de repente, em ser um diretor técnico, ou comentarista. Só que o comentarista, eu vou te falar uma coisa, hein? Daqui a pouco vou fazer uma crítica, e eles vão falar: “Está vendo? Está lá no ar-condicionado criticando a gente”. Mas essa crítica vai ser construtiva.
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