18 mil brasileiros foram detidos tentando entrar nos EUA
O número de imigrantes brasileiros detidos ao tentar atravessar a fronteira dos EUA aumentou mais de dez vezes em um ano e chegou a 18 mil casos em 2019.
Segundo dados divulgados pelo Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês), esse é o recorde desde 2007 e representa um aumento de 600% em relação ao pico registrado desde então, de 3.252 pessoas, em 2016.
No ano passado, pouco mais de 1.600 brasileiros sem documentos tentaram chegar ao território americano pelo México, mas foram presos pela ICE (Agência de Imigração e Alfândega, na sigla em inglês).
No ano fiscal de 2019 –de outubro de 2018 até setembro do ano vigente–, esses índices subiram para 18 mil pessoas e surpreenderam inclusive autoridades do governo brasileiro que trabalham com processos de imigração.
Na avaliação de integrantes do Itamaraty, a escalada exponencial pode ser explicada por ao menos três fatores: o primeiro é a política agressiva de Donald Trump contra a entrada de estrangeiros sem documento no país, atrelada à dificuldade cada vez maior de o governo americano emitir vistos para pessoas nascidas no Brasil.
O boom de brasileiros, dizem eles, pode estar relacionado à retórica do republicano de que vai construir um muro na fronteira com o México e a ações de sua administração que têm, de fato, acelerado a deportação expressa de imigrantes em situação irregular, por exemplo.
Dessa forma, cria-se a sensação de que a imigração para os EUA deve ser feita agora ou nunca, acelerando processos que poderiam estar sendo planejados a médio ou longo prazo.
Apesar do discurso de boa relação entre Trump e o presidente Jair Bolsonaro, diplomatas afirmam que a emissão de vistos –inclusive de turista– para brasileiros tem demorado mais que o habitual e que pessoas nascidas em determinadas cidades, como Governador Valadares (MG), têm tido restrições quase absolutas na hora de requerer documento para viajar aos EUA.
A região mineira tem relações históricas com os americanos –uma fábrica dos EUA foi instalada ali na época da Segunda Guerra– e se tornou um dos locais sob holofotes dos agentes de Trump.
Além disso, a crise econômica do Brasil, com previsões de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) abaixo de 1% para este ano, junto com o que pode ser chamado de profissionalização dos serviços de coiotes no país são apontadas como os outros dois fatores para o grande fluxo de brasileiros que querem chegar aos EUA.
O governo americano já divulgou os números preliminares de 2020, relativos a outubro e novembro de 2019, e a tendência de alta se manteve entre os brasileiros, com 3.200 casos registrados. Destes, 90% são famílias, 9% são adultos sozinhos e 1% de menores desacompanhados.
Funcionários do Itamaraty afirmam que os casos de aluguel de crianças brasileiras para tentar atravessar a fronteira também têm aumentado.
Nessas situações, adultos cruzam os países com menores de idade e se entregam às autoridades migratórias, evitando deportação imediata, já que as crianças não podem permanecer sozinhas durante os trâmites de repatriação.
Em outubro, o jornal Folha de S.Paulo revelou o caso de Miguel (nome fictício) que, aos quatro anos, fora detido com um homem e uma mulher que não eram seus pais biológicos. Ele passou mais de três meses em um abrigo em Chicago.
Na semana passada, diante do crescimento do número de detenção dos brasileiros, principalmente no estado do Texas, o diretor do Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras, Mark Morgan, afirmou que vai implementar regras para barrar os imigrantes do Brasil “com o mesmo nível de compromisso que criamos iniciativas para resolver o problema com as famílias do Triângulo do Norte” –em referência a El Salvador, Guatemala e Honduras, países de grande fluxo migratório para os EUA.
Entre as medidas, está colocar as pessoas para esperar por meses em cidades fronteiriças até a solicitação de asilo que, em muitos casos, é negado independentemente do mérito.
De acordo com a agência americana, 977.509 pessoas detidas na fronteira com o México em 2019, um aumento de 88% em relação a 2018.
O pico foi em maio, mas os números absolutos têm caído após acordos migratórios entre os americanos e governos do México, Guatemala, Honduras e El Salvador.
Fonte:Folhapress