Favoritismos #32: dicas, palpites e chances de vitória no Brasileirão
Um campeonato de tirar o fôlego em um momento de jogo sobre jogo que embaralha a todo momento a classificação das equipes chega a um ponto em que estar ainda na luta por uma das seis vagas para a Libertadores é, antes de tudo, um alívio.
Dois jogos reúnem equipes nessas condições, confrontos diretos por uma vaga na competição continental: Palmeiras x Athletico-PR e Fortaleza x Flamengo.
Nos demais, haverá sempre uma equipe que entrará em campo ainda com o nobre objetivo de se manter na Série A em 2024. Serão três confrontos diretos em busca de se afastar do horizonte de eventos do Z-4 que leva para a Série B: Cruzeiro x Internacional, Coritiba x Goiás e Santos x Cuiabá, que está “mais tranquilo”, com 40 pontos, três a mais que o último time fora do Z-4.
Os outros quatro jogos reúnem um time que busca Libertadores contra um ameaçado pelo Z-4, ainda que remotamente (principalmente em caso de vitória nesta rodada: Grêmio x Bahia, América-MG x Atlético-MG, Bragantino x Corinthians, Vasco x Botafogo, este último o grande jogo da rodada, na segunda-feira.
Analisamos 101.204 finalizações cadastradas pela equipe do Espião Estatístico em 4.106 jogos de Brasileirões desde a edição de 2013 que servem de parâmetro para medir a produtividade atual das equipes a partir da expectativa de gol (xG), métrica consolidada internacionalmente (veja a metodologia no final do texto).
Favorito >> Grêmio
- O Bahia tem potencial para surpreender em um contra-ataque porque é o segundo time que mais fez gols dessa forma (dez), sendo o quarto que mais finalizou assim (66). O Grêmio é o mandante que mais permite finalizações de visitantes nessas jogadas (35) e já sofreu três gols assim (12ª média, mas estará enfrentando um especialista: o Bahia é o segundo visitante que mais finalizou em contra-ataques (33) e o que mais fez gols assim (seis).
- O Grêmio é o melhor mandante do Brasileirão (11 V, 2 E, 2 D, 78%), com o melhor ataque caseiro (média de 2,00 gols por partida). O Bahia é o quinto pior visitante (3 V, 3 E, 10 D, 25%), com a sexta pior defesa forasteira (1,69). O Bahia só não sofreu gol em três dos 16 jogos fora de casa (19%), 13ª marca defensiva. O Grêmio está com a maior eficiência mandante, um gol a cada 7,2 tentativas, e o Bahia, com a terceira menor resistência defensiva visitante, um gol a cada 8,4 conclusões contrárias.
- O Grêmio é muito dominante quando recebe o Bahia, com seis vitórias e uma derrota nove confrontos pela Série A desde 2006. Agora, o Grêmio é o mandante que mais sofre finalizações (14,9), mas consegue a segunda maior resistência, um gol sofrido a cada 16,0 conclusões contrárias. O Bahia tem a 14ª eficiência visitante, um gol a cada 12,3, com média de 10,0 finalizações feitas por jogo. A métrica de xG indica que o nível de ameaça do Bahia vem despencando profundamente (linha preta do gráfico de xG). O do Grêmio busca um crescimento.
- Dois times chegam ao gol principalmente em trocas de passes, com sete dos últimos dez gols marcados assim. Sofreram metade dos últimos dez assim, com tendência de alta nos últimos sete gols sofridos (quatro e cinco de sete).
Favorito >> Atlético-MG
- O Atlético-MG do técnico Luiz Felipe Scolari é neste momento a equipe que sofre o menor nível de ameaça médio por jogo, com as características de todas as finalizações sofridas por jogo representando uma ameaça de 0,61 gol sofrido (linha vermelha do gráfico de xG). Nenhum outro time restringe tanto assim a produtividade ofensiva adversária.
- O América-MG tem a menor resistência defensiva mandante do Brasileirão, um gol sofrido a cada 6,4 conclusões contrárias e média de 11,9 finalizações sofridas, um potencial para sofrer dois gols. O Atlético-MG tem a maior resistência defensiva visitante, um gol sofrido a cada 21,2 conclusões contrárias.
- Foram cinco jogos nos pontos corridos de 2006 para cá com este mando, e o América-MG ainda não conseguiu vencer: dois empates e três vitórias do Atlético-MG.
- Ambos usando a bola aérea para chegar ao gol, em cinco dos últimos seis gols. O América-MG sofreu após bolas altas quatro dos últimos seis gols sofridos (dois dos últimos seis). O Atlético-MG sofreu quatro dos últimos sete gols a partir de jogadas aéreas.
Favorito >> Palmeiras
- O desafio da partida estará concentrado em fechar os espaços a todo momento: o Palmeiras é o segundo mandante que mais finaliza (17,1 vezes por jogo), e o Athletico-PR, o quinto visitante que mais faz isso (12,2), embora os aproveitamentos sejam medianos. Defensivamente, o Athletico-PR é o segundo visitante que menos permite finalizações caseiras (12,3), e o Palmeiras, é o mandante que menos permite a construção forasteira (7,9).
- O Palmeiras tem histórico muito favorável quando recebe o Athletico-PR, com nove vitórias e quatro derrotas em 15 jogos com este mando pela Série A desde 2006. Desta vez, o Athletico-PR é o terceiro time que mais faz finalizações certas por partida (8,3), e o Palmeiras, o primeiro (8,4). São os dois times com mais gols feitos de dentro da área: o Athletico-PR com 41, e o Palmeiras, 44.
- O Athletico-PR marcou e sofreu seis dos últimos dez gols a partir de jogadas aéreas, sendo que levou quatro dos últimos cinco gols assim. O Palmeiras vem de uma sequência de três gols marcados usando bolas altas e sofreu assim quatro dos últimos sete gols.
Favorito >> Bragantino
- Mano Menezes chegou há oito jogos, e o Corinthians não perde há seis, com quatro empates (e duas vitórias nos últimos três jogos). Nos últimos oito jogos, o Bragantino venceu seis e empatou uma. Em três jogos pela Série A desde 2006, houve dois empates e uma vitória do Corinthians.
- O Bragantino tem a robustez defensiva que o Corinthians busca: entre os mandantes, o Bragantino tem a quinta maior resistência defensiva mandante, um gol sofrido a cada 13,9 conclusões contrárias, e o Corinthians tem a sétima resistência forasteira, um gol sofrido a cada 12,2 conclusões contrárias. A grande diferença é que o Bragantino só permite aos visitantes em média 9,3 finalizações, terceira melhor marca caseira, enquanto o Corinthians é o visitante que mais permite finalizações de mandantes (17,9 por jogo).
- O Bragantino tem a defesa mandante que menos sofreu gols (dez; média 0,67), terminou nove dos 15 jogos em casa sem sofrer gol (60%), melhor marca defensiva caseira. O Corinthians não levou gol em quatro de seus 15 jogos fora (27%), sétima marca forasteira.
- São dois times que estão fazendo mais gols trocando passes rasteiros, o Bragantino fez sete dos últimos dez gols, e o Corinthians, seis. O Corinthians sofreu sete dos últimos dez gols (e cinco dos últimos sete) a partir de jogadas aéreas. O Bragantino sofreu metade dos últimos dez gols em trocas de passes rasteiros.
Favorito >> Cruzeiro
- Em 13 jogos pela Série A com este mando, o Internacional não venceu desde 2006: foram sete vitórias do Cruzeiro e seis empates. O Internacional tinha um histórico assim contra o Coritiba, que caiu domingo passado. Em um campeonato de instabilidades tão profundas, não será surpresa se o Internacional quebrar a escrita neste domingo, no Mineirão. Desta vez será um confronto de dois ataques que com esta configuração de mando têm sido ineficientes: o Cruzeiro tem a pior eficiência mandante, com um gol a cada 31,3 tentativas (e 14,6 chances por jogo), e o Internacional está com a terceira pior eficiência visitante, um gol a cada 14,6 chances, com média de 9,7 por jogo.
- O Cruzeiro é o quarto pior mandante (4 V, 5 E, 6 D, 38%), com o pior ataque caseiro (0,60) e a segunda melhor defesa (0,73). Não sofreu gol em seis dos 15 jogos em casa (40%), sexta melhor marca. O Internacional é o décimo mandante (3 V, 5 E, 7 D, 31%), com o segundo pior ataque forasteiro (0,67) e a oitava defesa (1,27). Não levou gol em quatro dos 15 jogos fora (27%), sétima marca.
- O Cruzeiro tem chegado mais ao gol a partir do jogo aéreo, com cinco dos últimos oito gols marcados assim, e foi assim que o Internacional sofreu quatro dos últimos cinco gols. Tem um potencial para o Cruzeiro aí. O jogo do Internacional é rasteiro no melhor sentido da palavra: marcou assim oito dos últimos dez gols, e foi dessa forma que o Cruzeiro sofreu quatro dos últimos seis gols (dos últimos dez gols sofridos, o Cruzeiro sofreu seis a partir de jogadas aéreas).
Favorito >> Flamengo
- O Fortaleza é o oitavo mandante do Brasileirão (8 V, 4 E, 2 D, 67%), com o oitavo ataque (1,64) e a nona defesa (0,93). Não sofreu gol em cinco dos 14 jogos em casa (36%), décima marca. O Flamengo estará desfalcado de Gerson e Bruno Henrique, expulsos na rodada passada, ainda assim, é o quarto melhor visitante (7 V, 4 E, 5 D, 52%), com segundo ataque forasteiro (1,56), mas a 13ª defesa (1,56). Não sofreu gol em apenas três dos 16 jogos fora de casa (19%), 13ª marca.
- O Flamengo tem a maior eficiência visitante, um gol a cada 7,3 tentativas. Com essa eficiência compensa a baixíssima produtividade em seu nível de ameaça ofensiva, que retornou ao menor “patamá” da competição, potencial de 0,83 gol, só melhor do que o alcançado às vésperas da chegada do técnico Tite: na rodada 26 a média do potencial do ataque em cinco jogos era 0,80, como mostra a linha preta do gráfico de xG. Este será o quinto jogo sob o comando do ex-técnico da seleção brasileira.
- A partida tem alto potencial para pênalti porque já foram marcados nove para o Flamengo (maior marca do campeonato) e sete para o Fortaleza (terceira maior marca). E as equipes também estão entre os times que mais tiveram pênaltis marcados contra si: foram seis contra cada um deles. Foram marcados pênaltis em dez jogos do Fortaleza e em 15 do Flamengo, inclusive no confronto entre eles no primeiro turno, vencido pelo Flamengo por 2 a 0: Thiago Maia fez pênalti em Lucero. O jogo estava 0 a 0, Yago Pikachu cobrou, e o goleiro Matheus Cunha defendeu.
- O Fortaleza tem potencial para chegar ao gol usando bola aérea porque marcou assim sete dos últimos dez gols, e o Flamengo sofreu metade dos últimos dez gols pelo alto, sendo quatro dos últimos sete. O Flamengo fez sete dos últimos dez gols trocando passes rasteiros; o Fortaleza só sofreu um dos últimos sete gols pelo jogo rasteiro.
Favorito >> Goiás
- Coritiba teve marcados nove pênaltis a favor e contra, segundas marcas tanto para o bem quanto para o mal. A favor do Goiás já foram cinco, décima marca, contra, quatro.
- São duas das quatro equipes que menos ficam com a bola no Brasileirão: o Coritiba é o quarto time com menor posse (45,2%), e o Goiás, o segundo de menos posse (44,5%). Como ficam pouco com a bola (e o adversário muito), são também duas das quatro equipes que mais cometem faltas: o Coritiba é o quarto mais faltoso (15,9), e o Goiás o mais faltoso (16,9). Curiosamente, o Coritiba é o time com mais cartões amarelos recebidos por atletas (103; média 3,32), e o Goiás, o 11º (85; média 2,74). Contando os desarmes, o Coritiba é o segundo time mais combativo (32,1 ações), e o Goiás, o sexto (31,1).
- Jogo com potencial acentuado para gol a partir de jogada aérea porque o Coritiba fez e sofreu seis dos últimos dez gols dessa forma, e o Goiás marcou cinco dos últimos seis gols assim. O Goiás ainda levou quatro dos últimos sete gols a partir de jogadas aéreas.
Favorito >> Vasco
- O Botafogo encontra dificuldades quando visitante contra o Vasco, que venceu seis e perdeu apenas duas em 11 jogos pela Série A de 2006 para cá com esta configuração de mando. Desta vez, o Botafogo é o melhor visitante do Brasileirão (7 V, 3 E, 4 D, 57%), e o Vasco, o sexto pior mandante (6 V, 2 E, 7 D, 44%).
- Como mostra a linha vermelha do gráfico de xG, na média de cinco jogos, desde a rodada 23 a defesa do Botafogo teve uma queda imensa em sua capacidade de evitar a produção de ameaças dos adversários. O técnico Bruno Lage saiu após a rodada 25, início desse movimento, que pareceu tê-lo incomodado tanto após a derrota para o Flamengo.
- Essa queda de rendimento é uma verdadeira encruzilhada para o Vasco, que precisará atacar em busca dos três pontos que podem tirá-lo do Z-4 que leva para a Série B, porém, há forte potencial para gol do Botafogo em contra-ataque: o Botafogo já marcou 12 gols assim, maior marca do Brasileirão, e o Vasco já sofreu sete, sexta pior marca. Foi como mandante que o Botafogo fez mais gols em contra-ataque (nove), mas o Vasco precisará buscar o ataque e não poderá se descuidar porque estará frente a frente com um especialista. O Vasco é o quarto mandante que mais permite finalizações de visitantes (13,5), e essa vulnerabilidade é um problema contra uma equipe tão eficaz.
- O Vasco trocou passes rasteiros para marcar quatro dos últimos seis gols, e o Botafogo fez o mesmo ao fazer cinco dos últimos sete gols. O Vasco sofreu quatro dos últimos seis gols em jogadas rasteiras. Contra a defesa do Botafogo, é o jogo aéreo que causa maiores estragos, com sete dos últimos dez gols sofridos dessa forma.
Favorito >> Santos
- Como mostra o gráfico de xG, o Santos mudou de patamar no nível de ameaça que seu ataque passou a impor por partida, mas ao custo de deixar a defesa mais exposta. O Cuiabá também apresenta queda na capacidade de reduzir o nível de ameaça adversário, para seu pior patamar, com a agravante de o ataque ter regredido a seus tempos de baixa produtividade.
- Uma dificuldade que o Santos pode enfrentar é vir apostando muito nos contra-ataques, o segundo mandante que mais fez isso (39 finalizações, média 2,6), com oito gols marcados, também segunda média mandante. O Cuiabá é o sétimo visitante que menos sofre finalizações em contragolpes (1,47) e só sofreu um gol assim fora de casa, embora desta vez esteja enfrentando um especialista.
- O Santos tem a quarta maior eficiência mandante, um gol a cada 8,9 tentativas, com a quinta menor média de finalizações (13,6). O Cuiabá está com a terceira maior resistência defensiva forasteira, um gol sofrido a cada 15,5 conclusões contrárias e média de 14,5 finalizações sofridas por jogo. Não sofreu gol em cinco dos 15 jogos fora (33%), sexta melhor marca defensiva visitante.
- O Santos usou bolas aéreas para marcar seis dos últimos oito gols; o Cuiabá sofreu quatro dos últimos dez gols dessa forma e marcou cinco dos últimos sete gols levantando a bola. O Santos sofreu oito dos últimos dez gols em trocas de passes rasteiros.
Metodologia
Favoritismos apresenta o potencial que cada time carrega no Brasileirão 2023 comparando o desempenho nos últimos 60 dias como mandante ou visitante em todas as competições e nos últimos seis jogos oficiais, independentemente do mando. Também são consideradas as performances defensiva e ofensiva das equipes no jogo aéreo e no rasteiro. Os cálculos referentes à influência de bolas altas e de troca de passes rasteiros entre gols marcados e sofridos só consideram as características dos gols marcados em jogadas. Gols olímpicos, cobranças de pênaltis e de faltas diretas não contam para determinar a influência aérea ou rasteira por serem cobranças feitas diretamente para o gol.
Apresentamos as probabilidades estatísticas baseadas nos parâmetros do modelo de “Gols Esperados” ou “Expectativa de Gols” (xG), uma métrica consolidada na análise de dados que tem como referência 101.204 finalizações cadastradas pelo Espião Estatístico em 4.106 jogos de Brasileirões desde a edição de 2013. Consideramos a distância e o ângulo da finalização, além de características relacionadas à origem da jogada (por exemplo, se veio de um cruzamento, falta direta ou de uma roubada de bola), a parte do corpo utilizada, se a finalização foi feita de primeira, a diferença de valor mercado das equipes em cada temporada, o tempo de jogo e a diferença no placar no momento de cada finalização.
O desempenho de um jogador é comparado com a média para a posição dele, seja atacante, meia, volante, lateral ou zagueiro, e consideramos o que se esperava da finalização se feita com o “pé bom” (o direito para os destros, o esquerdo para os canhotos) e para o “pé ruim” (o oposto). Foram identificados os ambidestros, que chutam aproximadamente o mesmo número de vezes com cada pé.
De cada cem finalizações da meia-lua, por exemplo, apenas sete viram gol. Então, uma finalização da meia-lua tem expectativa de gol (xG) de cerca de 0,07. Cada posição do campo tem uma expectativa diferente de uma finalização virar gol, que cresce se for um contra-ataque por haver menos adversários para evitar a conclusão da jogada. Cada pontuação é somada ao longo da partida para se chegar ao xG total de uma equipe em cada jogo.
O modelo empregado nas análises segue uma distribuição estatística chamada Poisson Bivariada, que calcula as probabilidades de eventos (no caso, os gols de cada equipe) acontecerem dentro de um certo intervalo de tempo (o jogo). Para cada jogo ainda não disputado, realizamos dez mil simulações.
*A equipe do Espião Estatístico é formada por: Gabriel Leonan, Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, João Guerra, Leandro Silva, Roberto Maleson, Roberto Teixeira, Valmir Storti e Victor Gama.