‘Temo que o Bruno termine o serviço que não conseguiu lá atrás’, diz mãe de Eliza
Sônia de Fátima Moura, de 51 anos, mãe de Eliza Samudio, está perplexa com a saída do goleiro Bruno da prisão após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), sob a alegação de que não havia “justa causa” para que ele permanecesse preso até o julgamento de seu recurso em segunda instância. Ela teme pela segurança da família, principalmente por causa do neto, o Bruninho. O menino, de 7 anos, não sabe que o pai matou a mãe e está sem ver TV.
O processo está emperrado no TJ-MG, que deveria, em tese, ter sido mais rápido ao apreciar a apelação de defesa do goleiro, condenado por um júri popular em 2013 a mais de 22 anos de prisão por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver e cárcere privado no caso Eliza Samudio. Sônia, que vive de vender salgados, critica o clube que empregou o goleiro e as pessoas que vão aos treinos para fazer selfie com ele. “Os valores destas pessoas são invertidos. Só pode ser isso. Não é possível, tem limite.”
O que a senhora achou da soltura do Bruno? Isso ocorreu porque ele é famoso?
SÔNIA – Um absurdo. Fiquei incrédula quando vi. Mas sabia que isso poderia acontecer porque minha advogada, a doutora Maria Lúcia, já havia me alertado. Mas não estava preparada para isso. A gente nunca está preparada para uma coisa dessas. Acho que o fato dele ser famoso pode ter influenciado sim, mas vejo mais como resultado de uma estratégia da defesa, que entrou com recurso e tem atrasado o processo na segunda instância com manobras dentro da lei.
– Como a senhora recebeu esta notícia? O que veio a sua cabeça primeiro?
Primeira coisa que pensei foi no meu neto. Foi proteger o meu neto. Porque agora vai voltar toda a história na televisão e eu preciso evitar que ele veja.
– E como a senhora faz?
Televisão em casa não se liga mais. Pelo menos por enquanto. Graças a Deus estou conseguindo. Não tenho saído muito de casa e estou sempre ao lado dele.
– E na escola? Como evitar que comentem algo com ele?
Crianças comentariam se os pais falassem algo. Porque esse assunto não deveria ser comum para criança nessa idade. E os pais são solidários a mim, quando começam a falar algo sobre isso, entre eles, eu já dou uma olha de canto de olho. São pessoas conhecidas e não têm o habito de ficar falando sobre o assunto.
– A senhora acha que não está sendo feita justiça?
Esta sendo feita em parte. Não no geral. Porque acho isso um privilégio. Inclusive porque, veja o absurdo e a tamanha falta de consenso, a polícia fez escolta para ele lá em Varginha (MG). E eu? Hoje me encontro presa e sem escolta. Ele está solto e, ainda por cima, tem escolta.
– A senhora se sente presa? Tem medo do quê exatamente?
Lógico que tenho medo. Não era para ter? Lá atrás, a minha filha com uma criança no colo, não tinha nem quatro meses, foi pega, morta, teve o corpo sumido, esquartejado e dado aos cães e acontece o que acontece… ele andando livre, leve e solto, dando risada da cara da sociedade, da cara da Justiça, com a maior cara de cínico e ainda tirando sarro. Claro que tenho medo. Ele dá entrevista com a maior cara lavada, sem o menor respeito pela vida humana. Ele é sarcástico.
– A senhora teme que ele te procure…
(interrompe a pergunta) Eu temo que ele mande os comparsas dele me procurar. Mas não para um diálogo. Procurar para acabar o serviço que lá atrás ele não terminou.
– A senhora se refere ao Bruninho, seu neto?
Bruninho e eu, né? Quem está na frente deste processo e batendo de frente com ele sou eu.
– Ele disse em uma entrevista que quer se reaproximar do filho…
É ridículo e um absurdo. O que ele vai falar para o filho? “Você me perdoe, tá, porque lá atrás eu tentei matar você quando ainda estava na barriga da sua mãe. Mas ela, mesmo zelosa, porque procurou recursos para te criar, novamente sofreu… Me aproximei dela, mandei matá-la e também a você. Sabe, filho, mas hoje estou aqui e quero o seu perdão”. É isso?
– O seu neto sabe da história dos pais? O que ele te pergunta?
Ele sabe desde que pequeno que a mãe dele morreu, virou estrelinha e está com o papai do céu. Do pai dele sabe sim… Em parte. É uma criança que está com 7 anos e veio me perguntar do pai porque queria conhecê-lo. Claro que ia pedir isso, é do ser humano querer conhecer os pais. Disse a ele que o pai, infelizmente, não daria para ver. Ele quis saber por quê. Eu disse que estava preso. Ele novamente me perguntou sobre o motivo, se era por roubo ou por causa de drogas. Eu disse, nem uma coisa nem outra. E ele falou: “Então ele matou”. Quando eu disse que ele não matou mas que era responsável direto pela morte de uma pessoa, que mandou que fizesse, Bruninho falo que era a mesma coisa.
– Ele sabe que o Bruno foi condenado pela morte da mãe?
Isso ele não sabe. Estou preservando o meu neto ao máximo de tudo isso que esta acontecendo. Não quero que o meu neto venha a perder a inocência e a infância dele. Basta o Bruno ter tirado a mãe. Não sei como será quando ele souber.
– O que a senhora acha do Boa, o clube de futebol que contratou o Bruno?
(risos) Um absurdo. Estão querendo, aparentemente, estar na mídia. Realmente estão mas de uma forma negativa, que coisa mais feia. Deveriam pensar em outra maneira para valorizar o trabalho do time e do grupo.
– E tem um monte de gente que vai ao treino para tirar foto com o goleiro…
Os valores destas pessoas são invertidos. Só pode ser isso. Não é possível, tem limite. Eu jamais permitiria que meu filho, um neto, tirasse foto com um assassino cruel, que não tem dó. O Bruno está aparecendo em tudo quanto é lugar, mas de uma forma negativa também. Acredito que essas pessoas, que tiram selfie com ele, não estão enxergando isso. Só para lembrar: ele é um assassino. Que banalidade.
– O que a senhora acha que vai acontecer com ele?
Se depender de mim e da Justiça, porque eu ainda tenho um restinho de esperança na Justiça, ele volta para a cadeia e rápido. E que cumpra um bom tempo lá a sua pena. É isso que eu gostaria que acontecesse e também é o que eu acho que vai acontecer. Sabe o que eu me pergunto? Será que o meu neto nunca saberá o que ele fez com os restos mortais da minha filha? É justo isso?
– A senhora viu o que o Bruno disse ao sair da prisão, que se ficasse mais tempo não iria trazê-la de volta?
Sim. O que ele quis dizer com isso? Outra coisa que não admito, ele disse que espera que eu seja melhor avó do que mãe. Ele não conhece a minha história e não sabe da minha vida. Ele mesmo falou que meu neto foi concebido em cinco minutos em uma suruba. Então, como soube da minha vida em cinco minutos?
– Ele diz que merece uma chance. A senhora acha que ele deveria ter essa chance?
Qual a chance que deu a minha filha? Nenhuma. Teve tempo para desistir até o último segundo mas não…Ter uma nova chance, não falar do passado… Porque o dele é cruel e imundo. Fica fácil. Depois que cumprir a pena, pode sim, é assim. Mas também ele pode cometer um crime de novo. Porque ele não mudou. A hora que ele tiver a chance de nos matar, ela fará. Talvez seja essa a chance que ele está pedindo. É preciso colocá-lo de novo na prisão. Não ha arrependimento nessa pessoa. Nem um pingo. Continua arrogante como sempre foi.
– Como a família vive hoje?
Apreensiva.
– Tomaram alguma providência em relação a segurança?
Minha segurança é Deus. Contamos com a ajuda de estranhos e vizinhos. É o que eu posso fazer. Não ando com escolta.
Fonte: Extra