Foram apenas 23 minutos em campo e 15 dias de convivência no CT. Para Éderson, tudo no Corinthians ainda é muito novo. Há três meses em casa em função da paralisação, o volante tenta “quebrar o gelo” com o grupo e com o técnico Tiago Nunes nos momentos das reuniões virtuais.
Foi assim, por exemplo, no último encontro, apenas com os meio-campistas do elenco e comissão técnica, quando o treinador pediu para Éderson falar e dar sua opinião para os demais jogadores.
– Temos falado com Tiago, sim. Manda mensagens ou vídeos com coisas táticas que ele quer acelerar, para que todos voltem com o mesmo pensamento. Na semana passada, fez reuniões de parte defensiva e ofensiva. Falou sobre questões que podem funcionar na volta. Sempre deixa aberto a todos darem opinião e sugerir pautas – disse Éderson, em ligação com o GloboEsporte.com.
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Tiago Nunes e Éderson em um dos poucos treinos do volante com o grupo — Foto: Daniel Augusto Jr/Ag. Corinthians
– Nas primeiras reuniões (virtuais), eu fiquei mais observando. Pessoal falando. Fiquei na minha. Nessa última, só com os meias, ele (Tiago) pediu para eu falar. Falei um pouco, mas ainda tímido. Cheguei agora. Falo mais com uns do que com outros, mas falei o que pensava, sim.
“Antes de nota oficial, falam conosco”
Logo em seus primeiros meses de Corinthians, Éderson já pôde se deparar com a situação do clube. A diretoria do Timão espera a liberação do valor referente a venda de Pedrinho ao Benfica, de Portugal, para quitar os três meses de salários atrasados com o grupo. Para o volante, o importante é a direção tratar todos os temas com clareza, sem esconder nada.
– Algumas coisas eles passam para os líderes, que nos passam. Outras são com todos os jogadores. Depende do momento. O que importa é que todos estão sendo verdadeiros, abrindo todas as questões, salários, tudo. Falam sempre ouvindo cada jogador. Temos observado. Concordamos em reduzir salário para que não demitissem e estão cumprindo a parte deles – citou.
– Acho que, se a gente pode ajudar, não tem problema. Tem pessoas que precisam um pouco mais. E a gente não tem problema em ajudar. Todo mundo vai ter dificuldade nessa pandemia. Vai faltar um pouco aqui e um pouco ali. O grupo escolheu ajudar. A diretoria está abrindo todas as questões que precisam ser abertas a nós. Antes de qualquer nota oficial, falam conosco.
Sem mágoas do ex-clube
Na última semana, um ex-gestor do Cruzeiro chamou Éderson de “imoral” por entrar na Justiça para deixar o clube em função de atrasos salariais. Com boa parte de sua trajetória no futebol ligada à Raposa, o volante prefere não entrar em polêmicas e diz não guardar mágoas.
– Tento não falar muito, porque é algo que passou. Não guardo rancor. Falou que fui imoral, mas teve coisa que faltaram para mim e nem por isso fiquei reclamando ou comentando em entrevista. Nunca falei nada do clube. Sou grato por tudo. Foi algo que passou. Mas futebol é o meu ganha pão, sustento da minha família. Sempre que usei a camisa do Cruzeiro, me dediquei a ela. Sempre fui ético – lamentou.
– Como falei do Corinthians, é importante as pessoas do clube passarem a verdade. Falar “olha, era para isso ter acontecido, mas não vai dar. Momento difícil”. Não aconteceu lá no Cruzeiro. Não dava certo e a gente ficava no escuro. Faltaram obrigações além de salário. Mesmo assim, não saio falando o que faltou. Página virada, fui muito feliz lá e desejo o bem para o clube.
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Éderson em ação pelo Cruzeiro: saída foi conturbada — Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro
Confira a entrevista exclusiva com o volante Éderson:
GloboEsporte.com: são quase três meses de paralisação. Como e onde passou todo esse período?
Éderson: – Fiquei com a família da minha esposa. Nessa quarentena, estou procurando treinar. Ocupar minha cabeça com jogos, com notícias. Sempre tentando me manter o mais ocupado possível. Situação difícil que todos estão passando no mundo. Cada dia que passa, vem notícia ruim. Particularmente falando, não acho muito bom ficar vendo. Procuro me entreter com coisas boas, treinos, conhecimento, coisas boas. Procurei sair de São Paulo. Estou só eu de diferente com a família dela aqui. Tem espaço grande aqui. Adaptei para treinar todos os dias. Por enquanto, estou morando com a sogra (risos).
Todos estão com saudades do futebol, mas você, particularmente, deve estar mais. São apenas 23 minutos jogados em 2020…
– Parou tudo. Antes, fiquei um tempo parado. Quando voltei à rotina, teve a pandemia. Antes dela, joguei poucos minutos contra o Novorizontino, pegando a sequência de treinos ainda. Quando achei que iria embalar, parou tudo. Complicado.
Crê que por isso você pode voltar atrás dos demais ou acha que todos vão voltar no mesmo nível?
– Na minha opinião, todo mundo volta igual. Claro que estou há mais tempo parado, mas para se condicionar todos vão começar no mesmo nível. Também ficar longe de tocar na bola, sensação, todo mundo tem igual. Isso é algo que a gente ganha no dia a dia. Isso todos vão sentir. A parte física é o mais simples, treinar firme todos os dias. Como a gente sempre faz. Relação com bola mesmo temos que ter mais paciência por estar parando. Às vezes, o passe não sai como espera, como antes. Só isso que vai demandar mais paciência. No dia a dia, vamos ganhar.
O que deu para viver de Corinthians nos poucos dias de clube que teve?
– Foram 15 dias. Com foco na minha preparação física. Foi mais parte física, dois períodos alguns dias, outros dias um período intenso. Quando eu ia treinar com o grupo, era só uma parte ou outra. Só perto de ser convocado para o jogo é que comecei a treinar com o grupo todo o tempo. Logo depois, tive a estreia. Foi mais para sentir e voltar mais rápido nessa questão de jogo. Ritmo de jogo. Fiquei um tempo sem jogar. Para acelerar isso.
Os preparadores físicos são os que você mais conhece, então…
– Minha relação com eles até que é muito boa. O pessoal que eu mais vejo. Pegando firme, fazendo trabalho mais intenso comigo. Com o grupo, também. Depois da preparação física melhor, eu fui treinando com o grupo e consegui trocar algumas palavras com alguns jogadores. Me abrindo um pouco mais. Me receberam bem, me deixaram com liberdade para opinar e questionar. Foi muito importante na minha adaptação.
– Cássio, nosso capitão, me deixou muito livre, solto, para ajudar o grupo no que eu achasse ou visse. Por estar chegando. Brincadeira, também, sempre brinca comigo. Isso me ajudou muito.
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Cássio lamenta gol sofrido contra o Água Santa, pelo Paulistão — Foto: Ale Vianna/Estadão Conteúdo
Acha que as reuniões virtuais têm efeito prático?
– Eu acho que não é tão efetivo quanto a gente estar no dia a dia. Como Tiago faz de passar vídeo antes do treino e chegar no campo e colocar em prática. Estamos fazendo, tentando colocar na cabeça. Funciona. Chegar no mesmo pensamento de que a nossa estratégia de jogo vai ser essa. Quando retornar, vamos ter que colocar em prática. Informação vamos estar com ela. Ajuda, sim.
Já viveu algo parecido com isso? De ficar tanto tempo longe do clube.
– Não. Só uma lesão mesmo, uma vez só. Mas nenhum momento. Nada parecido com isso. Com lesão, tem data prevista para retornar. Trabalha para chegar nessa data. Ficar no escuro, sem saber se vai piorar, nunca.
E o que mais tem feito para se ocupar? Tem dicas de filmes, jogos, livros?
– Eu estou viciado num jogo que chama Warzone. Como eu falei, pego jogos, e meu irmão me apresentou esse jogo e eu fiquei viciado. Só quando tenho que fazer algo mesmo que saio dele. Tenho visto algumas séries, mas são todas bem conhecidas, então acho que todo mundo sabe. Vikings é muito bom, Prison Break, também. Eu gosto muito de The Walking Dead, e agora estou assistindo com a minha esposa Os Cem.
Ge
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