Enxugando gelo
Foi o maior massacre já havido numa penitenciária brasileira depois do Carandiru, onde, em 1992, 111 presos foram mortos. Com a diferença de que, naquela ocasião, os assassinatos foram perpetrados por policiais militares, enquanto agora presos se mataram uns aos outros.
O número de pelo menos 56 presos mortos caracteriza um massacre. Corresponde ao de baixas numa batalha. E irá engrossar o índice de homicídios que são cometidos anualmente no Brasil e que tornam o país palco de uma sangrenta e interminável guerra civil não declarada.
Para o Estado, o fracasso é absoluto. Depois do Carandiru, ele não pode mais fazer uso exagerado da força para controlar uma rebelião. Ao contrário dos presos, que podem, inclusive, usar de máxima selvageria para mostrar quem manda de fato nos presídios brasileiros.
Em outubro passado, comentando os homicídios no Norte, o ministro da Justiça negou haver uma guerra de facções no país. A resposta veio agora, em Manaus, onde uma facção literalmente caçou os membros de outra facção para afirmar seu domínio naquele espaço.
Confirmou-se o que se sabe: que as autoridades não têm mais o controle dos presídios brasileiros, dominados hoje por gangues rivais, que fazem dos espaços, custeados pela sociedade, territórios seus, estendendo a eles as suas atividades do mundo exterior.
O presídio de Manaus é administrado por uma empresa privada. Já em outubro, uma inspeção do Conselho Nacional de Justiça considerou-o péssimo. Agora, o massacre desfaz o mito de eficiência da gestão privada, em que se acreditou diante da falência da administração pública.
Frente à catástrofe, o governo federal vai repassar R$ 44 milhões para o governo do Amazonas recuperar a unidade. Ou seja, de acordo com a política de aprisionamento dominante, será melhorado o equipamento para o crime prosperar, com novos presos e novas rebeliões.
O país está enxugando gelo, quando deveria estar focando as fontes da criminalidade.
Fonte: otempo