OPINIÃO JOGO ABERTO: 15/02/2018
O fosso aberto entre sociedade e política Assim foi o começo.
Os protestos contra o aumento nos preços das passagens de ônibus na cidade de São Paulo, em 2013, foram o estopim para manifestações que se alastraram pelo país, expondo insatisfações diversas.
Uma demanda específica deu início a ondas que se expandiram rapidamente. O Brasil acordou sob o poder anônimo de convocatória das redes socais. Fato novo aqui, mas que já vinha ocorrendo mundo afora. As ruas se transformaram em grandes feiras de reivindicações, algumas específicas – passe livre, resistência à PEC 37, defesa do direito de aborto e combate à cura gay –, outras genéricas – melhoria na educação, na saúde e na segurança.
Com ampla variedade de temas, participação ativa da juventude e rejeição aos partidos políticos, as manifestações receberam a simpatia crescente da população. O povo indignado foi às ruas cobrar eficácia nas políticas públicas e fim da corrupção, sonhando com uma utopia política sem os políticos.
As autoridades públicas foram pegas de surpresa. Sem interlocutores, governadores e prefeitos se anteciparam a reduzir, unilateralmente, os preços de alguns tributos. Na esfera federal, com o governo Dilma recebendo altos índices de aprovação popular, a ilusão era outra. Acreditava-se que as aspirações da nova classe média estavam suficientemente atendidas. Que mais queriam eles além de emprego e consumo? As respostas da presidente foram vagas, como as propostas de reformas políticas alheias à essência das manifestações. Os políticos haviam perdido a sintonia com a sociedade.
Essas manifestações populares se distinguiam de outras por seu caráter espontâneo, sem vínculo com movimentos sociais organizados ou com partidos políticos. Eram demonstrações que clamavam por mudanças na forma de se fazer política no Brasil.
O tempo passou. Centradas no combate à corrupção e na rejeição aos políticos, as manifestações foram minguando; um impeachment afastou a presidente; a economia entrou em profunda recessão; aumentou o desemprego; o ex-presidente Lula foi condenado por corrupção; e o presidente Michel Temer, que havia dado uma guinada de 180° na condução da política econômica, manteve as velhas e carcomidas práticas políticas, já condenadas pela população. Por fim, fruto de crescente desilusão e do cansaço, a população abandonou as ruas.
O fosso entre governo e sociedade se alargou, aumentando as incertezas em relação aos resultados das eleições deste ano. Não restam dúvidas sobre a insatisfação da população e seu desejo de mudança, nem, tampouco, sobre os esforços da classe política em buscar mecanismos que lhe permitam manter o controle dos processos que possam salvá-la de seu iminente debacle. Contudo, pouco se pode antever a respeito do comportamento dos eleitores.
Se a população voltar espontaneamente a se manifestar nas ruas antes das eleições, aprofundando ainda mais o fosso entre sociedade e política, 2018 será um ano de grandes emoções, e um novo tempo poderá florescer do pleito de outubro.
Fonte: Por Marco Aurelio