OPINIÃO JOGO ABERTO : 23/05/2017
Um país sem destino.
Como acreditarmos que o Brasil tem chance, que boas perspectivas estejam movendo-se para se oferecerem como caminhos da recuperação econômica, da política como construção democrática da representação popular, da evolução da agenda de reformas, do crescimento e da promoção social? Que teremos, como membros de nossos Poderes, cidadãos comprometidos com a decência, com a legalidade, com o interesse coletivo, moralmente preparados para o exercício de suas funções, e não bandidos que agem desavergonhadamente em nome de grupos econômicos das piores propostas, à custa do pagamento ajustado de fartas propinas? Que nossos partidos políticos sejam o resultado da convergência de ideias, de programas, de compromissos, e não um ajuntamento de aproveitadores, fraudadores, marginais, idiotas (alguns poucos), desonestos, ladrões?
Partidos que não sejam confortáveis acampamentos, quase todos com guichês ativos para receber propinas levadas como compensação pela obtenção de favores de toda espécie e sempre ajustados ao interesse de quem paga mais?
Que o Judiciário seja uma garantia de respeito à ordem constitucional, e não uma farsa, muitas vezes um faz de conta, um instrumento, em infindáveis casos, para dar forma e face de legalidade a toda sorte de demandas, muitas produzidas por meio de decisões de censuráveis combinações? Claro que há exceções; em tudo elas existem. Há ainda, felizmente, os que divergem e não vendem suas consciências, mas é tamanho o descrédito das instituições que já não sabemos mais onde estão as exceções. As instituições, sem ressalvas, estão todas falidas.
Diariamente o Brasil é acordado por denúncias as mais abjetas, muitas recebidas até como improváveis pelo desavisado cidadão de bem, que já não sabe mais que destino tomar.
O presidente da República, acusado de receber na intimidade da residência oficial um cidadão taxado de corrupto, sonegador de tributos, líder de um cartel que o tornou o maior produtor de proteína animal no mundo, protagonista de bilionárias falcatruas, frequentador de sua sala, vem a público para dizer que não renunciará; que o deponham, se quiserem. Quem, ele, Michel Temer, não disse, mas certamente não será o Congresso que temos, cravejado de investigados de tudo, em Brasília.
Não será também o Judiciário, que teria poder para tal porque este não consegue sequer ajustar-se em torno de princípios comuns.
Lembremo-nos das denúncias de suspeição de seus membros e do deplorável acordo firmado pelos irmãos Batista, que lhes possibilitou, sem qualquer ressalva, deixar nas mãos do Ministério Público Federal gravações fajutas, fotografias, vídeos, como suporte à versão que lhes interessava repercutir. É muito, mas o país quer saber mais. O Brasil quer saber por que esse grupo irrigou com valores milionários campanhas e partidos políticos e o que obteve com tal prática. Quer saber como e por que a JBS contratou bilionários empréstimos do BNDES, remunerados com juros insignificantes, dinheiro decotado do Orçamento nacional para custear empreendimentos em mais de cem países, frustrando sua aplicação no inadiável custeio de políticas públicas. Somos um veleiro em alto-mar. E nos roubaram a bússola.
Fonte : Por Marco Aurelio