OPINIÃO JOGO ABERTO: 07/07/2017
Está tudo dominado: falta gente na rua Tinham razão as crianças de rua que um dia me afirmaram, num jargão próprio da bandidagem, estar “tudo dominado”.
É isso que constatam os brasileiros ao verem ameaçadas as conquistas no combate ao crime organizado que defenestra as instituições públicas nacionais. Apesar da advertência de algumas autoridades de que o apoio popular é indispensável ao sucesso das ações de investigação e punição dos envolvidos no assalto aos cofres públicos, não há sinais de que a população esteja disposta a sair às ruas em sua defesa.
Onde andam as lideranças dos movimentos sociais que sacudiram o país nos últimos anos? Onde andam os intelectuais e formadores de opinião que, outrora, estiveram à frente de grandes manifestações públicas? Com certeza, estão recolhidos em ambientes que compartilham suas crenças ideológicas, sem a coragem de dar a cara a tapa e reconhecer que andaram errando, e muito.
Parecem ignorar que, acima dos interesses partidários, o que está em pauta é a oportunidade de passar o Brasil a limpo e dar um tiro de misericórdia nas práticas cartoriais e patrimonialistas herdadas do passado colonial e que, hoje, convivem em harmonia com os arrivistas e a “modernidade” do crime organizado.
Como afirma Max Weber, uma vez instaladas, as burocracias resistem firmemente a mudanças. O que dizer daquelas dominadas pelo crime organizado, fontes de privilégios e enriquecimento ilícito? Seus vasos comunicantes são infindáveis e terminam por colocar no mesmo saco empresas públicas e privadas, situação e oposição, esquerda e direita. A ironia fica por conta das alianças de conveniência que se estabelecem quando fica claro que não há perseguição ou investigação seletiva alguma.
Apegados a seus modelos teóricos ideológicos, economistas e cientistas políticos deram pouca ou nenhuma atenção à investigação do papel da corrupção sistêmica na reprodução do subdesenvolvimento econômico, na vergonhosa condição de nossa infraestrutura produtiva e social, nas alianças políticas espúrias ou no desempenho dos partidos políticos. Para eles, a corrupção não passa de fenômeno circunstancial e desprezível, objeto demagógico do discurso reacionário.
A estupidez é tanta que a senadora, hoje presidente do Partido dos Trabalhadores, chega a dizer em plenário que, entre apoiar o mercado e amparar os pobres, seu partido optou por estes últimos. Ora, como é possível ter desenvolvimento social sem um mercado dinâmico, capaz de gerar emprego e renda? Trata-se da mais equivocada das crenças nutridas pela esquerda, que aposta na ruína do mercado como condição para alcançar o socialismo. Se o mercado é o vilão, não há por que criar as condições para seu florescimento. Ao contrário, o importante é aumentar impostos, sufocar as empresas, criando empecilhos a sua sobrevivência, exigir propinas, mantendo-as sob controle e, finalmente, levá-las à falência, como fizeram primeiro com as empresas públicas, diretamente controladas pelo governo.
Fonte: Marco Aurelio